13.9.07

MONTALVO - O FUTURO


Esta é uma zona onírica. Quarenta quilómetros de praia entre Tróia e Sines. Estado quase selvagem. Planícies imensas que o Sado inunda de fertilidade sazonal. Zonas húmidas onde as garças ainda desovam. Dunas paleolíticas cobertas de Armeria royana Daveau e de Juniperus navicularis Gand. Aqui o sal é mais salgado e o arroz já nasce com marisco.
Enfim, um dos últimos paraísos da Europa, em boa hora entregue à gestão da sociedade "Pai, Filho e Espírito Santo", ficando este último como administrador-delegado.
Por aqui encontramos, como que por acaso, gente que vem de helicoptero das mais desvairadas partes do universo, para "brincar aos pobrezinhos". Arranjam casinhas arruinadas perdidas nos arrozais, por entre perigosos mosquitos bravos e rãs selvagens. Decoram-nas com restos de tralha que um conhecido decorador encontra nos caixotes do lixo do Bairro Alto e depois lhes vende a preços milionários. Chegam mesmo a andar de chinelas, imagine-se! Depois vão almoçar ao "Aqui Há Peixe", na praia do Pêgo, a 50 euros por bico, propriedade do irmão do famoso Gigi. Não peça sardinhas porque aqui "Não se trabalha com esse peixe". É a vida "nouveau chique", numa variação em lá maior do estilo "hippie chique".
Pode mesmo acontecer encontrar os filhos da princesa Carolina no "Gervásio" (como é conhecida a "Casa Messejana"), ali em Brejos da Carregueira, onde este ano os pequenitos comemoraram os anos de Charlotte com frango assado e batatas fritas, seguidos de matraquilhos.
Acima de tudo evite as praias da Torre e de Brejos. Arrisca-se a encontrar o Ricardo, com a sua cara de judeu azedo e seguranças de fato de banho.
Aliás, a Terceira Pessoa da Trindade anda em negociações há décadas para a implantação na zona de 73 mil camas, mais os correspondentes campos de golfe e os indispensáveis heliportos. Mas parece que vâo ser "resorts" baixos, miméticos, quase invisíveis.
Não percebemos esta timidez. Gostaríamos de ver aqui uma "Manhatan" turística. Para quê este turismo envergonhado? Porque não seguem o exemplo do tio Azevedo (ver foto supra)? Aquilo sim é homem de vistas largas. Por ele até as camas ficavam na vertical... E se calhar até fazia bem às costas, digo eu!
Mas o local mais inacessível e exclusivo da zona é, sem dúvida a praia de Pinheiro da Cruz. Com o acesso barrado por razões de segurança, ali fica a casa do director da prisão, porventura o homem mais bronzeado de Portugal. O "resort" de Pinheiro da Cruz não é, por enquanto, misto. No entanto, segundo corre nos meios criminais, é o mais pretendido do país. Até quando irá resistir?
Enfim, vamos deixar esta zona com saudades, mas com a certeza que muito em breve teremos aqui, finalmente, "progresso"... coisa que as dunas paleolíticas não conseguiram durante milénios!
jp

2 comments:

Anonymous said...

Grande Azevedo e grandes espíritos!
Eu não vou já estou a guardar-me para a surpresa que eles nos estão a preparar...

clau said...

Ah! Como é bom saber que a minha Tróia vai deixar de ser o meu belo paraíso, que vou deixar de ver o mar (quase) e não ter um lugar para a minha toalha na praia da Tróia (na parte do oceano). Não há nada como o progresso urbanístico num paraíso como a Tróia. Nada mesmo.