13.11.08

FILHOS DO POVO DO SUL - XXXIV

Coincidência ou não, a partir de 1975 o “rock-progressivo” entrou em decadência pelo mundo fora. O filão tinha-se esgotado. Os temas tornavam-se repetitivos. As bandas começaram a dissolver-se. A imaginação a esvair-se. Outros movimentos surgiram.
Nós, desde Janeiro de 1974, tínhamos decidido largar a música exclusivamente instrumental e começado a cantar em português, antecipando as centenas de baladeiros, ditos “cantores de intervenção”, que de repente surgiram do nada. Todo o bicho careta com barba hirsuta e boininha preta achou que era um desígnio nacional desatar a desafinar letras sobre o povo unido e gaivotas que voam, que voam, com acordes de meia tigela aprendidos de véspera entre cerveja morna no bar da associação cultural lá da terrinha.
Foi uma terrível regressão para a música popular portuguesa. Ah, se tivéssemos podido influenciar o Zeca Afonso...!
Para definir bem o nosso estado de espírito, logo no primeiro concerto em que cantámos, no Outono de 74, ali no “1ºActo”, em Algés, atirámos-lhes com o “Palhaço” que recitava assim: “... O senhor doutor/formado e informado/de formato normalizado. /Distribuído em policópias/é mais barato. /Quatro diópterias na vista cansada da tomada de consciência e o coração inchado da vivência do panfleto. /Senhor doutor/que temos hoje, conferência/colóquio ou comício? /É importante um ópio qualquer/é urgente um vício!”.
jp

5 comments:

Al Kantara said...

Mas foi entre as centenas de baladeiros de barba hirsuta que sabiam três acordes que sairam grandes nomes que fizeram temas que ficam na história da musica portuguesa. Olha que três acordes no poema certo, às vezes, dispensam nonas, décimas terceiras e outras mariconices do género...

Anonymous said...

Jorge,

em música não devo, e não posso palpitar! Sou zero a esquerda!
Esta TUDO pronto para a TERTÚLIA. Desejo que corra tudo bem, esses dias que estarei fora. Eu de férias, a Paulinha a trabalho. Afinal, alguém tem que trabalhar nesta casa!

Forte abraço e até a volta. Estou me propondo a não colocar os olhos em monitor, e dedo em teclado. São dois anos com postagens diárias e ininterruptas no Varal. Mereço uma semana de férias TOTAL.

Jorge Pinheiro said...

Eduardo: sem dúvida. Boas férias.
Al: depende... De qq forma nesta história é assim. Nas dos baladeiros, eles devem achar-se o máximo!

Alice Salles said...

Ahhhh que poetas voces... E essa epoca no Brasil, musicalmente foi riquissima... Mas pelos motivos errados!

Jorge Pinheiro said...

Alice: pelos motivos errados?!