No dia 1 de Maio de 2004 depois do tal Cristo, vamos encontrar o nosso herói em Marrazes, ali perto de Leiria. Arnaldo estabelecera o escritório no “Tromba Rija”. Por baixo, o restaurante. Em cima, uma fiada de quartos para sestas e rapidinhas de almoço. À frente, plásticos por reciclar, pneus por recauchutar e entulho diverso por enterrar... Sem dúvida uma das paisagens mais apetecíveis do país Lusitano, numa zona que tem por slogan turístico “Da Poluição Faz Uma Canção”.
Arnaldo arrendara dois quartos contíguos. Um, para dormir. Outro, para escritório. Assim estava sempre de prevenção. Na prática a agência era dirigida pela secretária Della Estrada, mulher com um perigosíssimo par de lombas, curvas sinuosas e pneus em derrapagem descontrolada. Ombros quadrados e pelo na venta, Della Estrada atendia clientes, tomava notas, ditava cartas a si própria, emitia facturas, aldrabava o IRC e, em dias mais difíceis, ainda tirava as botas de Arnaldo, antes de o despejar inconsciente na cama. Arnaldo conhecia-a bem de missões anteriores.
Arnaldo, quando não estava a dormir ou a fazer ginástica sexual, abancava debaixo do alpendre, no pátio interior do restaurante, e ali ficava três ou quatro horas a enfardar, despachando garrafas de tinto, umas atrás doutras. Arnaldo tinha um problema: por mais que comera não engordara. Tinha físico de faquir.
Foi precisamente naquele dia e naquele local, enquanto rilhava de aperitivo uns delicados rojões de aba, aguardando a feijoada porqueira, que um matarruano de Mercedes 220 CDI e cabelo empastado de banha o abordou: “Ó Rocha, posso-me sentar. Isto é muito grave. Andam-me a foder as abóboras todas”. Arnaldo dispôs-se a ouvir, sem compromisso...
“Ó Rocha, eu sou um homem sério. Fiz-me a pulso. Se hoje sou o que sou, só a mim o devo. A mim e aos subsídios comunitários. Primeiro, era para arrancar vinha... depois, para plantar videiras... agora, abate oliveiras... depois, volta a plantar... tira o tomate... olha as quotas da batata... Às tantas a malta nem fazia nada. Era só levantar subsídios e esperar que mudassem de política, o que, felizmente, acontecia todos os anos. Agora estou nas cucurbitaceas.
Ó Rocha, ando preocupado. Comprei três hectares de aboboral. Chega-me a Julho, quando elas estão bem madurinhas, e não há abóbora que resista. Todas furadas. Violadas por trás. Impossível exportar. Têm um cheiro intenso a farinha. Mandei analisar… Os espermatozóides ainda mexiam!”
Arnaldo aceitou o caso sem pensar. Aliás, no estado em que estava aceitava qualquer coisa, inclusive outra garrafa de tinto!
Arnaldo arrendara dois quartos contíguos. Um, para dormir. Outro, para escritório. Assim estava sempre de prevenção. Na prática a agência era dirigida pela secretária Della Estrada, mulher com um perigosíssimo par de lombas, curvas sinuosas e pneus em derrapagem descontrolada. Ombros quadrados e pelo na venta, Della Estrada atendia clientes, tomava notas, ditava cartas a si própria, emitia facturas, aldrabava o IRC e, em dias mais difíceis, ainda tirava as botas de Arnaldo, antes de o despejar inconsciente na cama. Arnaldo conhecia-a bem de missões anteriores.
Arnaldo, quando não estava a dormir ou a fazer ginástica sexual, abancava debaixo do alpendre, no pátio interior do restaurante, e ali ficava três ou quatro horas a enfardar, despachando garrafas de tinto, umas atrás doutras. Arnaldo tinha um problema: por mais que comera não engordara. Tinha físico de faquir.
Foi precisamente naquele dia e naquele local, enquanto rilhava de aperitivo uns delicados rojões de aba, aguardando a feijoada porqueira, que um matarruano de Mercedes 220 CDI e cabelo empastado de banha o abordou: “Ó Rocha, posso-me sentar. Isto é muito grave. Andam-me a foder as abóboras todas”. Arnaldo dispôs-se a ouvir, sem compromisso...
“Ó Rocha, eu sou um homem sério. Fiz-me a pulso. Se hoje sou o que sou, só a mim o devo. A mim e aos subsídios comunitários. Primeiro, era para arrancar vinha... depois, para plantar videiras... agora, abate oliveiras... depois, volta a plantar... tira o tomate... olha as quotas da batata... Às tantas a malta nem fazia nada. Era só levantar subsídios e esperar que mudassem de política, o que, felizmente, acontecia todos os anos. Agora estou nas cucurbitaceas.
Ó Rocha, ando preocupado. Comprei três hectares de aboboral. Chega-me a Julho, quando elas estão bem madurinhas, e não há abóbora que resista. Todas furadas. Violadas por trás. Impossível exportar. Têm um cheiro intenso a farinha. Mandei analisar… Os espermatozóides ainda mexiam!”
Arnaldo aceitou o caso sem pensar. Aliás, no estado em que estava aceitava qualquer coisa, inclusive outra garrafa de tinto!
(continua na 6ª feira)
jp
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