Cachaça ou pinga (tb. cânha, no Rio Grande do Sul) é o nome da aguardente de cana, hoje mundialmente famosa pela proliferação da caipirinha em países tão longínquos como a própria Rússia.
O nome terá origem ibérica, podendo vir do termo "cachaza", um vinho inferior bebido na Península ou do termo "cachaço" (porco) ou "cachaça" (porca). A carne de porco selvagem no norte e nordeste era muito rija. Por isso era amaciada com álcool vínico a que se chamava "cachaça". Este nome, conhe
cido nas quintas fidalgas do Minho, foi mencionado pela primeira vez por Sá de Miranda (1481-1532) em correspondência a António Pereira, senhor de Basto.
A "cachaça", tal como a conhecemos, obtém-se da destilação do fermentado da cana-de-açúcar ou do melaço. O álcool fermentado, como, por exemplo, no vinho, é um álcool natural. O álcool destilado é um produto sintético. A bem dizer, os destilados são a primeira droga sintetizada do mundo, precedendo em muitos séculos a heroína, a cocaína ou o LSD.
A inalação de vapores de álcool através de aquecimento do produto da fermentação era conhecido desde os egípcios e, depois, no tempo dos gregos e dos romanos. Os alquimistas atribuíam-lhe propriedades mistico-medicinais. É a água de vida (eau de vie), o elixir da longa vida. Pensavam ter capturado o "espírito" do álcool. Ainda hoje se chama aos destilados bebidas "espirituosas".
A água que pega fogo (acqua ardens) chega, através dos romanos, ao Médio Oriente e são os árabes que descobrem os equipamentos de destilação semelhantes ao usados ainda hoje, os alambiques. Dão o nome de al raga à aguardente, sendo a mais célebre a arak, da península arábica.
A tecnologia árabe espalha-se. Na Itália surge a grappa (da destilação da uva); na Gemânia o Kirsch (da cereja); a seevivice, na zona da actual República Checa (da ameixa); na Escócia surge o whisky (da cevada sacarificada); em Portugal destila-se o bagaço da uva, isto é o engaço remanescente do mosto, dando origem à bagaceira.
O processo de destilação artesanal de cachaça começou em 1532, quando o colonizador português Martim Afonso de Sousa levou os primeiros cortes de cana-de-açúcar da ilha da Madeira para o Brasil (na Madeira, a bebida chama-se poncha). Esta primitiva cachaça ou garapa azeda é dada aos escravos. É, apesar de tudo, uma "bebida limpa", em comparação co o cauim produzido pelos índios que cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar a fermentação do milho.
A geração inicial de de colonizadores portugueses mantinha-se fiel a uma boa bagaceira e a um vinho tradicional do Porto. A partir de finais do séc. XVI, porém, multiplicam-se os engenhos de áçucar e a produção de cachaça, em especial na zona de Minas Gerais, onde acabara de ser descoberto ouro.
Incomodada com a quebra de impostos sobre os produtos vínicos nacionais e alegando que a cachaça prejudicava a retirada de ouro de Minas Gerais (o bagaço não, está claro!), a corte portuguesa proibe a partir de 1653 a produção e comercialização de cachaça. Sem resultados, a corte resolve, então, taxar o produto. Em 1756 os impostos sobre a cachaça foram um importante contributo para a reconstrução de Lisboa depois do terramoto.
A cachaça viria a ser, já no princípio do século XIX, um dos símbolos da liberdade brasileira. A chamada aguardente da terra é símbolo de resistência da "Inconfidência Mineira" que viria a ser o princípio da independência da colónia. Quando beberem uma caipirinha lembrem-se dos heróis da resistência, pela boca dos quais passou a ardência destilada do fervor nacional.
jp
6 comments:
Jorge...Nada como uma cachaça de qualidade...verdadeiros "licores" de nuances e sabores arrebatadores.
Não sou nenhuma expert, mas desde cedo na fazenda,adorava o cheiro da cachaça que vinha do alambique.
Aqui em São Paulo no maravilhoso "Mercado Central"( que vindo ao Brasil,não podes deixar de ir conhecer)se encontram cachaças do mundo todo e da maior qualidade.Como já disse verdadeiros licores que por vezes são vendidos a preço de ouro...mas que valem cada tostão...Um programa ímpar estando aqui...Caipirinha com um extraordinário sanduiche da melhor mortadela que podes encontrar, em um ambiente fascinante onde se tem vontade de registrar cada canto com seu colorido e fartura fascinantes...Não esqueças tua máquina (rsrsrs)
Um ótimo Domingo.
E ainda dizem que cachaça é água...
...cachaça não é água, não
cachaça vem do alambique
e a água vem do ribeirão...
Outra receita de cachaça, é com PITANGA. Aqui elas estão maduras no final de Outubro início de novembro, e tive um grande amigo que no dia do meu aniversário aparecia em casa, com uma garrafa da melhor PINGA, e uma cestinha de PITANGAS. De beber, babando de joelhos!
Quanta aprendizagem está aqui, Jorge...
Muito bem.
Aprendi umas coisas que não sabia.
Ab.
Eu sabia que a informação iria ser enriquecida pelos meus amigos do Brasil. Mas fiquei sem saber qual é a especialidade da "azuladinha", ali de Parati. Já foram à "Academia da Cachaça", no Rio?
Já agora, este post é meramente académico. Eu sou completamente abstémio (agora!).
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