RAFAEL BORDALO PINHEIRO - ZÉ POVINHO

Bordalo Pinheiro (1846-1905) foi desenhador, aguarelista, caricaturista poítico, jornalista e ceramista. Viveu numa época fértil em episódios políticos rocabolescos e caricatos. Um regime de monarquia parlamentar caduco e à beira da república, que viria a ser declarada em 1905, ano em que Bordalo morre. Celebrizou-se pelas suas caricaturas moradazes, com destaque para a figura do Zé Povinho que passou a simbolizar o povo português. A partir de 1884, Bordalo vai chefiar o departamento artístico da Fábrica de Fainças das Caldas, contribuindo decisivamente para uma renovação a cerâmica Caldense. Para além de loiça decorativa, introduz a representação de muitas das suas figuras anteriormente caricaturizadas: o Zé Povinho; a Maria Paciência; o polícia; o padre tomando rapé; o sacristão, etc. Muitas dessas peças estão representadas na foto e são originais de Bordalo.

O Zé Povinho (também conhecido por João Bítor, porque gostava muito de binho e de xixa) foi representado em várias atitudes e copiada à exaustão por vários seguidores de Bordalo. Ele dizia da sua criação: "O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e fica, como sempre, na mesma". Apesar de paciente, submisso e apático, o Zé Povinho também é rebelde e insolente. O gesto do manguito representa a sua faceta de rebeldia. Acima de tudo esta caricatura critica o próprio povo português na sua característica de eterna revolta perante quem o governa, embora pouco ou nada fazendo para alterar a situação... esgotando-se no manguito!

As peças pertencem à colecção particular de António Neto Brandão, a quem agradeço a oportunidade de as fotografar.

jp