Remetida a um Convento Carmelita, a vaca tem-se remetido a um profundo e prudente silêncio, distanciando-se dos eventos natalícios que tanta polémica têm provocado ao longo dos séculos e que ainda hoje geram as mais desencontradas opiniões. Algum tempo depois do Grande Acontecimento, a vaca chegou a ser entrevistada pelos doutores da Igreja, Mateus, Marcos, Lucas e João. Embora a entrevista tivesse sido gravada, nenhum dos entrevistadores contou a mesma versão. Esta adulteração da verdade muito incomodou a pacífica vaca que ficou a ruminar na torpe manipulação humana e jurou não mais abrir a boca sobre aquele jubiloso dia. No entanto, e face às afirmações do burro e do camelo, a vaca não pôde deixar de vir a terreiro repor a verdade e afirmá-la bem alto para glória do Senhor!
“O burro é um recalcado e mete-se nos copos. Distorce a verdade se para vingar. Aquilo que não consegue por seus méritos, tenta através da mentira. É um animal rancoroso! Põe aquele ar pesaroso, mas é um verdadeiro perigo. O camelo é um exibicionista nato. Sonha com califas e haréns, oásis de mel e tâmaras. É um deslumbrado! Julga-se acima da média. Não passa de um iludido que vive de fantasia num deserto de ideias. Acredita em tudo o que lhe dizem e, pior, no que inventa.
Em verdade vos digo: o burro e o camelo nem sequer lá estavam. O burro tinha ido à reunião semanal dos Alcoólicos Anónimos e o camelo tinha sido detido pela Mossad por suspeita de colaboração com o Hamas. Eu e só eu é que estava presente, como, aliás, demonstra a fotografia junta. Numa coisa o burro tem razão. Era Agosto. Mas isso que interessa! O que interessa é que o Menino nasceu em casa, no meio de palhinhas. José era carpinteiro e a Senhora se não era virgem parecia.
O menino era um santo. Fazia montes de milagres e estava sempre pronto a satisfazer qualquer pedido. Bastava pedir. Foi isso que o tramou. Naquela manhã do dia 14 do mês de Primavera de Nissã o procurador da Judeia, Pôncio Pilatos, saiu para a colunata coberto entre as duas alas do palácio de Herodes, o Grande. O cheiro enjoativo a óleo de rosas, misturado com o odor do cabedal e o suor da escolta armada; ao fundo, um leve fumo acre vindo das cozinhas… tudo enjoava o procurador. O Sol queimava horrivelmente lá no alto, batendo com força nos mosaicos brilhantes. A dor era horrível. As fontes latejavam desde manhãzinha. O procurador estava de novo com uma terrível enxaqueca. O réu aguardava vestido com uma túnica azul-clara, rasgada e suja. As mãos estavam amarradas. Um ar vagamente ausente. Tinha fama de milagreiro. Pilatos pediu-lhe uma cura para as dores de cabeça. Essa, porém, não era a especialidade de Yeshua. Tentou, tentou, mas nada. Se fosse uma ou cura da lepra ou mesmo uma ressurreição, ainda dava. Agora enxaquecas...! Foi isto perdeu o Menino, bendito seja o seu nome. Se não fossem as enxaquecas do procurador não haveria Natal.”
A vaca calou-se abrupamente e seguiu a manada em direcção ao convento. Nunca ninguém mais a viu!
jp
“O burro é um recalcado e mete-se nos copos. Distorce a verdade se para vingar. Aquilo que não consegue por seus méritos, tenta através da mentira. É um animal rancoroso! Põe aquele ar pesaroso, mas é um verdadeiro perigo. O camelo é um exibicionista nato. Sonha com califas e haréns, oásis de mel e tâmaras. É um deslumbrado! Julga-se acima da média. Não passa de um iludido que vive de fantasia num deserto de ideias. Acredita em tudo o que lhe dizem e, pior, no que inventa.
Em verdade vos digo: o burro e o camelo nem sequer lá estavam. O burro tinha ido à reunião semanal dos Alcoólicos Anónimos e o camelo tinha sido detido pela Mossad por suspeita de colaboração com o Hamas. Eu e só eu é que estava presente, como, aliás, demonstra a fotografia junta. Numa coisa o burro tem razão. Era Agosto. Mas isso que interessa! O que interessa é que o Menino nasceu em casa, no meio de palhinhas. José era carpinteiro e a Senhora se não era virgem parecia.
O menino era um santo. Fazia montes de milagres e estava sempre pronto a satisfazer qualquer pedido. Bastava pedir. Foi isso que o tramou. Naquela manhã do dia 14 do mês de Primavera de Nissã o procurador da Judeia, Pôncio Pilatos, saiu para a colunata coberto entre as duas alas do palácio de Herodes, o Grande. O cheiro enjoativo a óleo de rosas, misturado com o odor do cabedal e o suor da escolta armada; ao fundo, um leve fumo acre vindo das cozinhas… tudo enjoava o procurador. O Sol queimava horrivelmente lá no alto, batendo com força nos mosaicos brilhantes. A dor era horrível. As fontes latejavam desde manhãzinha. O procurador estava de novo com uma terrível enxaqueca. O réu aguardava vestido com uma túnica azul-clara, rasgada e suja. As mãos estavam amarradas. Um ar vagamente ausente. Tinha fama de milagreiro. Pilatos pediu-lhe uma cura para as dores de cabeça. Essa, porém, não era a especialidade de Yeshua. Tentou, tentou, mas nada. Se fosse uma ou cura da lepra ou mesmo uma ressurreição, ainda dava. Agora enxaquecas...! Foi isto perdeu o Menino, bendito seja o seu nome. Se não fossem as enxaquecas do procurador não haveria Natal.”
A vaca calou-se abrupamente e seguiu a manada em direcção ao convento. Nunca ninguém mais a viu!
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