1 - Na confusão que se seguiu à morte D. Sebastião em Alcácer
Quibir, o trono foi entregue ao tio, o cardeal D. Henrique. D. Henrique tinha
66 anos e viria a reinar 18 meses. Ainda pensaram casá-lo, a bem da Nação. O
Cardeal não quis. Talvez dogma ou falta dele, a verdade é Henrique podia ter
designado um sucessor. Hesitou e resolveu seguir os procedimentos. Abriu
concurso público para a sucessão e nomeou um júri especial para análise das
propostas. Apareceram cinco candidaturas, das quais três tinham fundamento:
Filipe II, de Espanha; D. Catarina, duquesa de Bragança; e D. António, prior do
Crato. A sucessão ao trono português iria ser, entre 1578 e 1581, um dos
maiores pleitos jurídicos da Alta Idade Média. Filipe II, de Espanha (I de
Portugal). Uma disputa dinástica que se resolveria pela negociação e não pela
conquista.
2 – Quando em Abril de 1581 se reuniram as Cortes de Tomar, a
decisão estava tomada. As Cortes mais não foram do que a solenização e
aclamação de um mundo novo. Um mundo em
que, finalmente, todas as coroas da Ibéria estavam reunidas num único ceptro. Uma união que desde D. João II vinha sendo sucessivamente tentado sem sucesso, devido a acidentes
e infortúnios. Nas Cortes de Tomar (1581), Filipe II de
Espanha, depois Filipe I de Portugal, foi formalmente reconhecido rei dos
portugueses. Já era rei de Castela, Aragão, Catalunha, Franco-Condado,
Países-Baixos, Sardenha, Córsega, Sicília, Milão, Nápoles e ainda dos
territórios extra-comunitários em África e na América. A "Casa Habsburgo"
geria reinos. Portugal era mais um, mas um reino muito importante para o
Império Espanhol. Portugal não perdeu a independência, apenas perdeu o rei.
Filipe ganhou o trono por ter feito mais concessões aos nobres e ao alto clero.
Eles quiseram o rei Habsburgo, inclusivamente porque isso lhes dava mais
estatuto do que um Prior do Crato qualquer, um bastardo cuja legitimação não
dava importância. Era em Castela que maiores reservas havia à ocupação do trono
português. Temiam os nobres espanhóis perder poderes face aos nobres
portugueses e temiam, acima de tudo, o maior poder centralizador que isso dava
a Filipe. Temiam mesmo que ele decidisse fixar a capital do Império em Lisboa,
secundarizando Madrid, coisa que foi, aliás, aconselhada pelo Duque de Alba. Se
isso tivesse acontecido, provavelmente hoje haveria União Ibérica.
3 - Nas Cortes de Tomar, que culminaram três difíceis anos de negociação, ficou definido o exclusivismo absoluto português. O "Estatuto de Tomar" reservava para os naturais do reino todos os mecanismos de gestão e governação laica e eclesiástica. Só portugueses poderiam ocupar cargos de governança. Mais, ficou estatuído que caso o rei fosse obrigado a sair do reino de Portugal, o poder passaria a ser exercido por delegação que teria de recair em naturais de Portugal, salvo se a pessoa nomeada fosse da família real dos Habsburgos. A verdade é que Filipe sai de Portugal logo em 1583 e delegou, de imediato, poderes no cardeal Alberto de Áustria, seu sobrinho. Portugal continuou a ser um reino "por si", mas deixou de ter um reino "para si”.
4 comments:
Ignorava essa do Cardeal Alberto de Áustria !
Penso que no liceu ( História de Portugal, do Matoso ) não se fala nisso...
Um abraço sem dívida ( nem soberana, nem imperial ).
Não se pode julgar a História nem há "ses" em relação a ela, mas que o desaparecimento do feriado de 1 de Dezembro não me incomoda minimamente, é verdade. Nesses tempos não existia o conceito de nação e os suseranos dos reinos (territórios) eram aclamados pelo seu prestígio, como hoje são aclamados os reis da bola, mesmo não sendo nativos. O conceito de nação é uma invenção da Revolução Francesa. Não seria preferivel ter como representante de Portugal o jeitoso Principe Felipe das Asturias em vez do "montanheiro" mal-encarado Cavaco Silva.
Ortega
História e a realidade atual! Bom debate!
Eu teria preferido a União. Mas, como já disse várias anteriormente, se tantas vezes foi tentada e não conseguida, é porque não tinha de ser.
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