Entretanto, com mais ou menos metafísica, os concertos do “Ephedra” iam continuando, quase independentemente da nossa vontade.
Entidades diversas contactavam para dar um toque modernista à coisa. Às vezes não queríamos, mas havia sempre a prestação do equipamento a pagar...!
Nessa altura entraram na moda os “festivais regionais” nos sítios mais extraordinários. As Praças de Touros começaram a ter utilização alternativa. A acústica era péssima: o som rebolava, circulava, retrocedia, avançava, ecoava... uma merda!
Primeiro tocámos na Praça de Touros de Santarém, numa verdadeira tarde de “Sol e Touros”, juntamente com os “Arazen”. Palco improvisado entre tábuas. Umas dezenas de forcados psicadélicos e marialvas lisérgicos. Saída em ombros, com rabo e orelhas, direitos a uma caldeirada de chocos.
Seguiu-se a Praça de Touros do Montijo. Seis ou sete bandas, sob a designação ligeiramente elitista de “Música Conceitualto”. Trapalhada total na organização. Contratos verbais. Discussões orais. Ameaças judiciais. Tintos regionais… Tudo a começar às 15 horas ou seja, pontualmente às 18 no horário cósmico-lusitano que, como todos sabem, funciona num fuso indeterminado.
Nós éramos os penúltimos. Depois só o “Objectivo”. Passámos sete horas encerrados nos curros, camarins improvisados gentilmente cedidos pela “Organização”. Stress taurino. Charro atrás de charro. Angústia de cristão antes de ser lançado às feras…
O “tio” Rui, nosso guru na época, ruminava 28 vezes por garfada o arroz integral de ervilhas com cenouras que o acompanhava permanentemente em pequenos taparueres religiosamente escondidos no vasto bornal de campanha. Nós ajavardávamos bifanas de porco a escorrer mostarda, engolidas a poder de tinto roxo de Almeirim.
Às dez da noite o estado era de coma profundo quando, finalmente, nos vieram enxotar para a arena. Tocar era definitivamente o que menos nos apetecia. Não havia palco. Apenas um estrado directo na areia. A “Organização” não tinha previsto luzes nocturnas ou então ninguém encontrou o interruptor. Tocámos atrás de uma gigantesca fogueira improvisada, rodeados pela negritude das bancadas onde se adivinhava existir público. Foi xamânico. Foi ritual! Será que alguém se lembra? Talvez o Fogo.
O Fogo e o jornalista José Jorge Letria que, novamente no Diário de Lisboa, fazia a seguinte crítica. Dizia ele: ”… O rock, quando produzido ao vivo, é mais importante pelo modo como proporciona a aglomeração das pessoas do que pelas propostas musicais que veicula. Mesmo assim, queremos referir, para além da pobreza quase generalizada dos grupos, que se perderam em versões de trazer por casa, a agressividade ainda incipiente dos “Kama Sutra” e a grande segurança do “Status”. Para os “Ephedra” uma palavra de confiança: de todos os grupos que se exibiram, sábado, no Montijo, eles são, pese embora a pouca maturidade que revelam, os que possuem um som mais personalizado e elaborado, em termos de pesquisa e de entrega individual por parte dos músicos. No que concerne ao “Objectivo”, há a assinalar o profissionalismo que caracteriza as máquinas de fazer música. Enfim: “Música Conceitualto 72” ou, para muitos, a tauromaquia refrescada”.
Entidades diversas contactavam para dar um toque modernista à coisa. Às vezes não queríamos, mas havia sempre a prestação do equipamento a pagar...!
Nessa altura entraram na moda os “festivais regionais” nos sítios mais extraordinários. As Praças de Touros começaram a ter utilização alternativa. A acústica era péssima: o som rebolava, circulava, retrocedia, avançava, ecoava... uma merda!
Primeiro tocámos na Praça de Touros de Santarém, numa verdadeira tarde de “Sol e Touros”, juntamente com os “Arazen”. Palco improvisado entre tábuas. Umas dezenas de forcados psicadélicos e marialvas lisérgicos. Saída em ombros, com rabo e orelhas, direitos a uma caldeirada de chocos.
Seguiu-se a Praça de Touros do Montijo. Seis ou sete bandas, sob a designação ligeiramente elitista de “Música Conceitualto”. Trapalhada total na organização. Contratos verbais. Discussões orais. Ameaças judiciais. Tintos regionais… Tudo a começar às 15 horas ou seja, pontualmente às 18 no horário cósmico-lusitano que, como todos sabem, funciona num fuso indeterminado.
Nós éramos os penúltimos. Depois só o “Objectivo”. Passámos sete horas encerrados nos curros, camarins improvisados gentilmente cedidos pela “Organização”. Stress taurino. Charro atrás de charro. Angústia de cristão antes de ser lançado às feras…
O “tio” Rui, nosso guru na época, ruminava 28 vezes por garfada o arroz integral de ervilhas com cenouras que o acompanhava permanentemente em pequenos taparueres religiosamente escondidos no vasto bornal de campanha. Nós ajavardávamos bifanas de porco a escorrer mostarda, engolidas a poder de tinto roxo de Almeirim.
Às dez da noite o estado era de coma profundo quando, finalmente, nos vieram enxotar para a arena. Tocar era definitivamente o que menos nos apetecia. Não havia palco. Apenas um estrado directo na areia. A “Organização” não tinha previsto luzes nocturnas ou então ninguém encontrou o interruptor. Tocámos atrás de uma gigantesca fogueira improvisada, rodeados pela negritude das bancadas onde se adivinhava existir público. Foi xamânico. Foi ritual! Será que alguém se lembra? Talvez o Fogo.
O Fogo e o jornalista José Jorge Letria que, novamente no Diário de Lisboa, fazia a seguinte crítica. Dizia ele: ”… O rock, quando produzido ao vivo, é mais importante pelo modo como proporciona a aglomeração das pessoas do que pelas propostas musicais que veicula. Mesmo assim, queremos referir, para além da pobreza quase generalizada dos grupos, que se perderam em versões de trazer por casa, a agressividade ainda incipiente dos “Kama Sutra” e a grande segurança do “Status”. Para os “Ephedra” uma palavra de confiança: de todos os grupos que se exibiram, sábado, no Montijo, eles são, pese embora a pouca maturidade que revelam, os que possuem um som mais personalizado e elaborado, em termos de pesquisa e de entrega individual por parte dos músicos. No que concerne ao “Objectivo”, há a assinalar o profissionalismo que caracteriza as máquinas de fazer música. Enfim: “Música Conceitualto 72” ou, para muitos, a tauromaquia refrescada”.
6 comments:
Esses concertos deviam ser grandes touradas...
Faço idéia das pegas de caras que devia haver pra lá...
Também havia algumas de serenelha(?) serenela(?) cerenelha (?)
Apelo a vós, eméritos guardiões (...ãos?)da língua de Camões!
Cernelha, eu acho...também é giro...
Fica então cerenelha e não se fala mais nisso.
vi, li, deve ter sido FORMIDAVEl e como vc. escreve bem, sabe cada vez mais amo o seu blog!
muitos beijosssssssssssss
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