No “Ephedra” as divergências agudizavam-se. Uns queriam a profissionalização; outros já tinham percebido que aquilo não ia a lado algum; outros ainda continuavam a não saber o que queriam. Certo é que todos precisávamos de autonomia, de independência dos nossos pais. Precisávamos de dinheiro!
Ainda tocávamos desgarradamente aqui e ali, mas já não havia ilusões. E isso reflectia-se nas músicas e nas actuações.
No Barreiro fomos tocar a um teatrinho de província, daqueles com camarotes tipo S. Carlos. Poucas dezenas de pessoas na assistência. Quase ao lado, um pavilhão desportivo a abarrotar para ouvir baladeiros. Pior, o pouco público ainda mandou vir com as músicas de forma insultuosa!
A coisa agravou-se no “Teatro Ad Hoc” que se eternizava ali no Martim Moniz. No final do espectáculo em vez de palmas fomos invectivados sobre se aquele era o “verdadeiro Ephedra”, o que provocou aceso diálogo entre palco e plateia. E o público tinha razão... Tem sempre razão!
A velha chama tinha-se perdido. O nosso estilo tinha mudado. Tínhamos perdido as características que nos identificavam. O público não nos reconhecia. Provavelmente, nem nós nos reconhecíamos.
Aquela foi uma noite fatal. De repente interiorizámos tudo o que já sabíamos. Percebemos que o sonho acabara. Aquele foi o último concerto do “Ephedra”.
Continuámos a tocar sozinhos para dentro de um gravador. Primeiro éramos cinco. Depois quatro, três... No fim éramos dois multinstrumentistas, eu e o Paulo, alguns robots e a Isabel como cantora. Continuámos assim, teimosamente, até 1990 mas, tal como o Paulo previra, o sonho acabara “no fundo de um quintal”.
Entretanto, num momento de rara lucidez, tomei a melhor decisão de gestão de toda a minha vida: fechei o restaurante e a loja de artesanato antes de ficar totalmente atolado em dívidas.
Em 1977, finalmente livre de ilusões, comecei a trabalhar por conta de outrem, a pagar IRS e a descontar para a segurança social. .
O “sistema” ganhou!
Estranhamente, devemos ter influenciado parte de uma geração. Desde os tempos “heróicos” de casa do Paulo, até ao decadente “Ad Hoc”. Espanta-me que ainda hoje, mais de trinta anos passados (muito, muito passados), tanta gente se lembre ainda de nós. Críticos, músicos, fãs, gente anónima, gente perdida, gente que se encontrou... gente fantástica!
Espanta-me, porque pouco sabíamos tocar. Mas o importante não é, de facto, saber tocar. As pessoas querem emoções, não querem virtuosismos. As pessoas querem participar em algo novo, algo que está a nascer.
Hoje vejo a música como um deus que me deixou sem me abandonar. Um deus que me quer mesmo que eu, por vezes, o esqueça. Continuo a sentir-me sacerdote do tempo, espaço divino, harmonia celestial. Continuo a gostar de mim e, por isso gosto dos outros... mesmo daqueles que nunca ouviram “Ephedra”.
Ainda tocávamos desgarradamente aqui e ali, mas já não havia ilusões. E isso reflectia-se nas músicas e nas actuações.
No Barreiro fomos tocar a um teatrinho de província, daqueles com camarotes tipo S. Carlos. Poucas dezenas de pessoas na assistência. Quase ao lado, um pavilhão desportivo a abarrotar para ouvir baladeiros. Pior, o pouco público ainda mandou vir com as músicas de forma insultuosa!
A coisa agravou-se no “Teatro Ad Hoc” que se eternizava ali no Martim Moniz. No final do espectáculo em vez de palmas fomos invectivados sobre se aquele era o “verdadeiro Ephedra”, o que provocou aceso diálogo entre palco e plateia. E o público tinha razão... Tem sempre razão!
A velha chama tinha-se perdido. O nosso estilo tinha mudado. Tínhamos perdido as características que nos identificavam. O público não nos reconhecia. Provavelmente, nem nós nos reconhecíamos.
Aquela foi uma noite fatal. De repente interiorizámos tudo o que já sabíamos. Percebemos que o sonho acabara. Aquele foi o último concerto do “Ephedra”.
Continuámos a tocar sozinhos para dentro de um gravador. Primeiro éramos cinco. Depois quatro, três... No fim éramos dois multinstrumentistas, eu e o Paulo, alguns robots e a Isabel como cantora. Continuámos assim, teimosamente, até 1990 mas, tal como o Paulo previra, o sonho acabara “no fundo de um quintal”.
Entretanto, num momento de rara lucidez, tomei a melhor decisão de gestão de toda a minha vida: fechei o restaurante e a loja de artesanato antes de ficar totalmente atolado em dívidas.
Em 1977, finalmente livre de ilusões, comecei a trabalhar por conta de outrem, a pagar IRS e a descontar para a segurança social. .
O “sistema” ganhou!
