Nunca gostei muito de rosas. Eram espinhos agudos. Aquela total desnudez no Inverno. Cotos cortados. Galhos sem folhas. Picos sem flores. Plantas irreverentes que se impunham no jardim. Lixavam as canelas nas corridas desenfreadas pelos quintais adentro. Implodiam as mãos quando queríamos trepar aos telhados. Muito "mercuro-cromo" ao fim da tarde. As rosas eram preciosas, diziam eles, os pais. Dali viria a cor e a forma. O milagre da Primavera começava ali. Quem não tivesse rosas não podia arriscar a Primavera. E a Primavera não se arriscava se não houvesse rosas. Toda a vida convivi com rosas. Sempre as ofereci a namoradas. Sempre as dei a mães e tias. Sempre as meti em vasos de água esperando a ressurreição do pico no eterno prolongamento da cor. Hoje vejo as rosas por dentro da objectiva da minha Canon e espero que os pixéis não lixem o sensor.
17.6.16
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4 comments:
Lke (como se diz noutras paragens).
As pétalas não riscam, não arranham, não sangram, a não ser corações apaixonados.
Não são as minhas flores preferidas mas foram tão cantadas.
Um óptimo texto para uma excelente imagem !
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