6.5.08

EUROPA FEDERAL

Normalmente não escrevo textos de índole directamente política. Não porque não tenha ideias. Apenas porque é matéria já muito debatida na blogoesfera e, provavelmente, terei pouco a acrecentar. Este texto foi escrito para o blogue "Olhar Direito", a pedido do respectivo autor, Francisco Castelo Branco, e publicado ontem. É um blogue que recomendo, quer em termos de leitura, quer de participação. É interessante ver a opinião de vários escalões etários sobre os problemas socio-políticos que nos preocupam.

Pressuposto
Entendo a vida como busca da felicidade, da paz e do bem-estar para todos os homens. Nesse sentido a política é o instrumento para o conseguir. O sistema e o regime que, em cada época, forem os mais adequados para tal serão os que devem ser prosseguidos. Pessoalmente, entendo que neste momento histórico o sistema federal republicano é o que melhor defende esses interesses.
Argumentos
Numa época de globalização generalizada dos meios de comunicação, de transporte e da economia, seria grave não tirar daí as consequências políticas adequadas. Pode-se gostar ou não da globalização. Pode-se querer mudar-lhe o rumo. Mas ela está aí para ficar. E tem vantagens. Permite que se caminhe para um clima de abertura e de conhecimento cada vez mais abrangente, evitando isolamentos perigosos, ignorâncias exploratórias e religiosidades salvíficas e extremistas. Em última análise, potenciando a paz. É evidente que muito há para melhorar. Estamos no princípio de uma nova civilização. A “civilização planetária”, em que o ideal será haver um único governo mundial. Até se chegar lá, porém, temos de passar pelas etapas federais. O patriotismo foi uma invenção romântica do séc. XIX e que já muitas mortes causou. É altura de repensar sem complexos serôdios as estruturas políticas nacionais no “novo mundo”.
A Europa sempre sonhou a reunificação romana. Várias tentativas foram feitas ao longo dos séculos (Sacro Império; Império Austro-Húngaro; Império Napoleónico; III Reich…). Nunca foi possível porque não havia contexto político e porque foram tentadas à força das armas. Nas últimas 6 décadas a Europa vive em paz (excepção aos genocídios Jugoslavos, por razões que se conhecem e precisamente por não estarem integrados na UE). A União Europeia é factor de estabilidade e progresso. Este bloco social, cultural e económico defronta-se diariamente com outros gigantes (USA; Rússia; China; Índia). É indispensável que o possa fazer com poderes acrescidos e com identidade própria, por forma ao nosso crescimento e, em última análise, à nossa sobrevivência.
O Estado Federal assenta na premissa de perda de soberania voluntária, em favor de uma entidade supra-nacional que passa a ser o novo Estado. Os antigos países passarão a ter a autonomia que vier a ser negociada no tratado federativo e que, a meu ver, deve ser grande em termos de gestão da sua cultura e do seu quotidiano (chamemos-lhe “gestão corrente”). A governação de proximidade poderá ter vantagens e a gestão da res publica ser, finalmente, mais cuidada.
As vantagens do Estado Federal são, basicamente passar a deter uma economia mais poderosa; maior capacidade de intervenção financeira; economias de escala na produção e exportação; legislação constitucional e outra considerada fundamental, idênticas; harmonização total das regras entre as regiões; maiores oportunidades de emprego europeu e de negócios intra-comunitários; mais peso, protagonismo e resposta eficaz a crises internacionais; maior estabilidade interna; impossibilidade prática de guerra entre europeus; menos custos administrativos e governamentais (pelo menos em teoria).
Neste contexto mundial e no momento em que a UE já exerce grande parte destes poderes, embora na maioria dos casos através de um enorme e dispendioso processo de comitologia, porque ficar na meia-federação que só atrapalha?
Uma última palavra. Considero que para este desiderato ser cumprido, não é desejável ou é mesmo contraproducente toda a exacerbação da simbologia do Estado-Nação, em especial as monarquias. Como se podem manter reis num Estado Federal? Num Estado Federal reis e respectiva corte são desempregados potenciais. Que isso não seja entrave!
jp

8 comments:

Anonymous said...

Lucidez a rodos neste blog!

Claire-Françoise Fressynet said...

Fui ao ciclo de cinema maio 68 ver: l’an 01
no http://www.ifp-lisboa.com/

Jorge Pinheiro said...

Miguel Barroso: obrigado pela visita e pelas palavras nem sempre merecidas... Tem dias!
Claire: gostaste? Falamos na 6ªf.

Anonymous said...

Oh expressodalinha! Então não te metias em política? A "linha" não vai perdoar-te o esconjuro monárquico. E essa abertura total à globalização tem que se lhe diga!
Queres mesmo um PDM global?
Claro que sempre vais dizendo que "pelo menos em teoria". Tu és é um "budista".

Jorge Pinheiro said...

Caro Antonião: nada me move contra a monarquia, excepto que já não é tempo dela. Mais, quando falo em símbolos do estado-nação tb. me refiro a hinos, bandeiras, etc. Enfim tudo o que o romantismo do séc. XIX inventou e que, isso sim, é preciso esconjurar. Os meus textos são, na maioria dos casos de leitura política subliminar. Este foi uma excepção pela via directa. Já vi que gostaste!
Abraço.

ortega said...

Só há um pequeno/gigantesco obstáculo a ultrapassar:o problema da língua, é muito pior do que reis , bandeiras ou hinos (lembrar Torre de Babel).

Jorge Pinheiro said...

Vai ser o euro-english e sem acordo ortográfico.Esse julgo que é mesmo o menor dos problemas.

...Tree...Dots... said...

Caro amigo,
Pode-me chamar romantico do sec. XIX o que quiser, mas eu ainda me emociono a ouvir o hino e ainda sinto e tento honrar a patria. Embora concorde que uma europa unida é uma europa mais forte, para combater crises e problemas mundiais, mas como diz o proverbio"quanto mais alto se sobe maior é a queda" e por enquanto Portugal vai-se aguentando..A existencia de um governo mundial é uma utopia porque como Camões dizia "mais altos valores se levantao"