2.10.07

HÁ ESPERANÇA...

"No entanto, que podemos nós fazer se temos sessenta e dois anos e estamos convencidos de que nunca mais voltaremos a ter ao nosso alcance uma coisa tão perfeita? Que fazemos se temos sessenta e dois anos e a ânsia de aproveitar seja o que for que seja aproveitável não poderia ser mais forte? Que fazemos se temos sessenta e dois anos e tomamos consciência de que todas as partes do corpo até então invisíveis (rins, pulmões, veias, artérias, cérebro, intestinos, próstata, coração) estão a começar a tornar-se desoladoramente patentes, enquanto o órgão mais conspícuo ao longo de toda a nossa vida está condenado a mirrar até à insignificância?
Nunca há a mínima dúvida de que é ela que tem 24 anos. Só um grande idiota se sentiria de novo jovem. Longe de nos sentirmos jovens, sentimos o tormento do futuro ilimitado dela em comparação com o nosso futuro limitado, sentimos ainda mais do que normalmente o tormento de todos os derradeiros dons que fomos perdendo. É como jogar basebol com um grupo de miúdos de vinte anos. Não que nos sintamos com vinte anos por jogarmos com eles. Notamos a diferença durante cada segundo do jogo. Mas pelo menos não estamos sentados nas linhas laterais.
O que acontece é o seguinte: sentimos lancinantemente como estamos velhos, mas de uma maneira nova"
"O Animal Moribundo", de Philip Roth.
ET: Ainda bem que não tenho sessenta e dois anos e não jogo basebol!

1 comment:

maria antunes said...

Gostei do livro.