Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar. Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa “Organização” que tenta, desesperadamente, criar o “Quinto Império”, a união do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha percorre o tempo atrás do mito.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Quem Conta um Conto”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Quem Conta um Conto”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
EPISÓDIO II (continuação)
Às onze em ponto, Arnaldo era conduzido, discretamente, aos aposentos reais. D. João II estava de roupão sorvendo café, bebida tenebrosa, recentemente trazida das tropicais paragens. Arnaldo curvou-se e, por cerimónia, aceitou um Licor Beirão. Veneno nunca!
Já sentados, Arnaldo entregou uma carta a El-Rey. Eram as instruções da “Organização”, agora sedeada no Promontorium Sacrum e que, ultimamente, contratara um poeta para dar às mensagens um toque futurista. Recitava assim:
“ Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.”
“Quem hedes e ó que vindes?”, perguntou-lhe D. João.
Arnaldo começou devagar: “Sou um peregrino do tempo. Sou o passado do futuro. O futuro do passado. O presente do indicativo. O pretérito condicional. Cabe-me ajudar, facilitar... Não agir. Só Vós, Magestade podeis intervir em tão grave mister. É vosso destino unir mares e continentes. Descobrir o “poder oculto”. Criar o “Quinto Império”.
“Tudo isso implica muito engenho e arte”, retorquiu D. João, entrando no segundo cafezinho, “Para não falar em capital…”
“Dos fracos não reza a história, Magestade. Vamos tudo planear. Um “justo” que invistais hoje nesta empresa valerá 1000 ao tempo do vosso sucessor”. Primeiro há que chegar à Índia, por oriente, claro. Garantir para nós o comércio das especiarias. Dominar as rotas do Índico. Lisboa fará Bruges e Veneza empalidecer. Depois, encontrar Prestes João. Finalmente, reconquistar a Terra Santa, na cruzada final. Como temos poucos meios, vamos deixar as Américas para os castellanos, com excepção do Brasil, que há muito descobrimos e que bem escondido está. Aliás, é indiferente pois casareis o vosso único filho legítimo, Afonso, com a filha dos Reis Católicos. Ele será rei de todas as espanhas, herdeiro de todos os continentes. Vossamercê será Perfeito. Vosso sucessor, Venturoso.”
“É mister! É mister!”, gritava excitado D. João. “Arnaldo punhai-de-me já mãos à obra. É mister... É mister”!
Poesia: Fernando Pessoa
Já sentados, Arnaldo entregou uma carta a El-Rey. Eram as instruções da “Organização”, agora sedeada no Promontorium Sacrum e que, ultimamente, contratara um poeta para dar às mensagens um toque futurista. Recitava assim:
“ Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português.
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.”
“Quem hedes e ó que vindes?”, perguntou-lhe D. João.
Arnaldo começou devagar: “Sou um peregrino do tempo. Sou o passado do futuro. O futuro do passado. O presente do indicativo. O pretérito condicional. Cabe-me ajudar, facilitar... Não agir. Só Vós, Magestade podeis intervir em tão grave mister. É vosso destino unir mares e continentes. Descobrir o “poder oculto”. Criar o “Quinto Império”.
“Tudo isso implica muito engenho e arte”, retorquiu D. João, entrando no segundo cafezinho, “Para não falar em capital…”
“Dos fracos não reza a história, Magestade. Vamos tudo planear. Um “justo” que invistais hoje nesta empresa valerá 1000 ao tempo do vosso sucessor”. Primeiro há que chegar à Índia, por oriente, claro. Garantir para nós o comércio das especiarias. Dominar as rotas do Índico. Lisboa fará Bruges e Veneza empalidecer. Depois, encontrar Prestes João. Finalmente, reconquistar a Terra Santa, na cruzada final. Como temos poucos meios, vamos deixar as Américas para os castellanos, com excepção do Brasil, que há muito descobrimos e que bem escondido está. Aliás, é indiferente pois casareis o vosso único filho legítimo, Afonso, com a filha dos Reis Católicos. Ele será rei de todas as espanhas, herdeiro de todos os continentes. Vossamercê será Perfeito. Vosso sucessor, Venturoso.”
“É mister! É mister!”, gritava excitado D. João. “Arnaldo punhai-de-me já mãos à obra. É mister... É mister”!
Poesia: Fernando Pessoa
(continua na 3ª feira)
jp
4 comments:
JP, que delícia de leitura.
Parabéns, e viva o quinto império.
bjs.
JU Gioli
Que genial interpretação da história...
E o cafezinho fica bem na leitura.
Que mistura boa!!!
;)
Genial! Saber que o Brasil foi descoberto pela Organização, quem diria...muito legal esta historia recontada.
Abraços.
Atenção aos próximos episódios. Saiba quem era Cristobal Colon...
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