30.11.10

CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES - 2

"No séc. XVI, a Europa do norte ultrapassou a Europa do sul. Isso deveu-se fundamentalmente a três factores: a liberdade moral conquistada pela Reforma; a elevação da classe média, instrumento do progresso nas sociedades modernas e que foi substituindo o poder dos reis até que o destronou; o nascimento da indústria, que veio dar às nações uma concepção nova do Direito, substituindo o trabalho à força, e o comércio à guerra de conquista. Ora a liberdade moral, apelando ao exame e à consciência individual, é rigorosamente o oposto do catolicismo do Concílio de Trento para quem a razão humana e o pensamento livre são um crime contra Deus; a classe média, impondo aos reis os seus interesses é o oposto do absolutismo; a indústria é o oposto ao espírito de conquista. Assim, enquanto as outras nações subiam, nós baixávamos. Subiam elas pelas virtudes modernas; nós descíamos pelos vícios antigos. Baixávamos pela indústria, pela política. Baixávamos, sobretudo, pela religião... É necessário estabelecer, cuidadosamente, uma rigorosa distinção entre cristianismo e catolicismo... O cristianismo é sobretudo um sentimento; o catolicismo é sobretudo uma instituição. Até ao sé XV, o dogma, em vez de imposto, era aceite. As igrejas nacionais tinham independência, não precisavam oprimir. Eram tolerantes. À sombra delas viviam judeus e mouros, raças inteligentes e industriosas, cuja expulsão tem quase as proporções de uma calamidade nacional. Rasga-se porém o séc. XVI e com ele aparece no mundo a Reforma..."

Antero de Quental. Continua...

5 comments:

daga said...

grande Antero! É preciso distinguir mesmo! Alguma vez o cistianismo impôs alguma coisa? Alguma vez foi intolerante? Considerou a "razão humana e o pensamento livre um crime"? Não, isso foi o catolicismo, a contra-reforma, que estabeleceu (se Antero tem razão, e acredito que tenha).
Obrigada pelo texto que desconhecia.
beijos

Jorge Pinheiro said...

É essa a tese de Antero. A Contra-Reforma é culpada da "prisão" de mentalidades, com implicações graves ao nível da iniciativa individual e da falta de crescimento económico. No próximo post isso fica claro.

Anonymous said...

Também não é por acaso que a reforma não chega aos povos peninsulares tornando a implementação da contra reforma uma inevitabilidade. A tradição moral mantém-se: vícios privados públicas virtudes. Culpabilidade judaico/cristã: o quanto baste. Pobres, incultos e com bom clima o que é que estavam à espera?!
Também não é por acaso que os povos nórdicos aderem tão fácilmente à reforma: libertam-se do jugo papal e do absolutismo régio, impõem a moral burguesa Luterana/calvinista fiscalizadora dos bons costumes (sexuais). Ninguém usa cortinas nas janelas para que esta se possa exercer. Culpabilidade judaico/cristã: no máximo. Ricos, cultos e com aquele clima o que é estavam à espera?!
Ainda hoje é assim.
Ortega

Jorge Pinheiro said...

E os juros abundam...

Jorge Pinheiro said...

A questão, como se verá, é que esses países tomaram a dianteira do chamado mundo civilizado. Este foi um factor. Há mais, como se verá tb. Eu acho péssimo ser do norte, mas eles ganharam, até mais ver. Mais, até acho que nos deviam pagar taxas por termos descoberto o mundo. Mas não creio que eles concordem. São luteranos e caretas.