Os anos da nossa formação marcam-nos para sempre. Pela
positiva ou pela negativa. Mas ficam connosco duradouramente. Há um mundo novo
que se abre. Uma nova etapa. A entrada para a escola. Colegas. Professores. Uma
disciplina que nos impõem. Um modelo social que nos apresentam. São anos
essenciais para o nosso desenvolvimento. O que para uns é recordado com
saudade, para outros será penoso. Mas para sempre ficarão essas sensações.
Nunca vou esquecer o dia em que fui suspenso por mau comportamento. Foi o meu
primeiro contacto com a autoridade. A primeira vez em que enfrentei a
hierarquia social formal.
Escola, liceu, universidade. Tempos da nossa juventude. Uma
nostalgia perene. A escola é mais do que aprender a ler ou contar. É mais que o
canudo de doutor. São cheiros inolvidáveis. Corredores sem fim. O toque da
campainha. O ranger do estrado quando o professor de inglês passava. O chefe de
turma que distribuía estaladas sem razão aparente. O reitor que todos
odiávamos. As batas brancas das meninas da manhã. Aquele jogo de futebol que
ganhámos. O sol que entrava pela janela. O estúpido colega da frente que não
deixava copiar. O arranhar do giz no quadro preto. As faltas de material. O
professor que me fez gostar para sempre de História. A abelha gigante que me
picou no recreio. As namoradas de trancinhas que deixámos esquecidas nos bancos
do jardim. Aquele exame de latim que nunca mais acabava. As férias grandes que
tardavam em chegar.
Os anos de escola são anos de profunda transformação.
Entramos envergonhados de calções. Saímos homens de barba rija. São anos de
integração social. De iniciação política. De formação moral. A nossa personalidade
molda-se para sempre. Viajar pelos tempos de escola é revisitar a nossa
autenticidade. Somos o que éramos. Jamais deixaremos de o ser.
Texto que escrevi para introdução ao capítulo "Memórias da Escola" das "Crónicas Maquistas". Livro a editar pelo meu amigo Luís Machado, em Macau.
11 comments:
Mais um texto escorreito e sincopado do Jorge, tornado o Prefaciador por todos preferido !
Cada frase contém uma imagem verdadeiramente em 3D !
Abençoado seja o seu professor de História !
E sempre surpreendendo, Jorge!
Os manuais da primária são exactamente como me lembro deles. Agora, professor de História... não deixou marca. Deixou a professora de Inglês que me ensinou a letra de "Blowing in the wind" de Bob Dylan e foi expulsa por isso. Sim... somo feitos disso. :)
Sempre bom chegar aqui e ler. Ver também.
Agora é a deliciosa leitura.
Abençoado todos os teus professores!
É tão correta tua análise, tão saudosista e tão perturbadora no que tange a remexer em memórias que precisam estar escondidas.
Sorte do Luís Machado!
Fico pensando porque não houve uma tertúlia com esse tema, dos primeiros anos da escola...
sempre formidavel o que escreve! e agora outro livro, voce é incansavel! te admiro cada dia mais!!!
Se não me trai a memória, também aprendi nesses livros. Hoje aprendo aqui.
é verdade mesmo! a escola marca-nos para sempre pela positiva ou negativa. olha um dos meus professores de história não deu os Egípcios porque não gostava deles :p
lindo não é? aprendi história por mim, mas os teus textos também ajudam com frequência :))
Mais um texto EXCELENTE de memórias que não se apagam nunca de uma época que infelizmente não era para todos, passou a ser para todos onde muitos não aproveitaram...e hoje aproximamos-nos drasticamente de "não poder ser para todos".
Os manuais que mostras foram comprados pelos meus pais apenas uma vez...e eram estimados ao máximo e deram para os 5 filhos...caso contrário...havia cebolada!
Parabéns uma vez mais!
Queria COLAR aqui o comentário que fiz no UM OLHAR DE PERTO !
Mas, no ASUS, não sei como proceder, pois é bem diferente do iMac !...
Sim, a Li tem razão. Podia ter havido um aTertúlia.
Obrigado a todos pelos comentários.
Bravo! Sempre a surpreender. Fizeste-me voltar aos bancos da escola. A professora q mudou a minha vida foi a de Ciencias Naturais (agora, esta disciplina, terá outro nome)
A.R.E.
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