Praça. Manhã cedo. Vendedoras de bigode apregoam a frescura da amêijoa, por entre o riso alarve de picadores de gelo já com cinco medronhos de aceleração. Velhotes encardidos escamam compulsivamente peixe em desespero de causa. "Bifas" com vestidos aos folhos e maridos com ar marsupial em mochila de ocasiâo acham tudo baratíssimo.
A manhã é um pesadelo. O efeito do sedativo nocturno não há meio de passar. Por mais cafés que beba continuo a emitir vagos mugidos cheios de significado pessoal, mas carregados de incompreensão alheia. É nesta hora do dia que me sinto mais indefeso, mais carente. Preciso de alguém que me guie, que adivinhe os meus mais elementares pensamentos, que os profundos ainda não acordaram.
A praça de Lagos é tão moderna que os preços acompanharam decididamente a inflação, deixando o nosso poder de compra ao nível da cavala. Retiramos envergonhados com um par de tomates e uma alface que à noite farão companhia a um residual "cassoulet avec du confit de cannard" que teima em nos perseguir desde Lisboa.
jp
2 comments:
Oh coitadinho. Mas por que é que toma sedativos? Devia praticar desportos e descontrair mais. Esses comprimidos ainda dão cabo de si.
(acho amoroso precisar de apoio e guia nessas horas madrugadoras. A sua Senhora deve ter muito cuidado consigo, por isso está assim.)
keriam nas capitais ter uma praça destas com peixe fresquinho e nao tao caro como diz, mas tem sempre a opçao de comer um bitoke em massamá... saude
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