Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar.
Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa "Organização" que tenta, desesperadamente, criar o "Quinto Império", a união espiritual do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha persegue o tempo atrás do mito...
Nota 1: Arnaldo Rocha ou Cavaleiro de Gondemar, oriundo de Portugal ou da Galiza, é um personagem histórico que terá sido um dos membros fundadores da Ordem dos Templários, em 1118. Tudo o resto nestas histórias que hoje se iniciam é ficção.
Nota 2: as "Aventuras de Arnaldo Rocha" são cinco histórias divididas por episódios, e serão publicadas todas as terças e sextas feiras, em simultâneo, em Portugal, no "Expresso da Linha" e no Brasil, no "Varal de Ideias".
EPISÓDIO I
“Senhores passageiros, estamos a iniciar a descida para o Aeroporto Internacional de Lisboa. São 19 horas locais. O tempo está chuvoso e a temperatura é de 17 graus centígrados. O comandante Paulo Sérgio deseja que tenham feito uma boa viagem a bordo do nosso Airbus 320 e espera vê-los proximamente nos voos da TAP”.
Poucos minutos depois o avião aterrou suavemente na humidade pegajosa do Inverno lisboeta.
Sentado nas filas traseiras, um homem de estatura mediana, excessivamente magro, entradas pronunciadas, óculos “Armani” e idade indefinida, levanta-se calmamente. Veste uma gabardina clara, que o torna ainda mais esguio. Sem pressa, deixa que o avião se vá esvaziando. Sai sem bagagem, misturado com um grupo ruidoso em turismo de terceira idade.
Ao passar pela tripulação não repara que a chefe de cabina o segue intensamente com o olhar enquanto ele percorre a manga de saída. Também não a vê enviar, subrepticiamente, uma curta mensagem pelo telemóvel: “O homem chegou”.
À volta dos tapetes rolantes uma turba expectante aguarda, impaciente, a chegada das malas. O homem da gabardina colocou-se estrategicamente à saída das bagagens. De repente, com movimento rápido, retira uma mala pequena, castanha escura. Move-se com agilidade por entre a multidão. Entra numa casa de banho da parte antiga da sala de chegadas e fecha-se nos lavabos. Com gestos precisos retira a etiqueta presa à asa da mala e guarda-a no bolso da gabardina. Põe os pés em cima da sanita, afasta uma placa do tecto falso e esconde a mala. Quem mais tarde a encontrar, verificará que ela apenas contém jornais velhos.
Veste a gabardina ”double face” do lado castanho e põe um chapéu mole de “tweed” esverdeado. Quando regressa ao tapete é outro homem. Ninguém repara nele. Aguarda pacientemente que o tapete se imobilize e, juntamente com mais seis pessoas, dirige-se para o serviço de “lost and found” para reclamar perda de bagagem.
Os “perdidos e achados” ficam lá em baixo, bem encostados ao fundo da parte renovada da sala de chegadas que, entretanto, se vai lentamente esvaziando.
O nosso homem entra no apertado cubículo, onde se ouve reclamar em vários idiomas. Passageiros exaltados por entre o permanente marulhar do telex e um irritante telefone agudo que ninguém parece interessado em atender.
Lá de dentro sai uma mulher madura com ar de quem detém posição graduada. Rosto felino, lábios fartos, boca devastadora, seios arrojados… vagamente italiana. Faz-lhe um discreto sinal. Ele aproxima-se. Ela pergunta-lhe o nome. “Arnaldo Rocha”, responde. “A sua mala veio no voo anterior”, diz-lhe ela com voz profissional e manda-o entrar para dentro do terminal de bagagem, longe dos olhares de passageiros e funcionários.
Sem uma palavra, ele entrega-lhe o talão que retirara da mala escondida no W.C. As mãos roçam levemente e ele tem a certeza de a conhecer de uma qualquer missão anterior. Ela levanta uma mala castanha escura, idêntica à anterior. Coloca habilmente o “ticket” que acabara de receber e entrega-lha.
Ele encara-a de frente e antecipa-lhe nos olhos o êxtase do orgasmo. Não resiste. Sussurra-lhe a morada onde vai ficar… Este foi o seu primeiro erro!
