D. Dinis, o Lavrador, nasceu a 9 de Outubro de 1261. Teria hoje 747 anos. E é pena que não esteja vivo. Era homem para dar uma ajuda na crise. Provavelmente o "melhor português de sempre", D. Dinis foi um renovador e um homem de grande visão. Centralizou o poder, acabando com os desmandos governativos da nobreza provinciana e, simultaneamente, concedendo autonomia aos munícipios, através de inúmeros forais (cartas de direitos e deveres que libertavam as terras do jugo feudal). Celebrou com Castela o Tratado de Alcanissas que fixou definitivamente as fronteiras de Portugal. Fundou os "Estudos Gerais" (primeira universidade), inicialmente em Lisboa, depois transferida para Coimbra. Ele próprio foi grande poeta de trovadoras cantigas de amigo, "ai Deus e o é..." Acolheu os Templários fugidos de França e fundou a Ordem de Cristo que viria a ser responsável pelo planeamento e condução dos Descobrimentos Marítimos. Mandou plantar o Pinhal de Leiria, numa extensa zona de areias que foi conquistada ao mar. As madeiras serviriam para as naus que correram as sete partidas do mundo. Tudo isto o rei planeou. Mas o seu feito principal foi, sem dúvida, ter-se casado com uma santa, a Rainha Santa Isabel de Aragão. Toda a gente sabe como é difícil conviver com uma santa. "Não mexas aí, Dinis! Tira já a mão. Olha que levas!". Deveria ser difícil conviver com uma santa naqueles castelos gelados, cheios de Espírito Santo, muito difícil. Diz-se que o rei ia muitas vezes fora de portas. Encontrava consolo para os lados do Convento de Odivelas, onde freiras convidativas lhe davam merecidas boas vindas. Sete filhos bastardos atestam que o Espírito Santo estava de facto por todo lado. "Ide vê-las... Ide vê-las!". Assim despachava, sem complacências, a rainha o melhor rei da Europa. E ele "idevelas". Ou seja, Odivelas, hoje uma cidade dormitório de Lisboa. 500 anos depois D. João V também frequentava aquele magnífico estabecimento conventual e de lá sairam mais bastardos, os célebres "meninos de Palhavã". Ainda hoje, muita marmelada lá se faz. Uma marmelada branca e deliciosa feita pelas mãos delicadas das "meninas de Odivelas" que frequentam a instituição, hoje um colégio para as filhas dos oficiais das Forças Armadas (tenho uma cá por casa!). Um dia destes voltaremos ao "Sexo no Convento", a propósito dessa deliciosa história dos "meninos de Palhavã".
jp
5 comments:
É, sem dúvida, UM DOS MELHORES PORTUGUESES DE SEMPRE !
O seu texto é de grande interesse didáctico e recheado de pormenores desconhecidos pela maioria das pessoas (nacionais e estrangeiras).
Sínteses, assim focalizadas, alcançam um resultado surpreendente.
Não posso perder as "cenas" dos próximos capítulos quentes (e logo agora que a temperatura está a baixar e o petróleo não vê o preço baixar por não termos um D.Dinis à frente das tropas).
Parabéns, Jorge, por este magnífico contributo em prol da Cultura Portuguesa !
HAHAHAHAHA
Voce ja comeca o texto tirando meu folego de tanto rir! Eu nao o conhecia... como nao conhecia a historia de um homem desses que se casa com santa! Tenho de saber!
Um abraco
Nossa, ele foi um personagem avançado para a sua época, liberar as terras do jugo feudal no séc. XIII...nos outros países isto vem bem mais tarde.
Mas casar com uma santa ninguém merece...
E por falar em conventos, as escavações ao redor de um deles aqui próximo de Nancy encontraram vários cadáveres de criancinhas recém-nascidas, o que indica que o tratamento que as freiras davam a seus "filhos do pecado" não era nada cristão...
Abraços.
Maria Augusta,
infelizmente cá em Portugal, isso também aconteceu...por alguma razão a rainha D. Maria II extinguiu as Ordens Religiosas em 1834. Mas ainda por cá temos alguns conventos de freiras.
Não sejam más com as freirinhas. Quando vos contar o tocante episódio dos "meninos de Palhavâ", vão mudar de perspectiva!
Alice: a Rainha Santa Isabel é a grande responsável pela introdução do culto do Espírito Santo em Portugal.
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