O Palácio do Marquês domina Oeiras, impondo-lhe a sombra omnipresente do Marquês. Obra projectada pelo arquitecto hungaro Carlos Mardel, o mesmo do Aqueduto das Águas Livres, o Palácio é um prefeito exemplar do gosto do séc. XVIII, muito ao estilo do Palácio Real de Queluz. O Marquês trouxe a este lugar ermo nos arrabaldes de Lisboa o fausto da corte. D. José andava doente, comichoso e chaguento. Os médicos recomendaram as águas do Estoril. Mas de Lisboa ao Estoril era uma estafa. Não dava para se fazer num dia. O rei ficou instalado no Palácio do Marquês e durante um ano (1775) Oeiras foi a verdadeira capital do país. Foi também nesse ano que, por iniciativa de Pombal, se realizou a primeira exposição agrícola da Europa, forçando, com esse ardil, a vinda da Corte, de embaixadores e comerciantes a Oeiras pela velha "estrada real", traçada pelas legiões e que ainda hoje lá se mantém, com o seu famoso "sobe e desce" por cima da Ribeira da Laje. Pombal era megalómano. Projectou um canal entre a costa e a vila, obra que tornaria Oeiras um porto de mar. Iniciou escavações profundas, cortes de rocha, paredões de pedra... A queda política do Marquês (1777) foi, porém, mais rápida do que a obra. Resta a ruína da Alfândega Velha e alguns paredões que o tempo e a construção civil se encarregam de fazer desaparecer. O morgadio compunha-se de três quintas principais: a Quinta de Cima (onde fica o Palácio); a Quinta de Baixo e a Quinta do Barril. Durante mais de cem anos este conjunto de quintas e o Palácio impediram a expansão da vila para oeste, em direcção a Carcavelos. No princípio do séc. XX todo este conjunto foi adquirido por Arthur Brandão à Casa de Pombal. Nos anos 50 do século passado inicia-se a construção dos bairros de Nova Oeiras, Palmeiras e Quinta do Marquês que, juntamente com a Estação Agronómica de Oeiras, entretanto vendida ao Estado, passaram a ocupar o espaço daquelas quintas. Quanto ao Palácio, passou para as mãos da Fundação Gulbenkian, aqui tendo permanecido a colecção de arte até o Museu Gulbenkian estar concluído, tendo sido, posteriormente, arrendado por 20 anos ao INA. Em 2003 foi adquirido pela Câmara Municipal. Aguarda-se um destino...!
Nas praias de Oeiras situam-se os principais fortes defensivos da barra do Tejo, incluindo a maior praça marítima da costa portuguesa, a fortaleza de São Gião ou Torre de São Julião da Barra (na foto), precisamente na foz do rio. Mais para juzante os fortes de Nossa Senhora das Mercês do Catalazete, o forte do Arieiro ou de Santo Amaro e o forte de São João as Maias. Todos estes fortes datam dos séc. XVII. Mais recentes (1926) são as inúmeras trincheiras e casa-matas escavadas no solo, deixando apenas ver uma guarita aqui, um paredão acolá. Um ar de mistério e assombramento. Faziam parte do Campo Entreicheirado de Lisboa, também hoje já sem qualquer valor militar e praticamente arruinados. À beira da praia, entre o Catalazete e São Julião da Barra, a "Feitoria", à beira da Marginal, como uma vista de mar absolutamente fabulosa, serve agora de colónia de férias aos rapazes do Colégio Militar. É ali que ia dar a Estrada da Medrosa que agora se detém na Marginal. Uma estrada militar que esconde umas das sedes regionais da NATO (CINCIBERLAND) e, mais à frente, o quartel da Medrosa. No meio, a cair em ruínas, pode ver-se o "Casão da Medrosa", de modesta aparência, onde esteve instalado o Quartel General de Wellington, ao tempo das invasões francesas (mais propriamente da comandada por Junot).
Este passado bélico de Oeiras já não existe. Hoje São Julião da Barra serve para os coronéis irem a banhos com respectivas famílias na piscina militar e iniciou-se já o aluguer para casamentos e baptizados ou outros eventos de reconhecida utilidade pública. Os restantes fortes aguardam quem os rentabilize sob pena de ruína total.
Tinha pensado que 3 posts seriam suficientes. Não são. Oeiras merece mais ou eu tenho fraco poder de síntese. Haverá, ainda, mais um post final.
jp
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