A 19 de Junho de 1580, D. António, prior do Crato, faz-se aclamar rei de Portugal, em Santarém. Estava-se em plena crise sucessória após a morte de D. Sebastião, em Alcácer Quibir. Sebastião morrera sem descendência. A coroa ficou entregue ao idoso cardeal D. Henrique, seu tio e filho de D. Manuel, que haveria de governar por dois anos (1578-1580). Cinco pretendentes surgiram após a sua morte, destacando-se três: D. António, prior do Crato; Dona Catarina de Bragança; e D. Filipe II de Espanha.
D. António não consta geralmente da lista dos monarcas portugueses, havendo, porém, quem defenda que ele foi, efectivamente, rei. A sua aclamação deu-lhe o governo precário de todo o país de Junho a Agosto de 1580 e entre 1580 e 1583, nalgumas ilhas dos Açores, nomeadamente na Terceira. Estando a decorrer um processo jurídico-sucessório que o próprio cardeal D. Henrique havia sancionado e estando o assunto em apreciação por uma Junta de Governadores que se mantiveram em funções após a morte do cardeal, é duvidoso que D. António possa ser considerado mais do que um revoltoso, por muito patriótico que se possa considerar o seu gesto, no qual, aliás, foi secundado por uma enorme minoria de nobres. A maioria estava com Filipe de Habsburgo, o único candidato que podia dar mais mercês aos fidalgos portugueses.
E mais mercês era só o que interessava aos fidalgos. De facto elas ficaram estipuladas num documento conhecido como Mercês de Almeirim, depois consagradas pelas cortes de Tomar, aquando da aclamação de Filipe como rei de Portugal. Os nobres viram nesta sucessão a possibilidade extremamente patriótica de se equiparar aos nobres de Espanha que tinham maior jurisdição senhorial e possibilidade de receber a sisa (as alcavalas castelhanas) nas suas terras e, acima de tudo, de não estarem sujeitos à Lei Mental instituída por D. Duarte, a qual apenas permitia a sucessão ao filho primogénito. No caso de este ter morrido antes da sucessão as terras entravam directamente para a coroa. Aliás, foi apenas e só apenas por, mais tarde, Filipe III ter ameaçado retirar alguns desses privilégios que os nobres, novamente num acto extremamente patriótico, resolveram fazer a Restauração! Filipe foi rei de Portugal por negociação e não por conquista. Negociação que trouxe vantagens para os nobres e para os mercadores e que manteve o estatuto da Igreja que fora já elevada ao zénite pela Concórdia de 1578, assinada por D. Sebastião. Aqui a negociação foi ao contrário: não equiparar a igreja portuguesa à espanhola, para não perderem mercês!
D. António era neto de D, Manuel, filho natural do infante D. Luís e da cristã-nova Violante Gomes, a Pelicana (nome fantástico!). Encabeçou a facção que se opunha à monarquia hispânica. Não tinha a simpatia do cardeal-rei, nem o apoio da grande maioria da nobreza que preferia um rei forte. D. António, após a sua proclamação, acaba completamente derrotado na batalha de Alcântara, pelas tropas espanholas comandadas pelo Duque de Alba, em 25 de Agosto de 1580. Passa o resto da vida num périplo diplomático desesperado tentando reunir, sem sucesso, tropas e apoios para expulsar o “invasor”. Morre em Paris, em 1595. Modernamente há inúmeros descendentes de António, prior do Crato, na Suiça Francesa que provavelmente ainda se sentem com direito ao trono.
D. António não consta geralmente da lista dos monarcas portugueses, havendo, porém, quem defenda que ele foi, efectivamente, rei. A sua aclamação deu-lhe o governo precário de todo o país de Junho a Agosto de 1580 e entre 1580 e 1583, nalgumas ilhas dos Açores, nomeadamente na Terceira. Estando a decorrer um processo jurídico-sucessório que o próprio cardeal D. Henrique havia sancionado e estando o assunto em apreciação por uma Junta de Governadores que se mantiveram em funções após a morte do cardeal, é duvidoso que D. António possa ser considerado mais do que um revoltoso, por muito patriótico que se possa considerar o seu gesto, no qual, aliás, foi secundado por uma enorme minoria de nobres. A maioria estava com Filipe de Habsburgo, o único candidato que podia dar mais mercês aos fidalgos portugueses.
