23.11.08

A TURMA DE 68

Num ambiente requintado de um dos melhores hóteis de Lisboa, a turma de 68 da Faculdade de Direito de Lisboa comemorou 40 anos. Mais de 50 eminentes advogados, juízes conselheiros quase jubilados, empresários de renome e este inútil blogueiro, encontraram-se à volta de um "Tentúgal de salmão fumado com Queijo Serra e pistachios verdes em redução "Santa Vitória", seguida de "Lombinho de cerdo em gallete de batata à padeira com espinafres salteados em manteiga de avelã sobre xarope de amoras com hortelã". Os homens interpelam-se sobre a progressão tridimencional das barrigas ou a exposição excessiva da careca. As senhoras, por definição, estão sempre bem. Matam-se saudades e também se mata o Bastonário da Ordem que está longe de reunir consensos. Os escândalos do BPN são abordados muito pela rama que a procissão ainda vai no adro e aquela gente vai precisar de advogados! Nem todos se lembravam de mim. Outros lembravam-se bem demais e fizeram questão em me envergonhar com a descrição daquela vez em que, estremunhado, fui de pijama para a faculdade. Naquele tempo fazíamos manifs contra o regime, perseguidos pelos cães da polícia de choque. A Faculdade de Letras ali ao lado era uma tentação irresistível, com as pequenas de germânicas desejosas de aperfeiçoar a língua. A maior parte das aulas era lá em baixo junto aos matraquilhos, entremeados com umas cervejitas matinais. As sebentas compravam-se em Abril e marrava-se a matéria em três meses de clausura colectiva até às 6 da manhã. Vivíamos em contraciclo total. Ainda hoje sofro de insónias! A partir do 3ºano deixou de haver faltas e eu deixei de ir à faculdade que ainda não havia autoestrada. Lisboa ficava muito longe. Uma canseira que se dispensava. Dos exames é que não se dispensava... Quarenta anos depois, gordos, carecas, enrugados (os homens, claro, que as senhoras estão sempre bem) falamos dos netos e da falta de pachorra para aturar os tribunais e a profusão de leis que nos inunda o dia a dia. Já não temos ilusões. A reforma é o caminho e não é das instituições... é a nossa! Uma palavra de agradecimento à comissão organizadora, coordenada pelo P. Salgado, com a sugestão de repetição anual destes convívios. Mais 40 anos ninguèm aguenta!
jp

7 comments:

Al Kantara said...

Se fosse Curso de 69, ainda lá ia (só por curiosidade, não porque tenha frequentado...)

Al Kantara said...
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Rafeiro Perfumado said...

Espero um dia poder fazer algo do género, se bem que não teremos tantas histórias para contar.

Um abraço!

Jorge Pinheiro said...

Al: houve seguramente indecisão na escolha do número. De facto foi o ano lectivo de 68/69. De qq forma 68 recorda Maio... Já 69 não recorda nada ou recorda?
Rafeiro: há sempre montes de histórias para contar. Abraço.

Só- Poesias e outros itens said...

Esses encontros são sempre complicados. Vemos nos outros o tempo que passou, e o nosso real, concreto que o espelho nunca fala.
bjs.

JU Gioli

Jorge Pinheiro said...
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Jorge Pinheiro said...

Ju: a parte do reencontro acaba por prevalecer.