Estranhamente, devemos ter influenciado parte de uma geração. Desde os tempos “heróicos” de casa do Paulo, até ao decadente “Ad Hoc”. Espanta-me que ainda hoje, mais de trinta anos passados (muito, muito passados), tanta gente se lembre ainda de nós. Críticos, músicos, fãs, gente anónima, gente perdida, gente que se encontrou... gente fantástica!
Espanta-me, porque pouco sabíamos tocar. Mas o importante não é, de facto, saber tocar. As pessoas querem emoções, não querem virtuosismos. As pessoas querem participar em algo novo, algo que está a nascer.
Hoje vejo a música como um deus que me deixou sem me abandonar. Um deus que me quer mesmo que eu, por vezes, o esqueça. Continuo a sentir-me sacerdote do tempo, espaço divino, harmonia celestial. Continuo a gostar de mim e, por isso gosto dos outros... mesmo daqueles que nunca ouviram “Ephedra”.
jp
Depois de 57 episódios termina a saga dos "Filhos do Povo do Sul". Procurei dar a minha vivência entre 1972 e 1977, tendo como pivot a banda "Ephedra". A história ficou concluída em 2005. Felizmente, entretanto, o "Ephedra" ressuscitou e até gravou um disco. A história está, por isso, incompleta, como convém a uma boa história. Graças a estes posts, um amigo descobriu fotos da época que todos julgávamos perdidas. Logo que termine a digitalização farei posts inéditos que serão uma surpresa para muitos. Deixo-vos com o refrão da música que deu origem ao nome das crónicas. A letra é de autoria de Luís Piques.
Sou filho do Povo do Sul
Tenho a boca a saber a sal
Ai de beijar essa deusa do mar,
Deusa do mar sereia.
Voei contigo na areia,
Em mil carícias de bagaço e mel
E entre as tuas coxas, amor,
De unhas cravadas,
Amei a terra inteira!
12 comments:
Sempre uma aventura vir aqui e conhecer toda essa evolução de trajetos.
Adorei a música.
bjs.
Ju gioli
Gostei das "carícias de bagaço e mel". Já o "entre as tuas coxas, amor" parece-me um bocadinho datado. De qualquer forma, este ultimo episódio desvenda a razão da tua acrimónia para com os baladeiros. Deixa lá que já nem esses se safam. Agora é mais Tony Carreira...
O sonho não pode morrer num quintal, Jorge! E eu estou feliz que ele ressurgiu porque de alguma fgorma "it was meant to be".
O Alcantarilha é um pudico, eu quando li a letra, pensei logo, que aquela cabecinha ia incomodar-se com alguma coisa.
No outro dia, como quem não quer a coisa, chamou-vos gordos e carecas, é péssimo o rapaz, não se pode descuidar...
Olhe, Transiberiano, continue assim agradável e bem-disposto, mas a pagar as contribuções para a segurança social. Peça factura! Facturar faz o país avançar!
Tânia
PS- onde anda o mestre jopi?
Ainda bem que nao morreu...ouvi as musicas do novo disco...muito bom, e as historias...memorias maravilhosas que bom vc compartilhar.
E foi óptimo teres junto os fascículos.
?Como se pode acabar a história,se o disco foi lançado agora?
Vá lá... no minimo, tempo de prolongamento!
;)
Ju: ainda bem que gosto da música. Quando fôr aí ao Brasil levo o disco.
Al: tudo tem explicação. Essa ficou-me atravessada!
Alice: e o que tem de ser tem muita força...
Tânia: pois é verdade. O desaparecido Mestre Jopi anda a preparar um novo passatempo: "Você já entrou na crise?". Em breve nas bancas.
Vi: gostei que tivesse gostado das músicas(excertos) do site. Em breve estaremos no já indispensável You Tube!
Claire: tu sabes quase tudo.
Mena: pois, mas foram 57 episódios. Tinha programado para acabar antes do disco. Mas era um planeamento difícil. Estou pôr etiquetas desde o princípio. Um trabalhão. Depois pode-se rever (alguém quer?!) a história toda. O resto é futuro...
Então tinham perdido a identidade!? E agora? ganharam-na com as "novas" músicas? Deixa-me rir...
O "Deixa-me rir" não é do Jorge Palma ?...
A polémica é sempre saudável.
http://markonzo.edu Give somebody the to a site about the actual ashley furniture [url=http://jguru.com/guru/viewbio.jsp?EID=1536072]actual ashley furniture[/url], fawriue, watch allegiant air [url=http://jguru.com/guru/viewbio.jsp?EID=1536075]watch allegiant air[/url], btwka, best pressure washers [url=http://jguru.com/guru/viewbio.jsp?EID=1536078]best pressure washers[/url], 8206, follow dishnetwork [url=http://jguru.com/guru/viewbio.jsp?EID=1536080]follow dishnetwork[/url], slauy, fresh adt security [url=http://jguru.com/guru/viewbio.jsp?EID=1536076]fresh adt security[/url], 6836,
Post a Comment