29.7.08

O BRASIL E OS REIS CATÓLICOS

A 29 de Julho de 1501 D. Manuel I escreve aos Reis Católicos de Castela a comunicar-lhes a descoberta do Brasil. Tinha decorrido mais de um ano sobre o "achamento". Porquê a demora, tanto mais que, quando do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, a comunicação formal demorara apenas dois dias?!
Em Outubro de 1497, D. Manuel casou com a princesa Isabel, filha mais velha dos Reis Católicos. Ao mesmo tempo falecia D. João, único descendente varão daqueles monarcas, deixando grávida a mulher que, pouco depois, deu à luz um nado-morto. A sucessão de Castela e Aragão passou a recair sobre os reis de Portugal. Partiram para Castela onde, a 28 de Abril de 1498, em Toledo foram jurados herdeiros do trono de Castela. A 24 de Agosto, porém, e antes de serem jurados reis de Aragão, D. Isabel, mulher de D. Manuel, morre ao dar à luz o príncipe D. Miguel de Portugal (ou de La Paz), doravante sucessor das três coroas ibéricas (por acaso também morre com dois anos!). Após a morte da mulher, D. Manuel perde automaticamente a qualidade de presuntivo herdeiro aos tronos de Castela e de Aragão, pelo que regressa rapidamente a Lisboa. É à luz desta intrincada teia de interesses dinásticos que deve ser interpretada a estratégia política subsequente, nomeadamente a que se refere à expansão ultramarina.
A 9 de Março de 1500 zarpou de Belém a segunda armada para a Índia, comandada por Pedro Álvares Cabral (PAC). Depois de um misterioso desvio de rota para norte, quando os ventos o impeliam para sueste, a frota avista terra a 22 de Abril. A 25 de Abril, depois de contactos com os nativos (tupiniquins), os navios penetram na baía hoje chamada de Cabália. A 1 de Maio reza-se a primeira missa no ilhéu da Coroa Vermelha. Depois é içada uma enorme cruz, com as armas e a divisa o rei, na foz do rio Mutari. A 2 de Maio PAC retoma o caminho para a Índia, via Cabo da Boa Esperança. Nesse mesmo dia, Gaspar Lemos parte para Lisboa, com notícias do descobrimento das terras de Vera Cruz. A naveta Anunciada, de Gaspar Lemos terá chegado a Portugal entre Junho e Julho de 1500. Este foi o descobrimento oficial. Já antes (1498) Duarte Pacheco Pereira, 0 Aquiles Lusitano, tinha secretamente alcançado o Brasil (ver Esmeraldo de Situ Orbis). Porquê todo este mistério?
Os descobridores de Vera Cruz, provam-no os documentos, não tinham a mínima dúvida de que as terras estavam na área de influência portuguesa, conforme o Tratado de Tordesilhas.
Sucede, porém, que D. Manuel estava então viúvo. A estratégia de dominar os três reinos ibéricos saiu-lhe furada e estava a virar-se contra si. De facto, o seu filho e presuntivo herdeiro, Miguel de la Paz, ficara sob custódia dos avós, os Reis Católicos, o que lhes dava um assinalável meio de pressão sobre Lisboa.
Por isso toda a estratégia de descoberta e da comunicação foi mantida secreta. Não houve achamento, no sentido de ter sido por acaso, mas antes uma clara intenção imperial de garantir uma escala destinada a apoiar a operacionalidade da rota do Cabo (essa era a finalidade inicial do Brasil, até à alteração de estratégia ao tempo de D. João III). A comunicação só foi feita após a morte do príncipe D. Miguel de la Paz, evitando maior conflitualidade com Castela.
jp

12 comments:

Silvares said...

PAC... não consigo evitar ler essa sigla sem pensar na Política Agrícola Comum.

Anonymous said...

ahaahahahhaha, boa, boa!

Anonymous said...

Histórias, histórias, e cá estamos nós!( no Brasil!) Por culpa de vocês!

Jorge Pinheiro said...

Se não fossemos nós eram outros. Já pensou o Brasil colonizado pelos ingleses? Tudo a beber chá às cinco e a jogar criquete? E o samba? Adeus samba! E dEpois, não podiam fazer parte da CPLP... ISSO SIM SERIA MUITO GRAVE!

Alice Salles said...

AHAHAHAHHA
Graças aos portugueses somos esse mix "dus inféeerno!"

Isabel Magalhães said...

Gostei do artigo e gostei do comentário [July 29, 2008 8:03 PM] ;)

Anonymous said...

É verdade, Jorge FERREIRA Pinheiro, para que não se confunda com o outro! Só conheci hoje, graças ao absinto!

rsrsrs!

Abçs

Jorge Pinheiro said...

Ainda bem que concordam que ser descendente de portugueses é bom. Imaginem-se descendentes de russos!
PAC é de facto uma abreviatura com conotações...
Pois é, o Ferreira está lá por isso. Tudo tem explicação!

Ví Leardi said...

Up dating...


Caro Jorge...é a vc mesmo que me refiro no noVÍtá....eis o comentário que deixei para o Silvares...
******************************
Caro Silvares ...cofusão em termos pois o Jorge que aqui está no noVÍtá é sim o do Expresso da Linha...fiz algumas correções no texto e fonte para que não fiquem dúvidas...um Jorge tão merecedor de admiração quanto o outro...
Obrigada :-}

Jorge Pinheiro said...

Obrigado eu.

Maria Augusta said...

Jorge, eu ignorava este jogo do poder entre Portugal e Espanha na época da descoberta do Brasil e também que o "Aquiles Lusitano" havia chegado ao Brasil antes de Pedro Alvares Cabral. Muito interessante este post!
Abraços.

Jorge Pinheiro said...

Maria Augusta: isto é um resumo e apenas uma ínfima parte de toda a diplomacia-estratégica que esteve por detrás destes loucos anos de 1430 a 1530. Foi um século alucinate para as potências ibéricas.