Como todos já perceberam, fazer música é um exercício de vibração. Primeiro faz-se vibrar. Depois é preciso abafar. No meio fica o artista e o verdadeiro artista é o que abafa. Eu abafava bem. Por isso senti-me com coragem para abafar em público.
As orquestrações do “Ephedra” alteraram-se para acomodar o vibrafone e surgiram músicas para potenciar a nova sonoridade. Passei a tocar “nas entremalhas do sistema”, em contrapontos de precisão xenaquiana ou contravozes de melodia pinkfloydiana. Às vezes era largado à solta em improvisos pseudo-jazzísticos que normalmente acabavam em trapalhada, mas davam um ar altamente modernista. Tornei-me mestre da flutuação, impostor da dissonância.
Com o tempo atrevi-me mesmo a compor. A meias com o Paulo fiz o célebre “Primeiro Ácido/Santa Luzia”. Era a nossa memória de férias: Santa Luzia, capital do polvo, a dois quilómetros de Tavira. Uma ria azul de sapal dourado. Ilha misteriosa de areia branca no horizonte do infinito.
Casa arrendada na “marginal”, mesmo ao lado do agora famoso restaurante “Capelo”. À noite, janelas abertas para entrarem todos os insectos e também conquilhas, saladinhas de polvo, estupeta de atum e tinto da Adega Cooperativa de Tavira, com 13,8 de aceleração, vindos directamente do restaurante através do parapeito.
Éramos mais que as mães dentro daquela casa, todos ao molho, deitados no chão, suando nos sacos camas, entre migalhas de pão, sardinhas de conserva e formigas multicolores que aspiravam o nojo remanescente.
Mesmo em férias era impossível abandonar os instrumentos. Viola baixo, piano eléctrico e o próprio vibrafone viajavam connosco até ao Algarve. As noites nunca foram tão extralúcidas na marginal de Santa Luzia.
Dito isto, já perceberam porque a música se chamava “Santa Luzia”... Agora “Primeiro Ácido”?!
Eu explico. O Luís namorava B. Armado em macho psicadélico arrastou a miúda para a ilha, munido de dois ácidos. Alucinaram nove quilómetros no areal desértico, entre deus e o diabo. Voltaram sete horas mais tarde, já Lua alta, com a paranóia espelhada no rosto, cardos espetados nos pés e quarenta graus centígrados espalhados por todo o corpo... Três dias de bolhas, antibióticos e anti-histamínicos até à recuperação total. A música só podia ter um nome…
As orquestrações do “Ephedra” alteraram-se para acomodar o vibrafone e surgiram músicas para potenciar a nova sonoridade. Passei a tocar “nas entremalhas do sistema”, em contrapontos de precisão xenaquiana ou contravozes de melodia pinkfloydiana. Às vezes era largado à solta em improvisos pseudo-jazzísticos que normalmente acabavam em trapalhada, mas davam um ar altamente modernista. Tornei-me mestre da flutuação, impostor da dissonância.
Com o tempo atrevi-me mesmo a compor. A meias com o Paulo fiz o célebre “Primeiro Ácido/Santa Luzia”. Era a nossa memória de férias: Santa Luzia, capital do polvo, a dois quilómetros de Tavira. Uma ria azul de sapal dourado. Ilha misteriosa de areia branca no horizonte do infinito.
Casa arrendada na “marginal”, mesmo ao lado do agora famoso restaurante “Capelo”. À noite, janelas abertas para entrarem todos os insectos e também conquilhas, saladinhas de polvo, estupeta de atum e tinto da Adega Cooperativa de Tavira, com 13,8 de aceleração, vindos directamente do restaurante através do parapeito.
Éramos mais que as mães dentro daquela casa, todos ao molho, deitados no chão, suando nos sacos camas, entre migalhas de pão, sardinhas de conserva e formigas multicolores que aspiravam o nojo remanescente.
Mesmo em férias era impossível abandonar os instrumentos. Viola baixo, piano eléctrico e o próprio vibrafone viajavam connosco até ao Algarve. As noites nunca foram tão extralúcidas na marginal de Santa Luzia.
Dito isto, já perceberam porque a música se chamava “Santa Luzia”... Agora “Primeiro Ácido”?!
Eu explico. O Luís namorava B. Armado em macho psicadélico arrastou a miúda para a ilha, munido de dois ácidos. Alucinaram nove quilómetros no areal desértico, entre deus e o diabo. Voltaram sete horas mais tarde, já Lua alta, com a paranóia espelhada no rosto, cardos espetados nos pés e quarenta graus centígrados espalhados por todo o corpo... Três dias de bolhas, antibióticos e anti-histamínicos até à recuperação total. A música só podia ter um nome…
Fotografia de Roberto Barbosa.
jp
8 comments:
Nossa! Que acido maldito!!! E cada historia sua... adoro!
Muito bons estes contos de segunda-feira.
E porque é que o nome do Luís aparece e o da moça é só uma inicial? B.?
É o Expresso que é um perfeito cavalheiro...
Hum...toutaver...
E ninguém me gabou as conquilhas...!!!
Ora essa! O que gabo mesmo são as conquilhas!! Mas também o "Capelo" e as histórias que tu contas e as fotos do Roberto e tudo o que isso me traz à memória.
Obrigada pelo momento. Este teu blog é um verdadeiro um Kit-Kat... "faça uma pausa..."
Bjs
Bela
Obrigado Bela. Beijos.
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