De repente, tudo se resolveu. Com a crise acabaram as acaloradas disputas sobre a localização do novo aeroporto. Ninguém mais fala dos trajectos alternativos do TGV. As pontes sobre o Tejo perderam utilidade. As acções descem alegremente na bolsa até rebentarem com os índices e, aparentemente, ninguém se parece importar. As empresas deixam de ter serviços e os serviços deixam de ter empresas. O povo deixa de ter emprego. O dinheiro deixa de poder comprar coisas que não há para vender... As crises começam assim. Depois não se sabe onde vão parar. Culpas? Para quê? Alguém vai a julgamento? Os tribunais também estão em crise! E, no fundo, todos temos culpas. Somos nós que somos o “sistema”. Uns mais que outros, é certo. Mas todos estamos enterrados nisto até às orelhas. Somos agentes activos. Passivos. Pactuamos. Deixamos andar. Não queremos saber. Temos mais que fazer. Eles que decidam…! Rebentou o comunismo. Satisfeitos, rebentámos com o capitalismo. Não queremos voltar ao fascismo. Temos medo do fundamentalismo. Temos medo de tudo. Até da própria sombra. Se o dinheiro existe, para onde foi todo? Andámos anos a alimentar o sistema financeiro para descobrir, agora, que não há dinheiro? Era tudo virtual? A virtualidade abateu-se sobre o sistema, mostrando a nua realidade da ficção financeira feita de créditos coercivos em roda livre, na lógica de casino. De repente os governos e os políticos entraram todos em contradição. O que ontem era bom deixou de ser. O que era negativo continua a não ser positivo e o que era positivo é francamente negativo. O Estado passa a ser dono da asneira privada e em breve será dono da asneira pública.
No meu bairro, o Sr. Zé tem uma loja de arranjo de sapatos tipo remendão. Está cá quase desde a fundação, já lá vão 40 anos. Mantém frente à loja, no espaço público, uma frondosa horta de couve-galega que trata com desvelo. Durante anos foi objecto de sarcasmo velado por parte de vizinhos que ironizavam sobre a “horta biológica” do sapateiro. Afinal vemos hoje que ele é que tem razão. A velha política do “botas” (nome carinhoso dado a Salazar) que encheu de couve-galega e batatas o espaço público residual, chegando ao ponto de haver hortas nos três metros de protecção das linhas-férreas, vai voltar. Primeiro a couve, depois uma batatinha, a seguir um ligeiro nabo, uma rodela de chouriço e, já agora, um fio de azeite. Vai tudo a cozer e temos a velha receita da "Sopa de Pedra". Portugal está salvo. Animem-se!
No meu bairro, o Sr. Zé tem uma loja de arranjo de sapatos tipo remendão. Está cá quase desde a fundação, já lá vão 40 anos. Mantém frente à loja, no espaço público, uma frondosa horta de couve-galega que trata com desvelo. Durante anos foi objecto de sarcasmo velado por parte de vizinhos que ironizavam sobre a “horta biológica” do sapateiro. Afinal vemos hoje que ele é que tem razão. A velha política do “botas” (nome carinhoso dado a Salazar) que encheu de couve-galega e batatas o espaço público residual, chegando ao ponto de haver hortas nos três metros de protecção das linhas-férreas, vai voltar. Primeiro a couve, depois uma batatinha, a seguir um ligeiro nabo, uma rodela de chouriço e, já agora, um fio de azeite. Vai tudo a cozer e temos a velha receita da "Sopa de Pedra". Portugal está salvo. Animem-se!
jp
8 comments:
Jorge
Não nos convidaram para a festança, mas vão nos chamar para ajudar na limpeza do salão.
E temos de pagar os produtos de limpeza...
Até é bom, ajuda a fazer a digestão da sopa da pedra...
Acho que o post e os excelentes comentários definem a crise com grande aquidade!
Mexer na terra é altamente anti-depressivo
Claire: é o que eu digo. Esta crise só tem vantagens!
Como sempre, o seu Zé das Couves não deixa de existir. Felizmente, sempre haverá um Zé das Couves.
Exactamente, Marcos.
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