No príncipio era pau contra pau. Ritual xamânico de hipnose colectiva. Depois vieram as marimbas tribais, com a sua escala aleatória. Milénios mais tarde alguém inventou o xilofone, com naturais e sustenidos idênticos ao piano. Tudo sempre em madeira.Depois, já no séc. XX, veio o metal e com ele o vibrafone. Instrumento surreal, esotérico, ondulante e envolvente, quente e frio, rápido ou lento, post-moderno e, simultaneamente, ancestral. Verdadeiramente “primitivo-futurista”.
O vibrafone é um xilofone em metal. As placas vibram e ressoam num oceano em permanente ondulação para dentro de tubos verticais. Um abafador de feltro, accionado por um pedal controla a sensação, evitando mistura de notas e a dissonância de frequências.
Contrariamente a outros instrumentos, o vibrafone deixa-se tocar com afabilidade. Basta soltar-lhe o abafador. O instrumento responde com prazer... Quaisquer três ou quatro notas fazem um vistaço. Até parece que sabemos tocar. O pior é continuar! O bicho entra em fúria. Ganha freio nos dentes. Empina-se... Salta... Escoiceia. Confunde frequências. Liberta dissonâncias a todo o galope. Cavalo selvagem, ansioso por derrubar o “cow-boy”.
É preciso saber dominar o animal. Assentar-lhe a sela... Puxar-lhe os arreios... Baixar-lhe a garupa. É preciso saber gerir o pedal. Abafar nota por nota com as baquettes (mais propriamente chamadas de malletes). Deixar vibrar até ao limite da ondulação sem misturar frequências, mas sem quebrar o “continuum” sonoro que é a característica fundamental do instrumento.
O vibrafone foi a minha grande paixão. Foi assim desde que ouvi o Gary Burton em duo com o Chick Corea, ao piano. O disco é o “Cristal Silence”. Tem temas fabulosos como “Señor Mouse” e “Desert Air”.
Só mais tarde ouvi conheci os grandes mestres. Milt Jackson, vindo dos anos cinquenta, companheiro do Miles e fundador do “Modern Jazz Quartet”. Um prodígio de sensibilidade e técnica. Depois ouvi o excitante Lionel Hampton, mais antigo, vindo dos tempos do “be-bop”. Uma espécie de Amstrong dos “vibes”. Para variar, ambos já morreram!
jp
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