O MOSQUITO DE CARLOS V

Carlos de Habsburgo ou Carlos de Gante (1500-1558) foi o quinto imperador do Sacro Império Romano-Germânico e o primeiro rei de da Espanha unificada. Era filho de Joana "a Louca" e de Filipe "o Belo". Portanto, neto dos Reis Católicos por via materna, o que o fez aceder ao trono, na ausência de descendência em primeiro grau. No mapa, em cima, pode ver-se o latifúndio que herdou e soube conquistar na Europa. Era a gestão de uma verdadeira "holding" de reinos, que, aliás, iria durar pouco. Abdicou em 1556, tendo dividido o governo por Fernando, seu irmão, que ficou com a zona austríaca e alemã e por seu filho, Filipe II, que ficou com tudo o resto, incluindo as terras americanas entretanto  descobertas.

Carlos retirou-se para o Mosteiro de Yuste e passou o resto dos seus dias a idolatrar a mulher, Isabel de Portugal (filha de D.Manuel I), falecida em 1539; a rezar na esperança de vida eterna; a comer em excesso e a montar e desmontar relógios. Viveu no no Mosteiro em instalações exíguas, mas que tiveram de ser feitas para acolher a sua muito reduzida corte de 60 pessoas. Era tal a sua devoção que do seu leito se pode assistir à missa, uma vez que a porta do quarto dá directamente para o coro da igreja.

Permanentemente doente, padecia de grave lesão lombar que obrigou a fazer uma cadeira articulada que ainda hoje está operacional. As paredes da sua residência estão cobertas de tecido negro, simbolizando o eterno luto pela morte da mulher. Todas as divisões têm quadros de Isabel, mas só o rei os podia ver. Uma cortina era puxada sobre eles logo que havia visitantes. É, neste ambiente paranóico, que viveu Calos V os últimos dois anos de vida. Morreu em 1558, não vítima das várias maleitas que o atormentavam, mas de paludismo. Tal como tinha já acontecido a Alexandre Magno, na longínqua Mesopotâmia, foi um minúsculo insecto que fez tombar estes dois gigantes.