28.3.08

CASTELO DE VIDE

Castelo de Vide fica no extremo norte da Serra e S. Mamede. A vila não apresenta património artístico ou arquitectónico apreciável, nem alguma vez foi palco de acontecimentos históricos dignos de grande registo.
É aqui que a partir de meados do séc. XV se estabelece uma das comunidades judaicas mais densas de Portugal, embora seja, simultaneamente, a terra alentejana com maior número de igrejas por metro quadrado. Os judeus foram escorraçados de Espanha pelo édito de 1442 dos Reis Católicos e aqui se vieram instalar, desenvolvendo a sapataria, a tecelagem e a cardação. Também muito se dedicaram às ciências, destacando-se o botânico Garcia da Orta e mestre Jorge, o físico.
A judiaria é um intrincado de ruas estreitas e escorregadias que deslizam morro abaixo, mantendo uma aura de mistério e de cultos proibidos, culminando na sinagoga. Arcos góticos de meia volta enfeitados com baixos relevos de espigas e ramos de oliveira, remetem-nos para um ambiente medieval que o frio gélido se encarrega de eternizar.
Foi aqui, em Castelo de Vide, que se deu o primeiro milagre, ainda que incipiente e por procuração, da então infanta Isabel de Aragão, futura Rainha Santinha. Por uma questão de heranças e parilhas entre D. Afonso Sanches e D. Dinis, ambos filhos de Afonso III, o primeiro, julgando-se com direito àquelas terras, amuralhou Castelo de Vide. D. Dinis, já então rei, considerou que tal manifestava intenções bélicas. Colocou cerco à vila. A coisa estava a descompor-se quando chega ao acampamento real uma embaixada de Aragão com a proposta de casamento com a infanta Isabel. E a paz veio com tão feliz notícia que a todos encheu de júbilo. O cerco foi levantado... e a muralha destruída. D. Dinis ficou feliz, mas não era parvo!
O castelo foi, depois, reconstruído e adaptado a artilharia, no contexto da Guerra da Restauração. Em 1705 uma explosão de pólvora destruíu parte da torre de menagem. Em 1823, quando já estava um caco, foi desactivado, iniciando um processo de total degradação que, com naturalidade, lhe conferiu o estatuto de Monumento Nacional que mantém com galhardia , mas sem grande proveito.
jp

2 comments:

Anonymous said...

Muito obrigada por me levares à infância e poder recordar as férias passadas tanto em Castelo de Vide como em Marvão...
O que mais me marcou foram os cheiros...da terra molhada com a trovoada de Verão, dos fornos caseiros que deixam adivinhar pão e bolos, do fumo negro do carvão...
Muito obrigada!!!!!
MP

Jorge Pinheiro said...

Ainda bem que deu para recordar. Ainda falta Marvão. A serra é linda.