Foi com os generais que tudo começou. Costa
Gomes, em Angola. Kaúlza de Arriaga, em Moçambique. Spínola, na Guiné. Em 1970,
Marcelo Caetano conferiu-lhes poderes que até aí nenhum comandante militar
tinha tido. Salazar tinha reduzido a guerra a uma rotina barata, que se
arrastava sem consequências de maior. Caetano precisava de obter resultados.
Precisava de uma posição de força na frente militar para poder implementar as
reformas de reconversão do regime. Para isso deu maiores poderes aos
comandantes militares, na expectativa que a guerra se resolvesse. Um erro
crasso. A rivalidade entre os três generais vinha de longe. As suas ambições
políticas focavam-se nas eleições de Julho de 1972. Marcelo Caetano, porém,
acabou por apoiar a reeleição de Américo Tomás. Caetano não quis arriscar
equilíbrios entre os duros do regime e, porventura, desconfiava já dos
“senhores da guerra”. As ambições e rivalidades dos generais transformaram a
guerra de uma rotina relativamente consensual, numa matéria polémica, objecto
de crescente guerrilha política e de sucessivas conspirações. Mas, como nenhum
dos três generais reunia consenso na hierarquia militar para tomar o poder por
dentro, acabaram por dar cobertura a movimentos de contestação entre as
patentes mais baixas, visando aumentar a pressão sobre o governo.
In "Há Biscoitos no Armário"
8 comments:
Eu era muito jovem em 1974. A recordação que tenho da guerra é dos que partiam lá da aldeia. Eram soldados rasos, não havia generais. Para eles a guerra era uma aflição do caraças, uma rotina aterradora. De vez em quando chegavam cartas a transbordar saudade, perfumadas com medo. No Natal amontoavamo-nos defronte à televisão tentando ver algum dos nossos a enviar uma mensagem. Alguns morreram, a maior parte regressou. Na Páscoa encontro alguns mas raramente falamos dessa época.
Eu li "Há Biscoitos no Armário"
As cartas...
Quando da época da independência elas foram escassas.
A primeira mudança notada foi o selo.
Recebíamos com receio as notícias dos parentes vindas das praias do Lobito.
Tempos difíceis.
Rui: era uma cena muito complicada. As pessoas que não passaram por isso não conseguem avalira.
Li: Lobito? Família?
Sim.
Chorava-se muito e havia um desespero impotente. O Povo sempre sofreu em nome dos seus "chefes". Dantes não se questionava a supremacia "deles" mas agora...
Agora vale tudo,votamos e agrdimos. Queremos e não queremos. Sintomatimente neo-democrático.
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