Uma coisa é certa: o Espírito veio para os Açores e veio com muita força. Provavelmente o anti-ciclone é manifestação desse "vento" irrequieto que nos faz acreditar. Na Terceira, a ilha de Jesus, o povo acredita e não precisa de explicações. O culto do Espírito Santo é intenso aqui. Celebrações da dádiva e do eterno em tempos de afirmação do individual e do efémero.
A origem imediata deste culto e dos festejos a ele associados remonta à Rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis (séc. XII). Conta a lenda que, estando em Alenquer, a rainha fez coroar um pobre durante a missa e ofereceu, de seguida, um lauto jantar a todos os pobres no paço real (o famoso "bodo aos pobres"), no que foi depois imitada por todos os nobres. Esta lenda informa a influência da ideologia espiritualista na religiosidade da época e que muito marcou a Rainha Santinha. Uma ideologia que preconizava a chegada de novos tempos, nomeadamente do tempo ou império do Espírito Santo e que foi muito difundida pelos franciscanos. Estes religiosos tiveram um papel muito relevante no povoamento dos Açores, assim contribuindo por espalhar a doutrina e as festas ao Santíssimo. Estas festas herdaram também muito de pagão, estando associadas aos ritos de Primavera, de renovação da terra e de fertilidade. Há exemplos no continente, em especial nos festejos do Penedo (Sintra) e nas festas dos Tabuleiros de Tomar.
As festas duram 8 semanas, da Páscoa a Pentecostes. A superstição e o medo da constante actividade telúrica, a insularidade e o isolamento contribuiram para a expansão do culto que constituia uma libertação da dureza do quotidiano. A dimensão religiosa é dada pela promessa feita ao Divino numa hora de incerteza e angústia. A esmola em louvor do Espírito Santo são actos de gratidão à divindade por graças recebidas. Por outro lado, ritualizava-se a dádiva, a partilha e a entre-ajuda, criando uma ligação entre o material o profano.
As festas são um complexo ritual em que os açoreanos encontram uma forma de reiterar os principais círculos familiares e de relacionamento social, através da linguagem alimentar da dádiva e da contra-dádiva e, simultaneamente, funcionaram, ao longo de séculos, como parte de um sistema de segurança social informal, garantindo subsistência aos mais desfavorecidos.
jp
Aqui no Brasil temos, principalmente em antigas cidades do interior paulista ( São Paulo ) e mineiro ( Minas Gerais ) as festas do "Divino" ( Espírito Santo ). Sem dúvida introduzidas pela colonização portuguesa.
ReplyDeleteE o pão com manteiga também...
ReplyDeletePeri: sem dúvida levado daqui.
ReplyDeleteRose: a menina porte-se bem!
Ah, ah
ReplyDeleteRose, mas o spresso veio da Itália...
feito com o café que foi daqui, exatamente de São Paulo e Minas, onde o café tradicional é o de "coador"
Meu caro Jorge.
ReplyDeleteMas está - quase completamente - fora de série. Já nem precisas de investigar! O conhecimento está, sólido, todo aí.
Percebeste, por certo que tens matéria para N publicações de base temática
Vou ficar à espera que visites Faial e Pico.
Obrigado, Antonião.
ReplyDelete