O amor cortês ficou a dever-se aos trovadores occitanos (Occitanie - conjunto de regiões francesas onde se falava a "langue d'oc"). Exaltação espiritual e carnal das relações entre o homem e a mulher. Inovação decisiva no campo literário e social.
Exigia-se do amante a submissão à sua dama e transpunha-se para o domínio amoroso um certo número de virtudes "viris": coragem, lealdade e generosidade.
No final do séc. XII a erótica dos trovadores anexou o espírito cavaleiresco. Os jovens cavaleiros aristocráticos, celibatários e ambiciosos, amontoados na corte do senhor, esperavam que a dama deste os distinguisse com um amor sincero e desinteressado. O ideal do amor cortês constituía um meio de atenuar a tensão entre os vários estratos sociais da nobreza feudal.
O puro amor (fin' amor) reproduzia um "serviço" tipicamente feudal: relação suzerano/vassalo. Os deveres do amante consistiam em agradar à mulher, amá-la, sem amar mais nenhuma, exaltá-la e ser discreto. Ela, em troca, cheia de amor, devia ter em apreço o comportamento dele.
Era um jogo subtilmente adúltero e que, simultaneamente, alterava o papel da mulher a qual passava a dominar, claramente, a relação. Para além do beijo, o amante podia receber duas outras recompensas: a graça de contemplar o corpo nu e o "asag" (prova), onde quase tudo era permitido excepto o acto sexual propriamente dito. Tratava-se de uma erótica de orientação anticristã, mas que, mesmo assim, não ousava atacar a "origem de todas as virtudes".
Responsável pela criação do amor psicológico no mundo ocidental, permitiu, ainda, que as mulheres se sobrepusessem no interior do mundo feudal, estigmatizado pelos valores cavaleirescos da amizade masculina. Por outro lado, o amor cortês foi um grito anticlerical e herético, contrariando o machismo da religião católica e também da cátara: a nova devoção erótica sujeitava de forma unilateral o homem à mulher.
Os actuais verdadeiros amantes perpetuam o ensinamento mais profundo da erótica dos trovadores: o pior crime é fazer amor sem amor, por ser contra o próprio amor!
jp
3 comments:
Todas as noites um pagem
com voz linda e maviosa
ia render homenagem
à marquesinha formosa
Mas numa noite de agoiro
O marquês, fero brutal,
Naquela garganta de oiro
Mandou cravar um punhal
E a Marquesa delirante
De noite em seu varandim
Pobre louca alucinante
Chorando, cantava assim:
Oh minha paixão querida
Meu amor, meu pagem belo
Foge sempre minha vida
Deste maldito castelo
F. Teles
para um fado de Alfredo Marceneiro
Gostei, "o pior crime é fazer amor sem amor, por ser contra o próprio amor". Bonito
Que basicamente é que fazemos mais... falo por mim :D
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