2.11.08

FILHOS DO POVO DO SUL - XXXI

A nossa fama aumentava na proporção do mito. A tendência jazz-rock acentuava-se e a sonoridade do piano, vibrafone e violino diferenciavam-nos cada vez mais das restantes bandas.
Em 1973 surgiu na RTP um programa chamado “Semibreve”, produzido pelo Luís Villas-Boas e pelo Carlos Cruz, que pretendia apresentar novos projectos e novas bandas. Foi o primeiro programa avançado do género. Não esquecer que estávamos em pleno reinado das Simones, Madalenas Iglésias e Antónios Calvários. O “Festival da Canção” era o máximo!
O programa passava em dia morto, a horas falecidas, num mês enterrado. Saiu num Domingo, às quatro da tarde, em pleno Agosto algarvio. Gravámos no bar “Porão da Nau”, na rua Pinheiro Chagas, ali na esquina da Fontes Pereira de Melo.
O “Porão da Nau” desapareceu, como desapareceu, para variar, a gravação do programa que, aliás, nunca chegámos a ver... Estávamos a banhos em Pedras d’el Rei.
E também nunca vimos os nove contos de honorários contratados que a produção nos ficou a dever até hoje, apesar das inúmeras tentativas de cobrança coerciva. Mesmo sem juros, seriam trezentos contos a preços actuais. Se ainda nos quiserem pagar, podia ser que desse para ajudar a liquidar as dívidas de edição do disco póstumo do Manel Baião, “Serpente de Fogo”, no seu rock alentejano, interpretado pelo grupo “Ortigões”. E talvez desse para cantar com ele: “...E os montes ao longe ao longe brilham com as cores do Sol nascente, vou como um míssil térmico direito a Oriente”. E foi mesmo!... Partiu em 2001 e nunca mais ninguém o viu. Foi o primeiro “ephedra” a morrer... Outros se seguirão!
No “Porão da Nau” tocámos sem parar trinta e cinco minutos de grande exegese instrumental que nos deixou esgotados. Saímos com ar displicente de vedetas pop acreditando que o cheque viria mais tarde, coisa que se viria a verificar fatal. Mas também quem é que quer saber desses pormenores mesquinhos. Nós queríamos era tocar!
Na foto Manuel (Xico) Baião. Foto gentilmente cedida por Iza.
jp

2 comments:

Lizete Vicari said...

É, vida de músico não é fácil!
Mas como diz uma bela canção brasileira;
Todo artista tem de ir aonde o povo está.
Não se importando, se quem pagou quiz ouvir. Era assim!
Infelismente não mudou muito.
beijos. lili

M said...

Aprecio muito a sua honestidade nestes relatos de banda.