E mais mercês era só o que interessava aos fidalgos. De facto elas ficaram estipuladas num documento conhecido como Mercês de Almeirim, depois consagradas pelas cortes de Tomar, aquando da aclamação de Filipe como rei de Portugal. Os nobres viram nesta sucessão a possibilidade extremamente patriótica de se equiparar aos nobres de Espanha que tinham maior jurisdição senhorial e possibilidade de receber a sisa (as alcavalas castelhanas) nas suas terras e, acima de tudo, de não estarem sujeitos à Lei Mental instituída por D. Duarte, a qual apenas permitia a sucessão ao filho primogénito. No caso de este ter morrido antes da sucessão as terras entravam directamente para a coroa. Aliás, foi apenas e só apenas por, mais tarde, Filipe III ter ameaçado retirar alguns desses privilégios que os nobres, novamente num acto extremamente patriótico, resolveram fazer a Restauração! Filipe foi rei de Portugal por negociação e não por conquista. Negociação que trouxe vantagens para os nobres e para os mercadores e que manteve o estatuto da Igreja que fora já elevada ao zénite pela Concórdia de 1578, assinada por D. Sebastião. Aqui a negociação foi ao contrário: não equiparar a igreja portuguesa à espanhola, para não perderem mercês!
D. António era neto de D, Manuel, filho natural do infante D. Luís e da cristã-nova Violante Gomes, a Pelicana (nome fantástico!). Encabeçou a facção que se opunha à monarquia hispânica. Não tinha a simpatia do cardeal-rei, nem o apoio da grande maioria da nobreza que preferia um rei forte. D. António, após a sua proclamação, acaba completamente derrotado na batalha de Alcântara, pelas tropas espanholas comandadas pelo Duque de Alba, em 25 de Agosto de 1580. Passa o resto da vida num périplo diplomático desesperado tentando reunir, sem sucesso, tropas e apoios para expulsar o “invasor”. Morre em Paris, em 1595. Modernamente há inúmeros descendentes de António, prior do Crato, na Suiça Francesa que provavelmente ainda se sentem com direito ao trono.
jp
13 comments:
gosto da maneira interessante como escreve sobre a nossa historia, facil escrever assim. estou com curiosidade de saber como vê a historia do navegador Cristovão Colombo...
Isto quando mete priores e cardeais é o que dá...
E freiras...
Anónimo, obrigado pela preferência. Estou a pensar fazer uma "edição especial" sobre a descoberta do Brasil, um dia destes. A propósito falarei do CC. Assim de repente, direi que era um homem muito determinado e que não olhava a meios. Superava em aventureirismo a pouca ciência que tinha.
Al-Kantara e Roserouge, não comecem...
Gostei da enorme minoria de nobres. É preciso ver que naquela altura o conceito de nação não é o que é hoje depois da revolução francesa, nessa altura o "patriotismo"(não apenas dos nobres) era a fidelidade ao suserano que mais conviesse, até porque eram todos da mesma familia.
Pois, mas naquela época o patriotismo dos não nobres chamava-se "fugir à fome". Havia poucas escolhas: ou o exército ou a igreja. Por isso é que havia tanto convento...
E freiras...
Sera? Colombo inculto? Como saberia ele ler, decifrar as cartas cartograficas e rotas maritimas usar os instrumentos nauticos. Descrever as suas viagem. se naquela epoca só os nobres tinham instrução? casar com dama nobre portuguesa. seria de nacionalidade portuguesa, castelhana, "genovês" ou Italiano.
ah, mas o Colombo era muita esperto! E também tinha fome...
ó al, não comeces...olhó expresso...
Filipe era acima de tudo um Habsburgo, filho do Imperador Carlos V. A família Habsburgo era uma espécie de "holding" de reinos: Castela, Aragão, Austria, Hungria, Países Baixos, Nápoles, Sicília, etc. Não havia patriotismo nenhum. Havia reinos para gerir. Portugal veio a ser mais um. Por outro lado, o processo de sucessão foi um processo eminentemente jurídico e, claro, negociado com os 3 estados. Não só foram alargadas as mercês aos nobres, mercadores e cidades, como foram mantidas para o alto clero (o povo tb. não se lixou mais do que já estava. Continuou a servir de carne para canhão, agora ao serviço de causas abstrusas que culminaram no desastre da Invencível Armada). Conclusão: ao contrário do que nos ensinaram, Filipe não foi um usurpador, mas um legítimo sucessor e desejado pela grande maioria dos portugueses. Quem não o queria ver por cá eram muitos nobres espanhóis, com receio de que isso aumentasse o prestígio e poder do rei e lhes trouxesse a eles mais encargos no pagamento de impostos!
Qunto a Colombo, meu caro Anónimo, vamos definitivamente deixar o interessante assunto para outra altura, em que lhe prometo revelações sensacionais.
Outra vez as freiras...
Estou me deliciando com seus conhecimentos enciclopédicos da história, no seu livro, e AQUI.
Abçs e BOM FIM DE SEMANA!
Ainda bem que está a gostar do livro. Estava com receio que não fosse muito perceptível porque muitas das "ironias" tem que ver com a história da Península. Abraço.
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