5.10.07

A CARBONÁRIA E O 5 DE OUTUBRO III

Heliodoro Salgado (na foto) teve um papel fundamental na loja "Obreiros do Futuro". Era um heterodoxo, criticando o comportamento dos partidos políticos e aproximando-se dos anarquistas: "Os partidos são, como as religiões, inimigos das novidades. São improgressivos como congregações. Os seus dogmas chamam-se programas. Cada artigo do programa é um artigo de fé. Quem o aceitar é irmão; pode comungar à mesa eucarística dos fiéis. Quem discordar, porém, é riscado, excomungado, expulso". Heliodoro aproximou-se muito dos anarquistas. As suas ideias estiveram na base do "anarquismo reformista", um anarquismo teórico, próximo do republicanismo. Heliodoro morre em 1906. Não chega a ver a República e muito menos a Anarquia!
Tendo como pano de fundo a Revolução Francesa e os ideais republicanos, este foi um dos períodos mais conturbados da história política portuguesa. O Ultimato Inglês de 1890 contra as pretensões portuguesas em África de ligar Angola a Moçambique (Mapa Cor-de-Rosa), potenciou o descontentamento e serviu de pretexto para agregar revolucionários de todo o tipo, desde os idealistas, aos intervencionistas e aos terroristas. A criação de partidos, lojas maçónicas e núcleos carbonários; as frequentes dissenções destes movimentos e uma instabilidade geral que não soube ser controlada por uma monárquia enfraquecida e pouco esclarecida, acabou no trágico episódio do regicídio, levado a cabo por extremistas com ligações à Carbonária e perpetrado por Manuel Buiça e Alfredo Costa, com a colaboração de outros conspiradores, entre eles Aquilino Ribeiro, recentemente transladado para o Panteão Nacional.
Já com o inexperiente D. Manuel II no trono, a situação continuou a degradar-se. A 2 de Outubro de 1910 o golpe final foi planeado por Cândido dos Reis, chefe máximo dos revoltosos, em reunião com os oficiais republicanos, a Alta-Venda Carbonária e o Directório do Partido Republicano Português. A revolta ficou marcada para o dia seguinte.
A acção, porém, não viria a decorrer como planeado. Miguel Bombarda é baleado e morre, o que introduz desânimo nos revoltosos e alguns quartéis não se sublevam, conforme fora previsto, o que obrigou os revoltosos a entrincheirarem-se na Rotunda. Cândido dos Reis, estranhamente, suicida-se, mas a decisão de prosseguir com a revolução é tomada por Machado dos Santos e pela Carbonária. O exército monárquico, comandado por Paiva Couceiro, não conseguiu desalojar aqueles 200 homens, por manifesta incapacidade ou, quiçá, falta de vontade. Depois veio a adesão de dois navios de guerra, o "Adamastor" e o "S. Rafael", controlados por carbonários, que bombardearam o Palácio da Ajuda. O governo rende-se e o rei é exilado.
A 5 de Outubro de 1910, José Relvas, em nome do Directório Republicano, proclama a República na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, local onde hoje discursa o Prof. Cavaco Silva, prevendo-se que apele a medidas contra a corrupção e alerte para a crise dos partidos...
A Carbonária, bem como outras organizações, desempenharam papel fundamental na preparação da revolução, percebendo que essa revolução só poderia ser preparada em segurança através de estruturas secretas que escapassem à devassa policial. A Carbonária ainda teve um papel importante na mobilização contra as incursões monárquicas de 1911 e 1912, extinguindo-se depois. Em boa verdade, o seu objectivo fora alcançado... (Fim)
jp
Nota: Os posts sobre a Carbonária foram suportados pelo livro "A Carbonária em Portugal", de António Ventura, editado por Livros Horizonte.

3 comments:

Anonymous said...

Meu caro expresso, "extinguindo-se depois"? Pois!

Jorge Pinheiro said...

... Quer dizer, com organizações secretas nunca se pode ter a certeza da extinção e há o risco de serem reactivadas se necessário (?).

Carmen Lara said...

Antes dos Pedreiros Livres já existiam os madeireiros Livres.
A Carbonária teve origem nas montanhas do Líbano e das suas florestas saíu a madeira p/ a construção do Templo de Salomão.
Actuaram em Itália, França e Espanha e tinham uma ideologia assente em princípios libertários (Combater a intolerância religiosa, o absolutismo e defender ideais liberais). Um, entre muitos dos simbolos é a Coroa de Espinhos, para lembrar que a eles é proibido pensar contrariamente à virtude, à religião e ao Estado.