28.7.08

CAVADORES DO MUNDO - LUCEFECIT

Passados oito dias de trabalho intenso em que oito intrépidos exploradores desafiaram as forças mais obscuras e insondáveis do planeta, agora que se fez luz, confesso que foi com receio e mesmo pânico que encarei a missão. Hoje constato, com alegria, que onde outros falharam, nós triunfámos. Americanos e russos tinham já enfiado as suas brocas terra adentro, tentando desvendar o âmago do planeta. Nada! Nem com as mais sofisticadas tecnologias. Apenas uns pequenos arranhões na crosta… Nada! Faltou-lhes o arrojo que a tecnologia não dá. O golpe de asa que o dinheiro não proporciona. Faltou-lhes o desenrascanço de um bando de luso-brasileiros. Furámos a Terra de lado a lado, apenas com as nossas pás!
As dificuldades foram diabólicas. Sei que muitos dos cavadores, agora que estão a são e salvo, vão contar uma história romanceada, mesmo poética, da saga por que passaram. A verdade, porém, é bem diversa. Eis os factos na sua crua rudeza!
Daqui ao centro da Terra são 6370 km. Dez km percorridos, a temperatura já está a 180º. A crosta terrestre, na rota escolhida, tinha aproximadamente 40km… mas duros como um corno. Primeiro rochas sedimentares. Depois veio o granito. A 7 km começou o basalto. Tudo muito escuro, sempre a subir para baixo ou a descer para cima, ninguém sabia.
A 650 km de profundidade chegámos, então, àquela zona de fronteira entre a crosta terrestre e o manto exterior, a chamada litosfera (do grego lithos – “pedra”). A crosta como que “flutua” em cima da camada de rocha mole chamada astenosfera (do grego “sem força”). Deixando a astenosfera em direcção ao centro da Terra, entramos no manto puro, responsável por 82% do volume total da Terra e de 65% da sua massa. São 2650 km de absoluto desconhecido. Temperatura, um horror. Tudo é fluído. Magma permanente.
Por todo o lado explosões de magma que passam como balas tracejantes a velocidade supersónica. São as “bombas de kimberlitos”. Trazem consigo toda a espécie de lixo subterrâneo: rochas de peridotite, cristais de olivina e, ocasionalmente… diamantes! Há muito carbono arrastado nestas explosões. Grande parte vaporiza-se ou transforma-se em grafite. Só raras vezes o lançamento sai a tal velocidade e esfria com a necessária rapidez para virar diamante. São os veios de kimberlitos!
Por baixo do manto, os dois núcleos. O núcleo interior, sólido e o núcleo exterior, líquido, responsável pela origem do magnetismo. Aqui a pressão é enorme. Três milhões de vezes superior à da superfície. Temperatura: 4000º a 7000º, quase a mesma que a da superfície do Sol. Não há gravidade. O núcleo externo gira de forma a transformar-se numa espécie de motor eléctrico, criando o campo magnético da Terra. Tudo está ligado ao facto de ser líquido. Os corpos celestes sem núcleo líquido, como a Lua ou Marte, não têm magnetismo. O magnetismo varia ao longo dos tempos, por razões que se desconhecem. É ele que nos proteje dos raios cósmicos perigosos que, na ausência de protecção, reduziriam o nosso ADN a farrapos. O campo magnético afasta esses raios da Terra, direccionando-os para as chamadas cinturas de Van Allen e também interage com partículas da atmosfera superior, dando origem às alucinantes cortinas de luz, conhecidas por auroras.
Aposto que se soubessem isto tudo, tinham pensado duas vezes antes de partirem...!
jp

13 comments:

Anonymous said...

Concordo plenamente. Ainda bem que só nos contou agora! Se soubessemos antes, eu não teria ido. Mas depois de entrar no PROJETO e no respectivo BURACO, com uma boa dose de TATUZINHO, fornecido gratuitamente pelo nosso patrocinador...fomos enfrente!

rsrsrs

roserouge said...

Muito divertido! Quero mais.

José Louro said...

Viagem virtual ao centro da Terra. Nem o próprio Julio Verne teria feito melhor.

Silvares said...

A Roserouge tem razão... queremos saber mais qualquer coisa, não sei bem que coisa, aquela coisa que está a faltar! Tu sabes.
:-)

Anonymous said...

Ainda estou chamuscado.

Luiz Carlos said...

vamos cavar mais!!!!

Ví Leardi said...

Loucuras desta internet ...ou seria do blog...?hoje cedo postei aqui o comentário que repito agora, pois ele sumiu....
Caro Jorge ainda bem que não sabiamos dos perigos que vc nos conta agora ..a preocupação teria sido terrível...ainda bem que todos estão saõs e salvos....maravilhoso e instrutivo resumo ...acho que muito aproveitamos e aprendemos nesta semana...Parabéns foi um prazer participar....Sentiremos falta ..e já esperando a próxima
Um abraço Vi

... said...

De uma maneira ou de outra cada um sabia, um pouco menos ou um pouco mais.
Mas prevaleceu a força de vontade, a decisão ferrenha de cada em atingir o seu objetivo, pois logo atras viria um companheiro da equipe.
Todos os membros da equipe estavam cientes das dificuldades, e prontos a descer a qualquer momento para ajudar o que estava no buraco.
Sobre as informações, técnicas científicas, geológicas, só a alta cúpula tinha conhecimento, no entanto estava tudo sobre contrôle.
E o sucesso foi total.
ab.

Jorge Pinheiro said...

E disse...

Anonymous said...

Jorge,

como você sugeriu fiz um RESUMO completo das postagens no Varal. Agora falta o LIVRO completo com os comentários...e essa façanha fica por sua conta, ou da Jugioli! Os poetas!

Jorge Pinheiro said...

Vamos pensar nisso. O seu resumo está óptimo. Depois falo com a Ju. Já tenho ideias. Amanhã sai a Tertúlia...

Só- Poesias e outros itens said...

Jorge, estou de volta e embora nas nuvens, as escavações foram um sucesso. O que resgatei foram tremendas paletas de cores, registradas pelo meu olhar.
Ser membro da equipe foi um grande privilégio.
Bjs.


JU Gioli

Jorge Pinheiro said...

É isso Ju. Vamos pensando. Se tiver de sair, saí!