27.11.10

CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES - 1

"No séc. XV, D. João I é considerado, em influência e capacidade, um dos primeiros monarcas da Europa. Tudo nos prepara desempenharmos então, chegada a Renascença, uma papel glorioso e preponderante. E desempenhámo-lo, com efeito, brilhante e ruidoso. Os nossos erros, porém, não consentiram que fosse também duradouro e profícuo. Como foi que o movimento regenerador da Renascença, tão bem preparado, abortou entre nós? Houve uma primeira geração que respondeu ao chamamento da Renscença. E, enquanto essa geração ocupou a cena, até aos meados do séc. XVI, a Península conservou-se à altura daquela época extraordonária de criação e liberdade de pensamento. Das 43 Universidades da Europa, 15 foram fundadas na Península. Surgiu um estilo e uma literatura novos com Camões, Gil Vicente, Sá de Miranda, Lope da la Vega, Ferreira. Com o sábio Miguel Servet, percursor de Harvey. Filósofos como Sepúlveda e o português Sanches, mestre de Montaigne. Humanistas como Garcia de Resende, Diogo de Teive, Antonio Augustin, Damião de Gois, com uma erudição quase universal. A arte "manuelina", a escola de pintura espanhola, com Murillo, Velásquez e Ribera... Deste mundo brilhante, criado pelo génio peninsular na sua livre expansão, passamos, quase sem transição para um mundo escuro, inerte, ininteligente  e meio desconhecido. Bastaram para essa total transição 50 ou 60 anos! Em tão curto espaço de tempo era impossível caminhar mais rapidamente no caminho da perdição. Nunca povos alguns absorveram tantos tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobres! Que nome espanhol ou português se liga à descoberta duma grande lei científica, dum sistema, de um facto capital?... A alma moderna morrera dentro de nós completamente. Pelo caminho da ignorância, da opressão e da miséria chega-se naturalmente, chega-se fatalmente, à depravação dos costumes... São três as causas fundamentais da decadência dos povos peninsulares: a transformação do catolicismo pelo Concílio de Trento; o estabelecimento do absolutismo, pela ruína das liberdades locais; o desenvolvimento das conquistas longínquas"

Excertos do discurso de Antero de Quental, proferido em 1871, durante a 1ª sessão das Conferências Democráticas. Por considerar este discurso pleno de actualidade, quer pelas consequências que ainda hoje sofremos, quer por não termos alterado substancialmente os nossos comportamentos e mentalidades, vou transcrever aqui algumas passagens mais relevantes. Na imagem, mapa do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo entre Espanha e Portugal (1494). Ver LADINHO.

4 comments:

daga said...

não será D. João II ;) ?
beijos

ps: fico contente por teres desenterrado o Antero, ele merece =)

Jorge Pinheiro said...

É mesmo D. João I o referido por Antero. Ele foi de facto "árbitro" internacional em várias disputas.

daga said...

vês estou sempre a aprender contigo e com este teu blog lindo =)
beijos e obrigada

Jorge Pinheiro said...

Beijos também.