8.12.08

AVENTURAS DE ARNALDO ROCHA - DE LISBOA A CALECUTE

Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar. Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa “Organização” que tenta, desesperadamente, criar o “Quinto Império”, a união do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha percorre o tempo atrás do mito.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Quem Conta um Conto”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
EPISÓDIO III (continuação)
Arnaldo montou escritório na Rua do Bem Formoso, por cima de uma simpática mercearia de bairro, no nº 256, ali ao Intendente.
Cá em baixo, na mercearia, uma rapariga apregoava carne seca e feijão. Aviava copos de três e pires de leite a gatos vadios, na amargura do Intendente. Ar apimentado, tez de caril, cheiro a baunilha, pés de gueixa, boca de seda… Arnaldo tinha a sensação de a conhecer de missões anteriores!
Sempre que Arnaldo saía, ela entoava uma melodia triste como se lhe dirigisse um lamento. Arnaldo não resistiu. Um dia gravou uma cassette que enviou à “Organização” para análise. Resposta: “Isto vai ser o tal Fado. Guardamos registo. Fica para a “Colecção Giacometti”.
Arnaldo andava atarefadíssimo. Todas as manhãs corria às docas a fiscalizar a construção das naus, a introduzir melhoramentos nas caravelas. À tarde dirigia-se ao Paço para ultimar o planeamento da operação com o rei.
D. João II tinha “...hum coração impávido... Era dotado de hum entendimento superior, de grande engenho com memória tão feliz, que o que huma vez aprendhia já mais esquecia...” Assim era fácil trabalhar com o monarca. Rapidamente ficou concluído o plano detalhado.
Naquela manhã abafada de Julho de 1487, Maria viu-o sair com um rolo de intrigantes papiros debaixo do braço. Era tempo de recrutar o capitão para dirigir a expedição. Colou panfletos nas docas, nas igrejas e, principalmente, nos cemitérios. Diziam assim:

DESCOBERTA DO CAMINHO MARÍTIMO PARA A ÍNDIA
Função: capitanear a armada
Factores de Preferência:
- saber ler e escrever razoavelmente português (há tradução simultânea para línguas indígenas)
- deter bons conhecimentos académicos de navegação
- experiência naval em alto mar (exige-se pelo menos uma descoberta)
Perfil do Candidato:
- saber gerir situações de risco
- saúde de ferro (não ter tido escorbuto nos últimos 6 meses)
- ser intratável e intrépido (em especial, não ter medo de monstros marinhos e não sofrer de alucinações)
- ter comunhão solene completa
- gostar de matar, trucidar e torturar
Local de Trabalho: de Lisboa a Calecute
Resposta presencial na Rua do Bemformoso, nº 256.
(continua 6ªfeira)
jp

6 comments:

Anonymous said...

Gostei do panfleto, principamente do local de trabalho "De Lisboa a Calecute"...pelas características citadas, os navegadores seriam como os piratas (rs).
Abraços.

Jorge Pinheiro said...

Maria Augusta: tenho a sensação de que esta série só tem 3 ou 4 leitores, mas isso chega-me desde que gostem. Obrigado pelos comentários.

Anonymous said...

cinco, eu leio sempre e gosto.

Jorge Pinheiro said...

OK, Anónimo, obrigado.

ortega said...

Seis, eu também leio sempre. Não puxa ao comentário, o que não quer dizer que não seja muito interessante, e por vezes hilariante, de seguir.

Jorge Pinheiro said...

Afinal há mais! Boa!