O material está em permanente revolta com os músicos.
Os cabos são os principais inimigos. Cabos das colunas, dos microfones, das violas, simples “jecks”… Enfim, todos os cabos do mundo se revoltam: enrolam-se em convulsões reptilóides; dão nós piores que marinheiros; embrulham-se sobre si próprios; recusam soltar-se; alguns quase nos tentam estrangular!
As palhetas das violas estão sempre a tentar fugir das cordas, a deslizar entre dedos, a perder-se na névoa do palco.
As cordas das violas partem-se sem pré-aviso em pleno concerto, obrigando a prodígios de alteração harmónica para se notar o menos possível. O pior é que exigem uma enervante pausa no fim da música para enfiar nova. E, primeiro que uma corda nova se deixe afinar, é obra!
Depois, há problemas verdadeiramente graves: o fusível de um amplificador p`ro caraças! “ Quem é que trouxe a caixa dos fusíveis? - “Não foste tu?!” - “Eu, porra! Sabes perfeitamente que não sei nada dessas merdas!” - “Gaita, sou eu que tenho de tratar de tudo?” - “Tudo não… só tinhas de trazer a trampa da caixa! Ei pessoal do público, alguém tem um fusível destes lá em casa?”
Mas quem mais sofre é o baterista. Primeiro, a montagem daquela parafernália toda: suportes da tarola, prato de choques, rides, crashs e splashs; enfiar os pratos nos suportes, atarrachar abafadores e porcas de orelhas; apertar os timbalões ao bombo; cravar o bombo e aparafusar o pedal para bombar… Uma canseira! Depois, o desgraçado ainda tem de tocar e esperar que durante o concerto o bombo não comece com a habitual tendência para deslizar, fugindo cobardemente para a frente, enquanto o prato de choques se tenta esgueirar para a esquerda, impulsionado pelo efeito conjugado das pedaladas por baixo e marretadas por cima. As baquettes estão sempre loucas por saltar das mâos e atingir vingativamente o público. A pele da tarola não se ensaia nada por rebentar ao vivo… É a bronca final.!No fundo, o baterista está em permanente luta com as leis da física.
Depois ainda há as lesões profissionais.
Os baixistas têm dedos de aço para puxar aquelas cordas que mais parecem amarras de barco. Qualquer incauto que se ponha num bicho daqueles, ao fim de dez minutos tem os dedos a rebentar de bolhas. Os pianistas arriscam-se a graves tendinites e distensões musculares nos pulsos e lumbago para a vida toda. Já os percussionistas, esses precisam de mãos de ferro parA sacar som de congas e bongós. Os aros dos bongós são verdadeiros assassinos: rebentam vasos sanguíneos, provocando derrames nos sítios mais inesperados. As peles de cabra velha das congas deixam as manápulas em hematoma total. Ao fim de duas horas a batucar o sangue começa a alojar-se na ponta das unhas e, em casos extremos, pode mesmo esguichar!
Os sopros, em especial os flautistas, têm um problema de fundo: a pedrada! A erva faz secar horrivelmente a boca. Imaginem a gravidade da situação. Alguns chegam mesmo a não conseguir soprar ponta de um corno por falta de humidificação. Eu acho que isto pode, e deve, ser equiparado a doença profissional. Só se resolve aproximando uma rodela de limão que os põe imediatamente a salivar.
Finalmente há um problema que afecta todos: as lesões do ouvido interno, mais conhecidas por surdez. Que o diga o Pete Towsend, líder do “The Who”, que ficou mouco de tanto watt que lhe entrou pela trompa de Eustáquio abaixo.
Os cabos são os principais inimigos. Cabos das colunas, dos microfones, das violas, simples “jecks”… Enfim, todos os cabos do mundo se revoltam: enrolam-se em convulsões reptilóides; dão nós piores que marinheiros; embrulham-se sobre si próprios; recusam soltar-se; alguns quase nos tentam estrangular!
As palhetas das violas estão sempre a tentar fugir das cordas, a deslizar entre dedos, a perder-se na névoa do palco.
As cordas das violas partem-se sem pré-aviso em pleno concerto, obrigando a prodígios de alteração harmónica para se notar o menos possível. O pior é que exigem uma enervante pausa no fim da música para enfiar nova. E, primeiro que uma corda nova se deixe afinar, é obra!