Poucos minutos depois o avião aterrou suavemente na humidade pegajosa do Inverno lisboeta.
Sentado nas filas traseiras, um homem de estatura mediana, excessivamente magro, entradas pronunciadas, óculos “Armani” e idade indefinida, levanta-se calmamente. Veste uma gabardina clara, que o torna ainda mais esguio. Sem pressa, deixa que o avião se vá esvaziando. Sai sem bagagem, misturado com um grupo ruidoso em turismo de terceira idade.
Ao passar pela tripulação não repara que a chefe de cabina o segue intensamente com o olhar enquanto ele percorre a manga de saída. Também não a vê enviar, subrepticiamente, uma curta mensagem pelo telemóvel: “O homem chegou”.
À volta dos tapetes rolantes uma turba expectante aguarda, impaciente, a chegada das malas. O homem da gabardina colocou-se estrategicamente à saída das bagagens. De repente, com movimento rápido, retira uma mala pequena, castanha escura. Move-se com agilidade por entre a multidão. Entra numa casa de banho da parte antiga da sala de chegadas e fecha-se nos lavabos. Com gestos precisos retira a etiqueta presa à asa da mala e guarda-a no bolso da gabardina. Põe os pés em cima da sanita, afasta uma placa do tecto falso e esconde a mala. Quem mais tarde a encontrar, verificará que ela apenas contém jornais velhos.
Veste a gabardina ”double face” do lado castanho e põe um chapéu mole de “tweed” esverdeado. Quando regressa ao tapete é outro homem. Ninguém repara nele. Aguarda pacientemente que o tapete se imobilize e, juntamente com mais seis pessoas, dirige-se para o serviço de “lost and found” para reclamar perda de bagagem.
Os “perdidos e achados” ficam lá em baixo, bem encostados ao fundo da parte renovada da sala de chegadas que, entretanto, se vai lentamente esvaziando.
O nosso homem entra no apertado cubículo, onde se ouve reclamar em vários idiomas. Passageiros exaltados por entre o permanente marulhar do telex e um irritante telefone agudo que ninguém parece interessado em atender.
Lá de dentro sai uma mulher madura com ar de quem detém posição graduada. Rosto felino, lábios fartos, boca devastadora, seios arrojados… vagamente italiana. Faz-lhe um discreto sinal. Ele aproxima-se. Ela pergunta-lhe o nome. “Arnaldo Rocha”, responde. “A sua mala veio no voo anterior”, diz-lhe ela com voz profissional e manda-o entrar para dentro do terminal de bagagem, longe dos olhares de passageiros e funcionários.
Sem uma palavra, ele entrega-lhe o talão que retirara da mala escondida no W.C. As mãos roçam levemente e ele tem a certeza de a conhecer de uma qualquer missão anterior. Ela levanta uma mala castanha escura, idêntica à anterior. Coloca habilmente o “ticket” que acabara de receber e entrega-lha.
Ele encara-a de frente e antecipa-lhe nos olhos o êxtase do orgasmo. Não resiste. Sussurra-lhe a morada onde vai ficar… Este foi o seu primeiro erro!
(CONTINUA na 6ªFeira, 19/9)
jp
6 comments:
Ora bem!
Ressuscitou!
Vamos ter BD virtual da melhor.
Ainda bem.
Com algum trabalho o personagem vai encontrar conteúdo para permitir a edição em papel.
Vamos ficar à espera.
Jorge,
as postagens da série estão todas prontas e com postagens previstas. Não dá para mudar nada!
Abçs
Obrigado, Antoniao. Vamos ver. A leitura é um pouco extensa para blogue. É uma experiência.
Eduardo: não tem problema. Está quase igual.
Boa! Um verdadeiro Philip Marlowe à la Jorge F.P. "I see him always in a lonely street, in lonely rooms, puzzled but never quite defeated." Isto promete, venham mais!
Aqui se le mais do que no Varal. O públoico do Varal além do vento, passa correndo! ....rsrsrs!
A história merece mesmo um bom livro impresso em papel! Nada substitui a leitura de um bom livro.
Pois, Eduardo, mas não está fácil. Sem dúvida esta é uma história para papel, mas vamos ver como resulta assim. O problema é que quem não pega no princípio, depois não percebe nada.
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