Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar. Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa “Organização” que tenta, desesperadamente, criar o “Quinto Império”, a união do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha percorre o tempo atrás do mito.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Varal de Ideias”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Varal de Ideias”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
EPISÓDIO VI (continuação)
A Sé ergue-se sobre a antiga mesquita de Lisboa. Uma mesquita de cinco naves, em tempos vermelha. No seu estilo romano-gótico, a Sé é um dos baluartes que resistiu à derrocada do terramoto de 1755, embora o claustro tenha ficado uma desgraça.
A “Tocata e Fuga “, de Bach, reverbera nas ábsides intemporais. Arnaldo irrompe encharcado pelo nártex, passando a fachada normanda sobrepujada por duas torres laterais amuralhadas, rasgadas pelo arco de acesso à porta principal, coroado por ampla rosácea. Grossos pingos de chuva arpejam nos estreitos vitrais da Catedral. Luz baça, quase inexistente, transforma todas as sombras em ameaça abissal.
Arnaldo sobe a estreita porta de um dos torreões normandos. Por momentos tem o vislumbre paranóico de um casal de preto percorrendo as capelas ogivais da “charola”.
Entra na sala do Capítulo, mandada construir por D. João V, hoje Museu de Arte Sacra. Sobre o soalho de carvalho escuro, uma mesa descomunal. Ali se reunia o Cabido da Sé: o Patriarca de Lisboa e os vinte e quatro cónegos da cidade… Ali estavam quando, a 1 de Novembro de 1755, a terra se revoltou e deixou a cidade sem Deus.
Arnaldo misturou-se com um grupo de velhotas, a quem a guia explicava pacientemente: “Aqui, dentro desta vitrina, está o maior tesouro nacional. A Custódia “dita de D. José”, executada em 1760, pelo ourives Joaquim Caetano e Carvalho. Toda em ouro e prata dourada, desenvolve-se em cinco patamares, tendo em baixo a Arca da Aliança, fonte de todos os poderes, e vai subindo em andares de rubis e diamantes, ladeados por anjos e coruchéus, até ao duplo cristal solar, que purifica a hóstia”.
As velhotas, boquiabertas de espanto, seguiram para a vitrina seguinte. Arnaldo puxou discretamente da mini câmara digital e apontou ao centro do cristal. No visor apareceu piscando o número 15!
Arnaldo agradeceu à guia e saiu desorientado: “Nº 15, nº 15… que charada seria aquela?”.
A febre aumentava. Pensou em hospitais… farmácias. Sentiu-se um doente sem fronteiras. Não havia tempo a perder. Tinha uma missão a cumprir.
A “Tocata e Fuga “, de Bach, reverbera nas ábsides intemporais. Arnaldo irrompe encharcado pelo nártex, passando a fachada normanda sobrepujada por duas torres laterais amuralhadas, rasgadas pelo arco de acesso à porta principal, coroado por ampla rosácea. Grossos pingos de chuva arpejam nos estreitos vitrais da Catedral. Luz baça, quase inexistente, transforma todas as sombras em ameaça abissal.
Arnaldo sobe a estreita porta de um dos torreões normandos. Por momentos tem o vislumbre paranóico de um casal de preto percorrendo as capelas ogivais da “charola”.
Entra na sala do Capítulo, mandada construir por D. João V, hoje Museu de Arte Sacra. Sobre o soalho de carvalho escuro, uma mesa descomunal. Ali se reunia o Cabido da Sé: o Patriarca de Lisboa e os vinte e quatro cónegos da cidade… Ali estavam quando, a 1 de Novembro de 1755, a terra se revoltou e deixou a cidade sem Deus.
Arnaldo misturou-se com um grupo de velhotas, a quem a guia explicava pacientemente: “Aqui, dentro desta vitrina, está o maior tesouro nacional. A Custódia “dita de D. José”, executada em 1760, pelo ourives Joaquim Caetano e Carvalho. Toda em ouro e prata dourada, desenvolve-se em cinco patamares, tendo em baixo a Arca da Aliança, fonte de todos os poderes, e vai subindo em andares de rubis e diamantes, ladeados por anjos e coruchéus, até ao duplo cristal solar, que purifica a hóstia”.
As velhotas, boquiabertas de espanto, seguiram para a vitrina seguinte. Arnaldo puxou discretamente da mini câmara digital e apontou ao centro do cristal. No visor apareceu piscando o número 15!
Arnaldo agradeceu à guia e saiu desorientado: “Nº 15, nº 15… que charada seria aquela?”.
A febre aumentava. Pensou em hospitais… farmácias. Sentiu-se um doente sem fronteiras. Não havia tempo a perder. Tinha uma missão a cumprir.
(continua na 3ª feira)
jp
2 comments:
O terremoto de Lisboa, já ouvi falar sobre ele mas não sabia em que ano ele ocorreu nem a extensão de estragos que causou. Neste post fiquei sabendo que este terremoto aconteceu em novembro de 1755, que a Sé é uma antiga mesquita, além de ter uma dica a mais sobre a missão do Arnaldo. História, patrimônio e aventura, a série continua muito boa.
Abraços.
O terramoto foi um dos maiores cataclismos dos tempos modernos e foi no Dia de Todos os Santos!
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