Pois foi precisamente a 6 de Dezembro de 1185 que faleceu o pai da nação, Afonso Henriques. Criou um país que, de crise em crise, já vai quase em nove séculos de inviabilidade económica.
Sobre os pequenos reinos que existiam na Península sempre pairou o mito de uma monarquia hispânica unida. Conscientes deste ideal, os reis de Leão, como herdeiros teóricos dos soberanos visigodos, adoptaram o título de imperador, procurando impor uma autoridade suserana a todos os restantes soberanos da Espanha. Foi exactamente essa relação feudal entre reis e imperador que contribuiu para o nascimento do Portugal autónomo. Depois de se revoltar contra a mãe (batalha de S. Mamede), que governava o condado Portucalense e que fora forçada a manter vassalagem a Afonso VII de Leão, Afonso Henriques encetou a rebelião contra o primo leonês. Provavelmente apenas pretendia a expansão territorial do seu feudo, com base em promessas que vinham já do tempo de seu pai, o conde borgonhês D. Henrique e, nesse contexto, devia aspirar, apenas, ao título de rex, mantendo a ligação feudal ao imperador de Leão. Essa rebelião conheceria uma primeira paz em 1137 (Acordo de Tui) e uma segunda em 1143 (Conferência de Zamor), em que era concedido a Afonso Henriques o título de rex. A partir daí, Afonso terá pensado em ir mais longe e quebrar os laços feudais de vassalagem com Leão. Afonso vira-se, então, para Roma, procurando o reconhecimento formal do Papa. À maneira feudal, Afonso encomendou Portugal à Santa Sé, promentendo pagar anualmente 4 onças de ouro (120 gramas) como tributo. Até 1179 a independência joga-se no tabuleiro diplomático. As coisas facilitam-se com a morte de Afonso VII de Leão (1157) e com a partilha do "império". Finalmente, o Papa Alexandre III, após um aumento para 2 marcos (490 gramas) de ouro a pagar anualmente, reconhece formalmente o novo reino, através da bula Manifestis Probatum.
Afonso Henriques, o Conquistador, teve, até 1158, uma política acertada e vitoriosa de conquistas, recuperando aos mouros muitas terras abaixo do Douro e mesmo do Tejo. Evitou a expansão para Norte, deixando a Galiza entregue a si própria e aos leoneses. Esta política e as riquezas acumuladas dos saques, trouxeram para o reino muita gente, iniciando-se um movimento mercantil promissor e entrada em força das ordens militares dos Hospitalários e dos Tempários que tanto viriam a influenciar o futuro do reino e da sua expansão. A partir da morte do imperador Afonso VII, criaram-se facções dentro do reino de Leão. Afonso Henriques comete o seu primeiro erro ao imiscuir-se. Em 1169, numa campanha mal sucedida sobre Badajoz (a Badalhouce medieval), cai do cavalo e parte uma perna. Nunca mais pode montar e é forçado a associar ao trono o seu filho, Sancho I. O segundo erro que cometeu, foi morrer após 57 anos de governo. Os biógrafos descrevem-no como "grande de corpo, e quasi agigantado, a boca grossa, o rosto e o nariz comprido. Sendo velho foi calvo na frente".
jp
5 comments:
Uma amiga minha (amiga mesmo), disléxica, disse-me um vez:
"Se aquele parvalhão do Afonso não se tivesse zangado com a mãe, nem a gente vendia colchas na fronteira nem eles nos impingiam bananas!
Falavamos todos a mesma língua e pronto! Quem o mandou inventar Portugal?"
;)
O que mais me chama a atenção nesta tua narrativa são os pagamentos em ouro ao Papa por troca de reconhecimento. Quanto mais pagas melhor és reconhecido. Esta merda não mudou nada em 900 anos.
Será que ainda hoje pagamos alguma coisa à Santa Sé?
Abraço, e tenho muito orgulho desse Senhor!
A Santa Sé faz-se sempre pagar, de uma forma ou de outra. Este pagamento foi interrompido ainda na 1ª dinastia. Mas tev de se pagar para garantir a zona de expansão ultramarina só para nós, por exemplo. Um dia falaremos disso: da tutela da santa madre igreja!
Este senhor era de se-lhe ter orgulho e, pese embora, tenha cometido a imprudência de se autonomizar, a verdade é que foram os subsquentes governantes que não souberam criar riqueza!
Portugal teve o mérito de se manter como uma nação desde então, não se deixou "engolir" pela Espanha ou outros países, apesar de todas as "convulsões" que ocorreram na Europa durante estes séculos todos...
Post a Comment