29.6.10

MYRA LANDAU - IX



“Assim como o Brasil marcou a minha juventude e apagou as cicatrizes da infância, no México transformei-me num ser adulto, capaz de se enfrentar a si mesma e à vida. Perdi medos, superei sentimentos negativos de culpa. Fiz-me na verdade uma pintora…”. É Myra quem o diz no seu livro Si Sabes Ver, publicado em 1975 e agora reeditado pela Universidade Veracruzana.

De facto, a partir da exposição individual na “Galeria Juan Martin”, em 1963, Myra entra inevitavelmente no mundo da arte de vanguarda. Conhece Martha Adams, Roger Von Gunten, Enrique Gual, Margarita Nelkan, Manuel Felguerez e tantos outros que, então, integravam esse universo. É convidada a participar em colectivas no “Museu de Arte Moderna”, no Rio de Janeiro; na “Casa da Cultura”, em Quito; nas “Galerias do Banco Continental”, em Lima. O continente sul-americano abre-se à sua arte. Faz workshops com os gravadores japoneses Yukio Fukazawa e Imasu Ishikawa, juntamente com outros pintores e gravadores.
Em 1964 e 1965 a actividade continua com exposições individuais na “Galeria OPIC”, no México; na “Men of Art Gallery”, em Santo António, no Texas; no “Museu Nacional de Arte Moderna”, em Havana.

A par das placas de metal, Myra inicia uma incursão pela pintura. Durante meses esconde de Miguel as telas. Esperava surpreendê-lo, ele que era tão crítico. Um dia decide colocar na sala os cinco ou seis quadros que tinha já adiantados. Pensava aperfeiçoa-los no dia seguinte. Ao entrar na sala, porém, Myra vê as telas horrivelmente mutiladas. Estavam cortadas! Cortadas num gesto de incompreensível agressão e com notável precisão. Fora Micky, filho de Miguel, um jovem inteligente e dado à música, cujas razões foram na altura pouco claras. Apenas mais tarde Myra pode suspeitar.
Mais uma vez era o destino. Em vez de o odiar, Myra acaba por lhe ficar grata. Devido a este gesto imponderado e destrutivo, Myra renasce para a pintura…

(Na imagem Ritmo Partido, a primeira pintura depois do “acidente”)
(Continua)

5 comments:

Anonymous said...

Biografia cheia de lances emocionantes!

Maria Dias said...

Chocante o fim deste capítulo...Deve ter sido bem doloroso ver suas telas destruidas...Aguardo ansiosa o próximo post desta biografia!

chica said...

Imagino a indignação de ver todo trabalho destruído.Não sei se eu teria tido compreensão com ele. acho que as telas ( o resto delas) acabaria enfiado dentro da sua goela...rsrsr Só de pensar, me dá raiva!abração,chica e ainda bem que Myra é a Myra e mostrou a que veio...

Vivian said...

...e a Myra sempre mostrando
a nobreza de sua alma.

todos os desafios trazem com ele
o selo da vitória.

bj

Luísa said...

Vermelho!
Cor de vigor, de marca, de segurança!
Recomeço acentuado em vontade e inspiração!