9.6.10

CHORAR

Hoje chorei pela primeira vez a morte do meu pai. De repente saltaram as lágrimas até à exaustão. Fiquei uma lástima. Molhado. Ensopado. Uma barragem que se abriu. Fugi de onde estava. Guiei sem ver. A chuva começou a cair lá fora, mas há muito caía dentro de mim. Foi há um ano. Quem era o meu pai? Ainda hoje não sei. Talvez me possam ajudar. Um pai é quem te dá a vida. Quem te faz rir e chorar. Quem te educa e deseduca. Um pai é contra quem te revoltas. Um obstáculo a ultrapassar. Cúmplice e rival. Ele ama a tua mãe. Mas tu não sabes. És muito novo... Explicações de matemática. Ele quer que eu saiba. Eu não quero saber. Vou para Direito. Relações melhoram. Um militar que nunca matou. Um gestor de gente. Um homem que sabia ser. Construindo. Fazendo. Planeando. Um homem para todas as estações. Faltou dizer-lhe tudo isto e muito mais. Faltou dizer que o amo.

20 comments:

João Menéres said...

Como eu sei tudo isso, JORGE!
Os filhos nem sempre conseguem transmitir o amor que têm pelos Pais. E quantos de nós continuam a não conseguir fazer saber aos seus próprios filhos o AMOR e a TERNURA que por eles temos?

Um abraço VERDADEIRAMENTE solidário.

Lina Faria said...

Às vezes os sentimentos ficam decantandos e veem com mais pureza à nossa interpretação.
E ainda mais vezes virão à baila, quando acionados pela emoção da hora.
Bom ter essa sensibilidade para processa-los.

angela said...

Muita coisa faltou eu falar para meu pai. Tem coisas que só me ocorreram depois da morte dele e aí fico repetindo essas coisas baixinho, falando com ele e como não sei se me escuta repito sempre e acho que vou fazer isso até meu fim.
Gostaria de ter agradecido sua paciência e seu perdão por todos os desaforos que fiz e ele continuou a me amar. Gostaria de ter dito que tenho orgulho de sua honestidade sei que ele morreu arrependido por não ter ficado rico e ter deixado nossa vida melhor, mas para isso ele teria que ser desonesto e eu o admiro por isso e que eu o amo muito. Sinto a falta dele.
Entendo a sua dor.
beijos

Anonymous said...

Todos te percebemos.

Falta-nos o próprio alicerce.

Uma perda brutal.

Antonião

Li Ferreira Nhan said...

Jorge,
tomei conhecimento da morte quando meu pai morreu. Faz muito tempo.
Não sei lidar com o vazio a brutalidade a injustiça e a incoerencia que ela é.
E sempre fica faltando algo.
Sempre sempre e sempre.
O que resta é a perda a dor a carência.

Seu pai
Jorge
foi um grande homem.
Foi o seu pai.

um beijo

byTONHO said...



Caro Jorge

A gente sai do 'pai&mãe',
quando ELES morrem não vão embora,
ficam dentro da gente!


Abraços!

myra said...

como te entendo, meu querido, e estou de acordo com o que Tonho diz...
um enorme abraçO!

Anonymous said...

Passei por um momento como o seu. Tempos depois da morte do meu, bateu uma bruta saudade, daquelas de fazer chorar!

Helena Oneto said...

Jorge, se soubesses como te compreendo tão bem...
As vezes faz bem chorar.
Um beijo

António P. said...

E tantas coisas que nunca dissemos aos nosso pais quando eles ainda viviam.
E eles também não.
Um abarço, Jorge

Selena Sartorelo said...

Agora entendo a tua escultura.

Um abraço Jorge.

João Menéres said...

Vi o LADINHO.

Como eram parecidos (pelo menos de perfil!).

Outroabraço, JORGE.

Lizete Vicari said...

Que bela declaração meu amigo!
Fique tranquilo, ele sabe que tu o amavas, os pais sempre sabem!
Grande beijo!

Teresa Diniz said...

Jorge
É urgente aprendermos a soltar as emoções e dizer as coisas enquanto é tempo.
Um abraço grande.

Li Ferreira Nhan said...

Tonho disse tudo.

Mar de Bem said...

Pedi a Deus que o levasse, quando o vi cego e dependente, após hemorragia cerebral. Naquele momento percebi aquilo que o povo diz: "Antes a morte que tal sorte".
Um ano antes tinha morrido a minha melhor amiga, tão jovem e tão querida. Preparou-me para a morte de meu Pai.
Tive a sorte de lhe ter dito uns anos antes: "O Pai foi o único Homem que nunca me desiludiu". Fraca declaração de amor...mas disse-o!

Quando a minha Mãe morreu, fiquei à deriva. Estive um ano em estado de choque. Procurei o castanho como cor para me vestir, como se fora uma toca. Enfronhei-me num casulo. Não me lembro de quem me falou, de quem me deu os pêsames. Eu queria implodir.

Passados anos agradeço a Deus ter tido o privilégio de ter tido aqueles Pais. Fizeram por nós, seus filhos, o melhor que puderam, apesar de não ter sido o melhor. Mas foi o melhor que puderam e souberam. Estou grata por ter tido aqueles Pais.
E tenho que continuar a cumprir os princípios éticos e morais que me deixaram como herança, porque essa é que é a verdadeira herança!

Helena Oneto said...

Mar de Bem,
Os meus olhos encheram-se de lagrias ao ler o seu comentario. Os meus pais também fizeram o melhor que eles souberam, mas não foi sempre o melhor para nos. Ando ha anos a tentar perceber porquê.
Bem haja

Laura_Diz said...

Bom ter tantos amigos- sabes que não estás só.
Teu pai está em vc, sempre esteve, talvez agora vc siga mais leve.
Um forte abraço, Laura

lis said...

Jorge
A gente chora .E continua .
Nao fique triste , esse amor eternizou.
E ninguem nunca tem tempo de dizer tudo.
Bem disse Exupéry " quando será possível dizer aos que amamos que os amamos ?"
fica sempre aqueles olhos molhados de saudade .
bom é saber-se que se era feliz, assim sem te amo e amando tanto assim !
fique bem
com abraços

Jorge Pinheiro said...

Impossível responder a tanta emoção. Ainda bem que tenho tantos amigos. Ainda bem que tive um bom pai. Ainda bem que o meu post serviu para outros. Não quero destacar nenhum comentário. Vocês são fantásticos. Obrigado.