Depois, há problemas verdadeiramente graves: o fusível de um amplificador p`ro caraças! “ Quem é que trouxe a caixa dos fusíveis? - “Não foste tu?!” - “Eu, porra! Sabes perfeitamente que não sei nada dessas merdas!” - “Gaita, sou eu que tenho de tratar de tudo?” - “Tudo não… só tinhas de trazer a trampa da caixa! Ei pessoal do público, alguém tem um fusível destes lá em casa?”
Mas quem mais sofre é o baterista. Primeiro, a montagem daquela parafernália toda: suportes da tarola, prato de choques, rides, crashs e splashs; enfiar os pratos nos suportes, atarrachar abafadores e porcas de orelhas; apertar os timbalões ao bombo; cravar o bombo e aparafusar o pedal para bombar… Uma canseira! Depois, o desgraçado ainda tem de tocar e esperar que durante o concerto o bombo não comece com a habitual tendência para deslizar, fugindo cobardemente para a frente, enquanto o prato de choques se tenta esgueirar para a esquerda, impulsionado pelo efeito conjugado das pedaladas por baixo e marretadas por cima. As baquettes estão sempre loucas por saltar das mâos e atingir vingativamente o público. A pele da tarola não se ensaia nada por rebentar ao vivo… É a bronca final.!No fundo, o baterista está em permanente luta com as leis da física.
Depois ainda há as lesões profissionais.
Os baixistas têm dedos de aço para puxar aquelas cordas que mais parecem amarras de barco. Qualquer incauto que se ponha num bicho daqueles, ao fim de dez minutos tem os dedos a rebentar de bolhas. Os pianistas arriscam-se a graves tendinites e distensões musculares nos pulsos e lumbago para a vida toda. Já os percussionistas, esses precisam de mãos de ferro parA sacar som de congas e bongós. Os aros dos bongós são verdadeiros assassinos: rebentam vasos sanguíneos, provocando derrames nos sítios mais inesperados. As peles de cabra velha das congas deixam as manápulas em hematoma total. Ao fim de duas horas a batucar o sangue começa a alojar-se na ponta das unhas e, em casos extremos, pode mesmo esguichar!
Os sopros, em especial os flautistas, têm um problema de fundo: a pedrada! A erva faz secar horrivelmente a boca. Imaginem a gravidade da situação. Alguns chegam mesmo a não conseguir soprar ponta de um corno por falta de humidificação. Eu acho que isto pode, e deve, ser equiparado a doença profissional. Só se resolve aproximando uma rodela de limão que os põe imediatamente a salivar.
Finalmente há um problema que afecta todos: as lesões do ouvido interno, mais conhecidas por surdez. Que o diga o Pete Towsend, líder do “The Who”, que ficou mouco de tanto watt que lhe entrou pela trompa de Eustáquio abaixo.
jp
Foto de José Maria Tavares Rosa.
8 comments:
Ossos do ofício...
sofremos todos.
bjs.
JU Gioli
E acartar com a tralha toda? Uma canseira. é por essas e por outras que já me deixei dessas andanças.
Agora há aqueles micros e guitarras sem fios que abrem umas tréguas entre músicos e material. Além disso, ensinou-me o meu defunto sogro, um homem que desenhava barcos antes de haver computadores, o material tem sempre razão. E não é que é verdade!? Vê lá se a falta de capacidade sopradora não é atribuível ao soprador, mais que ao objecto soprado. Quando muito pode culpar-se o objecto fumado, mas a falta de saliva é um efeito colateral de outras benesses mais difíceis de quantificar!
:-)
O MATERIAL TEM SEMPRE RAZÃO, do sogro do Silvares é uma frase lapidar!
Puxa ..um real esforço,nunca tinha visualisado assim...mas se ficam é porque tudo deve compensar o prazer de a si ... ouvir!
Ortega: não sejas mentiroso...
Silvares: tem alturas em que por mais razão que o material tenha apetece mesmo deitá-lo ao rio... mas é muito caro. Por exemplo, um mic sem fios custa cinco ou seis vezes mais que um normal. Ora isto tudo somado... é fazer as contas! Os Stones só usam wireless, mas são os Stones. Acresce que na altura não havia.
Ví: sem dúvida, quem corre por gosto...
Jorge, eu percebi que o texto se refre a uma época em que... as galinhas tinham dentes?
:-)
Mas não é a distância no tempo que retira razão ao material. Se não funciona é porque não pode. Ou está avariado ou mal montado. Seja qual for a razão não vai funcionar só porque o insultamos (mesmo que tenhamos razão para o fazer :-).
Claro... O que irrita é que ele, O MATERIAL, tem sempre razão, mas não tem pernas para ir sozinho e braços para se montar por si próprio!
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