A História nunca se repete. A vida nunca é igual. A água não
passa duas vezes debaixo da mesma ponte. Efemérides são factos relevantes.
Factos que mexem com a nossa vida. Que marcam o mundo, um país, uma região. Acontecimentos
memoráveis. Factos de que só temos consciência a posteriori. Quando sucede vivermos esses factos, não temos ainda
a perspetiva histórica da sua relevância. Só mais tarde, às vezes décadas
depois, é que entendemos a sua importância. Quando Bartolomeu Dias dobrou o
Cabo da Boa Esperança, o cabo ainda era das Tormentas. O enorme alcance desse
feito para o mundo moderno só foi devidamente compreendido mais tarde. Primeiro
era apenas mais uma viagem marítima. Depois passou a efeméride de expressão
mundial.
Muitas efemérides mantêm-se no tempo porque se
institucionalizam. Ganham uma dimensão simbólica. O caso mais típico é o dos
feriados nacionais que comemoram vitórias em guerras fundamentais para a
independência de um país ou datas cruciais para a alteração de regimes. Muitas
são datas que já nem sabemos bem a que correspondem. Datas que se comemoram em
sessões solenes, enquanto o povo vai para a praia. Se é verdade que há
efemérides de expressão mundial, outras são comemoradas exclusivamente por um
determinado regime político e abolidas pelo regime que lhe sucede. Efemérides
são factos indesmentíveis. Acontecem. A sua valoração ideológica é que varia de
regime para regime ao longo dos tempos.
Assim, no limite, podemos dizer que efemérides são factos históricos
sobre cuja relevância, em dado momento, existe um consenso alargado. Os regimes políticos e,
depois, a memória dos homens, podem transformar factos irrelevantes em
efemérides ou fazer esquecer factos notoriamente relevantes relegando-os para o
limbo da História. Os regimes políticos podem enfatizar factos perniciosos ou
abolir outros de grandeza inquestionável para efeitos de propaganda própria. Um
exemplo absurdo: se a Espanha conquistasse agora Portugal, o feriado de 1 de
Dezembro seria, certamente, banido do calendário e as comemorações oficiais não
mais se realizariam. E, no entanto, a efeméride existiu.
A verdade pode ser manipulada, apagada, distorcida ou
alterada. Mas as efemérides estão lá como âncoras da memória. São datas que nos
recordam factos. Factos que nos recordam quem somos.
10 comments:
Só posso ler logo bem à noite !...
gostei muito do texto - realmente "efemérides" são factos que não são efémeros ;)
beijo
No meio da confusão já nem tenho a certeza: o 1º de Dezembro ainda se comemora? A Espanha já não é Portugal?
:-)
Seja como fôr é efeméride.
Mas compete-nos a nós passar essas "âncoras da memória" às gerações mais novas e será que todos o fizeram bem? A maioria não sabe nem faz um esforço para saber e não sei dizer o porquê!
Gostei!!!!
Em que dia se comemorou a Batalha de Aljubarrota ?
Porque razão se comemorou o assassinato do
Rei D. Carlos por uns ditos democratas ?
Está tudo explicado aqui, Jorge, não é verdade ?
Um abraço.
Mais um livro?
que fantastico, mais um livro!!!!
O livro é de um amigo meu de Macau que escreveu cerca de 200 crónicas no Jornal Tribuna de Macau e vai lançar em livro. Eu só faço pequenas introduções.
Muito bom Jorge.
Por mim só espero não esquecer os feriados, os dias, as semanas...
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