Cinco da tarde. Quinta-feira. A carrinha do Luís entra com dificuldade no portão. Marcha-atrás arrojada a roçar as sebes. Cortadores de relva. Enxadas. Ancinhos. Tesouras de poda. Serras mecânicas... Temos de tirar tudo. O Luís tem uma empresa de jardinagem. A carrinha está atafulhada. A primeira dor de costas assalta-me. Os "passarocos" olham com ar extralúcido, na esperança de um passeio. Pelo sim pelo não, são atados com cordas e esticadores, não vá a excitação dar-lhes para voar.
Seis da tarde. Exaustos, chegamos ao bar "Os Raposos". Tirar tudo. Montar a exposição. Paíneis de peso absurdo e dimensões sobrehumanas. Luzes, esticadores, parafusos... "Onde está o escadote". "Passa o alicate". "É preciso varrer a varanda"...
Sexta-feira. O João aparece com a aparelhagem de som. Colunas. Amplificador. Misturadora. Cabos. Suportes. Microfones. Uma bateria completa... Montar tudo no canto. No fim da noite desmonta, para voltar a montar lá no estúdio-garagem. Nova dor aguda nas costas, agora acompanhada por ligeira tensão no ombro esquerdo.
Sete da tarde. Chegam os músicos para o "check sound". Corro para jantar com o Zé Jorge. Toca o telemóvel. O homem anda-me perdido na Lage... Não sabe onde está. Eu também não. Lá o vou guiando pelo telefone. Jantar engolido na voragem do horário.
Dez da noite. Ficámos a saber que o tango "É um mínimo de explicações e um máximo de sensações", como o definiu Maurice Béjart ou "O pensamento triste que se dança", como dizia Henrique Dispolo. Ficámos a saber que o primeiro mito musical do séc. XX, Carlos Gardel, morreu num fatídico acidente de avião em 1935. Percebemos porque o tango é uma paixão.
O jazz impõe-se. Fesco. Leve. A Maria canta. Estimulante. Os "passarocos" continuam extralúcidos. Toda a gente tem pena de não os levar e eles, provavelmente, queriam ir. E eu também bem queria que eles fossem. É que no fim tenho de os trazer outra vez para casa, para junto da restante criação. Só de pensar nisso a 4L começa a gemer-me nas costas.
Cinco da manhã, já não sei de que dia. Tudo arrumado e de novo em casa. Passarocos em repouso. Aparelhagem de volta à garagem. Lá fora as trinta e duas espécies de aves existentes na moderna Nova Oeiras chilrreiam alegremente, com se nada fora... Introduzo finalmente os tampões nos ouvidos e a noite cai surda sobre mim.
Tanto trabalho! Mas valeu a pena. Cento e trinta pessoas preferiram este programa a qualquer outro naquela sexta-feira. Sinto-me sensibilizado... Em Dezembro há mais!
jp
7 comments:
Viva Jorge,
Não estive por razões que conheces. Mas tive pena e agora que leio a tua crónica...ainda mais.
Um abraço
Que bom, fico contente que tenha corrido tão bem. 130 pessoas? Fantástico! Pode ser que em Dezembro eu já tenha GPS...
eheheh.... eu fui uma das 130 ilustres pessoas :-P, e adorei a voz e músicas da Maria. Gostava de ter conhecido o Gardel! Quanto aos extralúcidos estava com receio que levantassem voo pela varanda!!!
É bom saber que tudo correu na perfeição. 130 é um número fantástico, parabéns!!!
Fico contente!
A pequena Françoise passou uma noite fabulosa,hehe saio de lá as 5h da manha, GRACIAS Jorge, e aguardo que me mandes fotos dos extralúcidos para darem outro passeio ;-)
Tive muita pena por não poder ir! o porto, não é tão aí ao lado....parabéns, pois sei que foi uma noite fantástica! se há mais em Dezembro...
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