MYRA LANDAU - VIII

Myra entra quase inconscientemente na arte abstracta e leva a técnica da água-forte até à saturação. O metal era a sua matéria-prima. Experimentou todos os metais. Utilizou ácidos puros. Pela primeira vez entendeu os metais. Viu a sua textura. A sua força telúrica. A oxidação do cobre, do ferro, da alpaca, do latão… O toque, o peso, a prensagem, a magia da transformação… O metal tinha vida própria. Tinha alma. Era Myra a deusa. Foi assim, quase sem querer, que Myra chegou à “prancha talhada”. A placa de gravação como “objecto de arte”.

Foi neste clima de inovação e de grande pujança artística que o absurdo interrompeu a vida de Myra. Em Maio de 1961 morre o filho recém-nascido. Ela quer enlouquecer. Fica cega. Não consegue falar. A vida corre sem sentido.

Casa com Miguel em Taxco algum tempo depois. Vive por inércia, quase à força. Participa em algumas exposições colectivas: Museu de Arte Contemporânea, do México; Museu de Nacional de Belas Artes, em Montevideu; Museu Nacional de Bogotá, na Colômbia.

Myra acaba por reagir. Em Fevereiro de 1963 na “Galeria Juan Martin”, então a mais importante da Cidade do México, ela tem a sua primeira exposição individual. São dezenas de objectos, placas de metal, que Paul Westheim apresenta e sobre as quais se refere nos seguintes termos: “Nas artes gráficas a placa de cobre ou de ferro surge no séc. XV. Graças a elas os artistas puderam ultrapassar os constrangimentos da gravação em madeira e puderam usar o buril e a água-forte, permitindo-lhes conservar fielmente a delicadeza da escrita artística. Myra Landau não faz “clichés” para a impressão da gravura. Compreendeu que as placas de metal, em si mesmo, oferecem possibilidades expressivas inéditas. Ela serve-se da corrosão, com maior ou menor intensidade, criando zonas mais ou menos profundas, resultando uma estrutura plástica. E serve-se da oxidação – a natural e a provocada – para fazer surgir uma rica gama de verdes. Através de um apurado sentido artístico, contrasta os tons e joga com o contraponto da cor da placa. Alcança estranhos efeitos luminosos limando partes do metal, fazendo-os destacar, ora brilhantes, ora obscurecidos, sobre os segmentos por limar. As criações de Myra apresentam uma unidade artística consciente. Miniaturas plásticas de um gosto refinado e de fascinante beleza”.

A partir daí, a sua carreira está lançada. Ela integra o núcleo duro dos artistas de vanguarda sul-americanos…

Fotografia de Dominique Landau

(continua)