Miguel morreu em 1966. A ligação a Pablo só começou verdadeiramente depois. O amor pelos dois homens era intenso, indissociável. Como escreveu Myra em 1998: “Miguel escrevia poemas de amor. Pelo menos para mim escrevia. Talvez não fossem como os de Rilke ou Pablo Neruda. Mas quanta ternura. Quanto amor. Afirmava que vivia para mim. É verdade. Por mim, para mim viveu todos os anos em que ficámos juntos. Foi pouco. Apenas seis anos. E por amor ao seu pais e às suas ideias, cedo morreu. Só ele, e depois Pablo, me enviava cartas e poemas que eram trovões, relâmpagos, verdadeiras tempestades de amor. Tanto Miguel, como Pablo são as únicas pessoas que conheci com um amor real à sua terra. Sem alarde. Sem chauvinismo. Sempre com um olhar crítico, rebelde, revolucionário, sarcástico, mas sempre com carinho. Um carinho pela terra e pelas gentes, as gentes que sabiam o que terra significa. Ao mar e aos pescadores. Às árvores e aos agricultores…
Miguel e Pablo conheciam-se. Respeitavam-se. Tinham ciúmes um do outro. Seria uma premonição de Miguel? Insegurança de Pablo? Não sei. Os meus dois amores! Qual das ausências me pesa mais? Também não sei. Uma vezes um, outras vezes o outro… Queria ter os dois ao meu lado. Esta é a verdade. Pablo desaparecia por temporadas largas e misteriosas. Um dia chegou e abraçou-me chorando convulsivamente. Quando enfim se acalmou disse-me: “ O Che morreu!”,.Tinha estado na Bolívia. Havia sido seu amigo. Desejei nunca mais ver nos seus olhos de um intenso verde-mar encherem-se de lágrimas. Não foi assim. Pouco tempo depois, na famosa e trágica “Noite de Tlatelolco”, vinha afogado em tanto silêncio. Mas agora não era de tristeza, era de raiva. Naquela noite de 68 um grupo de soldados drogados, sob o comando do governo de Dias Ordaz, iniciou uma matança de intelectuais e estudantes que se manifestavam contra esse mesmo governo. Uma noite absolutamente terrível. Uma noite inominável de terror. E os homens choram. Choram sim. Choram de raiva. Choram porque o mundo é uma estupidez”.
Estes foram os dois homens de Myra. Homens fortes. Homens de causas. Homens sensíveis. Homens apaixonados.
(Na foto Myra com Pablo. Continua)
10 comments:
Interessante relato de Myra!Muito bom de ler!abração,chica
Que bom! A Myra voltou para o blog!
O JORGE está com um trabalho inimaginável!
Um trabalho de prazer pelo qual se apaixonou.
E, ao utilizar (em vez de outro, ou outros, que já conhecemos também) este seu estilo martelado e cavalgado, transforma a adMYRAvel vida da MYRA numa realidade sem calendário.
Aqui, temos uma outra forma de sentir a biografia da ilustre Pintora.
Que felicidade assistir ao CDR e ler o JORGE!
Um beijo sem tamanho definido para a MYRA e o abraço franco para o JORGE deste seu amigo.
Gostei muito da descrição sobre o amor à terra e às gentes sem chauvinismos e com olhar crítico e sarcástico mas sempre com ternura. Nunca tinha lido tão sucintamente o que sinto.
Ortega
Estou acompanhando, estou gostando e querendo conhecer mais sobre ela.
Pessoa forte. Pessoa que admiro.
Dois amores fortes, que marcaram muito, boas lembranças.
abraço aos dois.
Uau! Que história mais forte, mais bela! Lindo! Adorei! Parabéns JORGE pela magnífica forma de transformar a vida em palavras! Parabéns MYRA pela belíssima pessoa que é!
↓
Aqui MYRA-se sempre!
Obrigado a todos os leitores desta vida fantástica de que sou mero escriba e, mesmo assim, com muita ajuda. A Myra manda imenso material e conta coisas incrivéis. Nem todas posso contar... :)
obrigada a voces todos que estao participando neste incrivel resumem, feito pelo meu grande amigo Jorge, mas sabem fico um pouco sem geito...mas estou adorando me ler em "episodios"--
e querido Jorge, nao me lembro ter-te dito coisas - ja nao me lembro provavelmente - que nao pode contar...que? coisas tremendas? que é que eu fiz?:))))ai, ai, ai,
talvez vcoe tenha razao, melhor ser um segredo entre nos dois:)))
beijos a todos, um especial ao meu "biografo"!!!!!!
Ahah, nada posso revelar... Isso vai ser a biografia secreta de Myra Landau :))
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