PEDRAS - NAQUELE TEMPO

Quando conheci Pedras d'el Rei havia apenas 10 ou 12 moradias construídas. O meu amigo Vasco era praticamente dono da quinta. O pai era o arquitecto das Pedras, o que nos dava grande margem de "manobra"... Andávamos por ali à solta fazendo todos os disparates que a idade e o vinho da saudosa Adega Cooperativa de Tavira recomendavam. Tínhamos casa alugada na marginal de Santa Luzia, logo ao lado do restaurante do Joãozinho Laranjo. Pela janela entravam directamente cervejas estupidamente geladas e as indispensáveis saladinhas de polvo e estupetas de atum. Nós tocávamos violas e vibrafones, perdidos no infinito luar da ria dourada. Praia era na "Terra Estreita", em frente a Santa Luzia. Passava-se de barco conduzido pelo António Gelo e, depois, ia-se a pé, precisamente porque ali a ilha era mais estreita. Ainda não havia a ponte em frente a Pedras e o actual comboio só existia a partir do meio da ria. Chegava-se lá de barco, saindo de Santa Luzia pela braça central da ria, quando a maré deixava. O prolongamento da linha de comboio, até à ponte actual, só foi feita 2 ou 3 anos depois.

O atum começou a deixar o Algarve. A velha armação do Barril parou definitivamente no princípio dos anos 50. As casinhas onde agora se guardam barcos e cadeiras de praia, eram os "apartamentos" dos pescadores e respectivas famílias durante os meses de campanha. Quando conheci o Barril ainda havia um barbeiro na ilha e o arraial era guardado pelo "tio" Zé Estoi, com os dois poderosos mastins. Um deles, o Nilo, chegava para guardar a praia toda. O Zé Estoi fazia-nos petiscos numa velha frigideira preta, acocorado nas traseiras da armação, enquanto contava histórias de velho marinheiro das cinco partidas do mundo.

Passaram quase 40 anos. Estou definitivamente a ficar velho... Estarei a precisar de uma "Second Life"?

jp