Como dizia Santo Agostinho, o tempo não existe: o passado já passou; o futuro ainda não chegou; o presente acabou de passar. Arnaldo Rocha é um agente especial da poderosa “Organização” que tenta, desesperadamente, criar o “Quinto Império”, a união do norte e do sul, do leste e do oeste. Arnaldo Rocha percorre o tempo atrás do mito.
Publicação simultânea, em episódios, no Brasil (“Quem Conta um Conto”) e em Portugal (“Expresso da Linha”), todas as terças e sextas feiras.
EPISÓDIO VI (continuação)
De supetão entra Diogo Cão. Cabelo desgrenhado... Escapulário seboso... Olhos dementes...
“ Eu é que fui o escolhido. Foi el-Rey que mo disse... Eu é que fui o escolhido!”
“ Olha lá, Cão, tu enganaste o Rey. Foste duas vezes lá abaixo... Da primeira enfiaste pela baía do Cabo do Lobo. Correste a Lisboa. Era a passagem para o Golfo Arábico, disseste. O Papa enganado... El-Rey humilhado. Da segunda vez chegaste à Serra Parda. Deves ter julgado que era o fim do mundo!”
“Ingratos! A corte é só intrigas. Fui eu que mais padrões espetei pela costa africana abaixo. Agora não tem nada que enganar. Está tudo sinalizado. Excelência, só quero mais uma oportunidade, por favor, excelência... Eu é que sou o “homem-padrão”.
Arnaldo começava a ter pena. Só que D. João ordenara expressamente: “Arnaldo, estais prohibido de Cão aceitar. Muy mal me hay feyto. Até o Papa enganar (e lá estou eu a versejar, porra!)”.
Arnaldo não tinha quaisquer hipóteses: “Lamento, Cão. Já tiveste dois reais patrocínios”.
O homem saiu devastado... Ainda hoje vagueia por Lisboa, arrastando um padrão quilométrico que tenta espetar em qualquer canto da cidade, recitando exaltado:
“... E a Cruz ao alto diz que o que há na alma
E faz a febre em mim navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.”
Arnaldo estava exaurido. Desistiu. Já nem quis ouvir Gonçalves Zarco, Nuno Tristão, Diogo da Azambuja... Só velhadas alucinados. Era preciso sangue jovem. Ambição… Era necessário alguém com espírito corsário. Cancelou as entrevistas. Partiu a banhos com a pequenita Maria, à praia do Meco.
“ Eu é que fui o escolhido. Foi el-Rey que mo disse... Eu é que fui o escolhido!”
“ Olha lá, Cão, tu enganaste o Rey. Foste duas vezes lá abaixo... Da primeira enfiaste pela baía do Cabo do Lobo. Correste a Lisboa. Era a passagem para o Golfo Arábico, disseste. O Papa enganado... El-Rey humilhado. Da segunda vez chegaste à Serra Parda. Deves ter julgado que era o fim do mundo!”
“Ingratos! A corte é só intrigas. Fui eu que mais padrões espetei pela costa africana abaixo. Agora não tem nada que enganar. Está tudo sinalizado. Excelência, só quero mais uma oportunidade, por favor, excelência... Eu é que sou o “homem-padrão”.
Arnaldo começava a ter pena. Só que D. João ordenara expressamente: “Arnaldo, estais prohibido de Cão aceitar. Muy mal me hay feyto. Até o Papa enganar (e lá estou eu a versejar, porra!)”.
Arnaldo não tinha quaisquer hipóteses: “Lamento, Cão. Já tiveste dois reais patrocínios”.
O homem saiu devastado... Ainda hoje vagueia por Lisboa, arrastando um padrão quilométrico que tenta espetar em qualquer canto da cidade, recitando exaltado:
“... E a Cruz ao alto diz que o que há na alma
E faz a febre em mim navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.”
Arnaldo estava exaurido. Desistiu. Já nem quis ouvir Gonçalves Zarco, Nuno Tristão, Diogo da Azambuja... Só velhadas alucinados. Era preciso sangue jovem. Ambição… Era necessário alguém com espírito corsário. Cancelou as entrevistas. Partiu a banhos com a pequenita Maria, à praia do Meco.
(continua 3ªfeira)
jp
1 comment:
Pobre Arnaldo. Olha o que se sofre para encontrar um contrabandista competente mas desempregado que esteja disposto fazer-se às Índias a comandar umas dezenas largas de desesperados...
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