10.5.08

XICO ZÉ - 40 ANOS DE CARREIRA


Realizou-se ontem à noite o jantar de homenagem ao Xico Zé. Tocaram os "Ephedra", no seu rock-progressivo compacto. O "Xico Zé Ensemble", num jazz de fusão que contou com alguns dos melhores músicos de jazz nacionais. Destaque para João Maló, Zé Soares, nas guitarras e Emílio Robalo, no piano. Na voz brilharam Maria Morbey e Maria Viana.
Foi lançado o disco de originais do Xico Zé, "Rio", que pode ser encomendado para o meu mail (custo: €15 + porte postal).
A opção pela música ainda hoje é difícil em Portugal. O Xico Zé fez essa opção há 40 anos! É essa coragem que estamos a homenagear. Estamos a homenagear um talento que, sem essa coragem, se teria desperdiçado algures num departamento público das nove às cinco. O Xico Zé fez essa experiência aos 20 anos e percebeu que aquele não era o filme dele. Felizmente, digo eu!
Ser músico em Portugal, e nos anos 70 em especial, implicava prescindir de muita coisa material por um sonho. O sonho de sentir harmonias, de tocar melodias, de alcançar vibrações, de conhecer sensações. Mas também envolvia a rebeldia contra um estilo de vida que não sentíamos ser o nosso. Ser músico era, como disse alguém, “jogar nas entremalhas do sistema”. O Xico tomou corajosamente essa opção.
Nestes 40 anos espalhou o seu talento e a sua magia, sem nunca se entregar ao “sistema”. Sendo, necessariamente, um homem de palco, manteve-se discreto, na retaguarda. Não gosta de se exibir. Talvez isso o tenha prejudicado em termos de reconhecimento artístico e, mesmo, em termos financeiros. No entanto talvez isso tenha permitido fazer do Xico a pessoa aberta e simples que continua a ser desde que o conheço… e já lá vão 35 anos. O Xico Zé não é uma vedeta. É apenas um grande músico!
Depois das bandas de garagem, o Xico foi um dos fundadores do “Ephedra”, juntamente com o Paulo Viana e com o Luís Piques, em 1969. Grupo completamente contra-corrente, o “Ephedra” viria a ter um papel quase mítico na evolução do rock nacional.
Ainda nos anos 70, o Xico Zé partiu para voos mais jazzísticos que não deixariam de o acompanhar desde então.
Fundou a “Mais Estranha Banda”, juntamente com o Mário Gramaço e o Paulo Viana. Fez ainda a primeira parte do concerto do Gato Barbieri, no Coliseu, corria o ano de 1979. Embora multi-instrumentista, o baixo era já então o seu instrumento de eleição.
Já nos 80, fez os arranjos, em conjunto com o Emílio Robalo, do disco “Triângulo do Mar” e, posteriormente, do disco “ Chão de Vento”, ambos do Carlos Mendes, com quem fez, depois, uma tournée pelo Brasil.
Com o Carlos do Carmo fez diversas tournées à Alemanha e participou no disco de homenagem a Elis Regina, “Diamante”.
Ainda nos anos 80 fez tournées e espectáculos com o Paulo de Carvalho e foi durante algum tempo músico de estúdio na orquestra de Pedro Osório.
Para culminar a década de 80 Xico Zé toca baixo no emblemático disco de Fausto, “Por Este Rio Acima”. Nos anos 90, a viragem para o jazz acentua-se. Cria o grupo “Os Barões da Linha”, com Zé Machado, Paulo Bessa, Gustavo e Mário Jorge, tocando um jazz-rock evoluído e, simultaneamente, passa a ser presença assídua do “Hot-Clube acompanhando vários músicos e integrando grupos de ocasião, sendo de destacar o projecto “Lis-Mad” (uma parceria entre músicos de Lx e Md) e o projecto “Latino-Mecânica”. Entretanto, toca em espectáculos de Vitorino e Sérgio Godinho, entre outros.
Já na década de 2000 cria o “Trio da Corda”, que ainda se mantém, com Maria Viana e João Maló e forma o “Grap-Helis”, um tributo ao violinista Stephan Grappeli, onde toca com Zé Machado e Mário Jorge, em memoráveis actuações no Hotel Ópera, em Lisboa.
Ao longo da sua carreira, o Xico Zé manteve sempre um projecto pessoal que baptizou de “Terra Nova” e que, ainda nos anos 80, incluía Mário Gramaço, no saxofone e Mário Jorge na guitarra. Mais tarde o projecto “Terra Nova II”, já nos anos 90, passaria a contar com a voz da filha, Maria Henriques, e da guitarra de Zé Soares.
Ao longo destes 40 anos foram inúmeras as produções e arranjos para teatro e cinema. Destaque para os documentários “Lisboa” e “Portugal”; para a série televisiva “O Quadro Roubado”; e para a série infantil “Tomé”.
Como se pode ver estamos perante um polivalente. Um compositor; um orquestrador; e um músico extraordinário.
Falta muita coisa neste breve CV e, necessariamente, falta a música. Quantos discos gravou Xico Zé? Já nem ele sabe. Em quantos espectáculos participou? Muito menos se lembra. Quantas melodias compôs? Quantas notas deu? Quantos compassos percorreu? Impossível saber! O que sabemos é que em grande parte da discografia nacional está a sua marca, a sua expressão, o seu génio.
jp
Foto de José Maria Tavares Rosa

5 comments:

bissaide said...

Foi um excelente concerto, a todos os níveis, e só tive pena de não poder ter ficado até ao fim! Abraço e... vêmo-nos no Montijo?

bikini said...

Para nós ,os que ouvem o principal é que,como já disseste o Xico é um grande músico.
Mas essa coragem de que falas é extraordináriamente importante.Basta pensar que,de todos daquele grupo aqui das redondezas,que personificavam os "loucos e revolucionários"anos 60 o Xico foi dos que optou determinadamente pela sua convicção
o que quer dizer,de um modo muito pragmático,daqueles confortozinhos que dão asegurança e o dinheiro.
(para que fique claro não estou a criticar ninguém,estou é a elogiar o Xico).
E depois, e disto só pode falar quem lá esteve,persistir apesar da mediocridade,invejas e outros afins.Parece pouca coisa mas é muito dificil lidar tantos anos com a espupidez.
Sim,o Chico constrói,sendo discretamente um grande músico.

Claire-Françoise Fressynet said...

Tenho estado a ouvir o “rio” e coincidência,daquelas que adoro
;-))) passou agorinha mesmo 1 amolador.wouhaaaaaaaaaou

astracan said...

Merecida, quente e fraternal homenagem ao Xico Zé. Uma grande noite musical! Todos os músicos, sem excepção, deliciaram-nos com a suas qualidade, entrosamento e magia. Com o seu curtir. O Xico tocou do princípio ao fim, a maior parte do tempo... a sorrir. Um privilégio e um prazer ter participado nesta festa.

P.S.: Quanto à venda do RIO apresento uma sugestão para o próximo evento:
- Entrada 15,00 com disco incluído, e não digam que vão daqui.

Jorge Pinheiro said...

Bissaide: obrigado pela visita e pelos comentários. O Montijo é questão de se combinar...
Astracan: obrigado pela sugestão.
A todos obrigado pela ida ao concerto. O Xico estava feliaz. E o concerto foi óptimo.