Mas o “1º Acto” não servia só para “grandes produções”. Também servia para coisas verdadeiramente experimentais. Um dia o Sebastião veio ter connosco a propor o concerto do ano!
A filosofia era simples e de grande alcance mediático. Um amigo dele estava a chegar da Holanda carregado de ácidos variados: “Window Pain”; “Pink Floyd”; “Vulcões”. Reúnem-se dez músicos em ambiente fechado. Espeta-se-lhes com o dito LSD nos cornos e vai de tocar. Condição essencial: ninguém sabe o que vai tocar e não há qualquer combinação prévia. Finalmente faz-se imensa publicidade nos jornais da especialidade e dão-se imensas entrevistas extralúcidas de forma a lá estar a crítica toda.
A filosofia era esta. O resultado foi: a crítica compareceu em massa, tentando entrevistar músicos à beira do flipanço; os ácidos, na euforia da toma, entornaram-se pelo chão, obrigando músicos e espectadores a andar de cócoras à procura das pastilhas; o Sebastião, debaixo de toda aquela pressão, deixou de cobrar entradas e desatou a dar sandes de borla balbuciando frases post-modernas. O público achou que era tudo truque de marketing. Alguns músicos, por manifesta falta de “iluminação”, baldaram-se logo no arranque. Outros foram saindo do palco durante o “happenning” à medida que alucinavam e eram evacuados por um piquete anti-lissérgico. Outros, porém, continuaram a tocar mesmo para além do fim do espectáculo que, por definição, ninguém sabia quando era.
As críticas foram, obviamente, excelentes. Toda a gente julgou que tudo fora meticulosamente encenado e ensaiado. Alguém gravou num gravador de fita. Não sei quem foi... Se esse alguém ler isto que se acuse, por favor.
Quando o pesadelo parecia ter acabado, já a caminho da estação de Algés, alguém com o ácido mais exaltado, lembrou-se que a aparelhagem ficara sozinha à solta dentro do “1ºActo” à disposição de qualquer meliante. Paranóia instalada! Todos para trás. Galgámos o portão de ferro com dois metros de altura que, no entanto, permitia entrada por uma estreita abertura superior, prova provada que se nós entrámos outros também o poderiam fazer. A paranóia encontrou imediatamente justificação e decidimos acampar dentro do recinto até alvorecer.
Estávamos nisto quando chega um membro da direcção do clube, furioso, alegando invasão, intromissão, assalto, etc, etc. Discussão difícil, baseada nos seguintes argumentos tridimensionais e a cores: se nós podemos entrar, outros também; se outros podem entrar, então nós não saímos!
Perante esta lógica inabalável acabámos corridos a pontapé com ameaças de recurso à polícia, o que nos colocou logo noutro nível de paranóia. Aliás, com LSD não se pode estar muito tempo na mesma paranóia. O truque é ir variando!
Saímos satisfeitos com o compromisso conseguido que já ninguém sabia qual era e fomos direitos ao comboio tentando afugentar todos os nossos fantasmas sem sossego!
A filosofia era simples e de grande alcance mediático. Um amigo dele estava a chegar da Holanda carregado de ácidos variados: “Window Pain”; “Pink Floyd”; “Vulcões”. Reúnem-se dez músicos em ambiente fechado. Espeta-se-lhes com o dito LSD nos cornos e vai de tocar. Condição essencial: ninguém sabe o que vai tocar e não há qualquer combinação prévia. Finalmente faz-se imensa publicidade nos jornais da especialidade e dão-se imensas entrevistas extralúcidas de forma a lá estar a crítica toda.
A filosofia era esta. O resultado foi: a crítica compareceu em massa, tentando entrevistar músicos à beira do flipanço; os ácidos, na euforia da toma, entornaram-se pelo chão, obrigando músicos e espectadores a andar de cócoras à procura das pastilhas; o Sebastião, debaixo de toda aquela pressão, deixou de cobrar entradas e desatou a dar sandes de borla balbuciando frases post-modernas. O público achou que era tudo truque de marketing. Alguns músicos, por manifesta falta de “iluminação”, baldaram-se logo no arranque. Outros foram saindo do palco durante o “happenning” à medida que alucinavam e eram evacuados por um piquete anti-lissérgico. Outros, porém, continuaram a tocar mesmo para além do fim do espectáculo que, por definição, ninguém sabia quando era.
As críticas foram, obviamente, excelentes. Toda a gente julgou que tudo fora meticulosamente encenado e ensaiado. Alguém gravou num gravador de fita. Não sei quem foi... Se esse alguém ler isto que se acuse, por favor.
Quando o pesadelo parecia ter acabado, já a caminho da estação de Algés, alguém com o ácido mais exaltado, lembrou-se que a aparelhagem ficara sozinha à solta dentro do “1ºActo” à disposição de qualquer meliante. Paranóia instalada! Todos para trás. Galgámos o portão de ferro com dois metros de altura que, no entanto, permitia entrada por uma estreita abertura superior, prova provada que se nós entrámos outros também o poderiam fazer. A paranóia encontrou imediatamente justificação e decidimos acampar dentro do recinto até alvorecer.
Estávamos nisto quando chega um membro da direcção do clube, furioso, alegando invasão, intromissão, assalto, etc, etc. Discussão difícil, baseada nos seguintes argumentos tridimensionais e a cores: se nós podemos entrar, outros também; se outros podem entrar, então nós não saímos!
Perante esta lógica inabalável acabámos corridos a pontapé com ameaças de recurso à polícia, o que nos colocou logo noutro nível de paranóia. Aliás, com LSD não se pode estar muito tempo na mesma paranóia. O truque é ir variando!
Saímos satisfeitos com o compromisso conseguido que já ninguém sabia qual era e fomos direitos ao comboio tentando afugentar todos os nossos fantasmas sem sossego!
jp
5 comments:
O 1º acto por acaso já não existe. Não perco estas crónicas.
Parabéns. Do melhor que tenho lido. Apesar de já conhecer a história, ainda não consegui parar de rir...
Obrigado, meus queridos fãs!
Lembro-me do pianista fugir do palco quando descobriu que afinal não sabia tocar aquele instrumento esquisito com teclas brancas a derreter com o calor, assim como a cobertura de chocolate preto sobre elas. Também não ajudou ,sentir que nas suas costas o público em excesso tinha invadido o backstage.
Seguiu-se a fuga furando a multidão. À porta do teatro "sem lenço e sem documento" foi recolhido por um amigo que passava nesse momento a guiar o seu carocha. Devido ao estado alcoolizado do dito amigo teve uma viagem de pesadelo até chegar a casa.
Bom complemento Ortega. Eu aguentei até ao fim. Foi um sarilho para me tirarem do palco!
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