Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde Oeiras e, mais tarde Marquês de Pombal, foi o Richelieu português. Odiado por muitos, venerado por outros, ele foi o grande político do séc. XVIII. Com ele Portugal mexeu. Numas coisas bem, noutras mal. Produto típico do "século das luzes" e um estrangeirado de tendências maçónicas; absolutista convicto e adepto de Maquiavel, ele conseguiu pôr inteiramente em prática a sua concepção centralizadora de poder, nomeadamente na sequência do terramoto de 1755. O rei, D. José I, deu-lhe carta branca. Sebastião José aproveitou. Reconstruíu Lisboa em tempo recorde, deixando a malha quadriculada e moderna da Baixa e a Praça do Comércio como altar de Hiram virada ao Tejo no Cais das Colunas. Expulsou os Jesuítas (só foi pena não terem sido os padres todos!) que então detinham o monopólio do ensino escolar e começou a introduzir o método laico de Luís António Verney. Grande impulsionador da indústria, criou fábricas de sedas, lanifícios e vidro. Criou companhias monopolistas no comércio com as colónias (a exemplo dos ingleses e holandeses), destacando-se a Companhia do Grão-Pará (que não deu grandes frutos, diga-se de passagem). Criou a primeira zona demarcada de vinho no mundo, no Douro, bem como a Real Companhia das Vinhas do Alto Douro, com o monopólio da exportação. Foi também ele o responsável pela extinção (ao menos no papel) da velha distinção entre cristâos-novos (descendentes de judeus) e cristãos-velhos.
Neste dia funesto de 13 de Janeiro de 1759 foram executados o marquês e marquesa de Távora e seus filhos, Luís e José, o duque de Aveiro e o conde Atouguia, entre outros fidalgos, implicados no atentado (ou inventado!) contra a vida do rei.
D. José I, todo o dia vigiado pela rainha, tinha as noites por sua conta. Deitava-se pelas 3 e 4 da madrugada. À meia-noite chegava Sebastião José para despacho. A rainha supondo-os ocupados desarmava na vigilância. Era hora do rei partir para as suas noctívogas paródias por essa Lisboa de prazeres ocultos e inesperados. As relações amorosas com a jovem marquesa de Távora, Dª Maria Teresa, eram conhecidas. Os Távoras eram uma poderosa famíla com inúmeras ramificações e latifúndios enormes, nomeadamente na Beira Alta.
A 4 de Setembro o rei adoeceu subitamente. Logo correu o boato de que fora vítima de atentado numa das suas saídas nocturnas e que os responsáveis seriam os Távoras, talvez por desforço, talvez porque o duque de Aveiro poderia suceder ao rei que não tinha descendentes varões. A rainha assumiu a regência e Carvalho conservou-se impenetrável. Nada na corte indicava desconfiança contra os Távoras. A voz popular, instigada ou não, mantinha a acusação, indicando ainda os Jesuítas como mentores do atentado.
De repente tudo se precipitou. A 13 de Dezembro começam a ser presos fidalgos, entre eles os Távoras e o duque de Aveiro. As casa dos Jesuítas são cercadas e varejadas. Em Janeiro os detidos eram mais de mil. Não havendo provas evidentes, é um caso extraordinário de prisão por "ouvir dizer". Quem denunciou quem, é algo que os autos não dizem. As torturas começaram. Vieram as contradições e, finalmente, as confissões. O duque de Aveiro implica os Távoras. A sentença já estava traçada. Sebastião José não perdeu a oportunidade de reforçar o poder absoluto. Para ele não havia meios... Só fins!
A marquesa de Távora foi piedosamente decapitada. O seu marido e o duque de Aveiro rodados em vida (rompia-se a golpes de marreta os membros e o tórax e depois expunha-se o corpo sobre a roda). Para os demais uma pena branda: o garrote e a roda, simultaneamente. O apelido Távora ficou extinto e os sobreviventes passaram a adoptar Lorena que tinha vindo por linha femina para a família.
Desmanchado o feixe de provas, o que resta é muito pouco para que a História possa condenar os Távoras. Aliás, foram mais tarde absolvidos por um tribunal de revisão, já em período "reaccionário". O azar dos Távoras foi não terem percebido quem era e o que representava Pombal: uma ambição desmedida de modernizar Portugal à força!
jp
7 comments:
Lê-se na passada, estas suas crónicas. Informativas e levezinhas. Excelente.
Oh José Louro, as atrocidades do Marquês, mesmo na prosa elegante do nosso Expresso, são tudo menos levezinhas...
Informativas são... o peso vem do assunto e este é pesado como sabemos. A nossa História está recheada de atrocidades, consequência da época e/ou da nossa portugalidade.
O assunto tem, aliás, pano para mangas. Só que não cabiam aqui... Fica o apontamento de um homem idolatrado por uns, detestado por outros. Não há indiferentes...!
Deixa-o lá estar sossegado ao fundo do Parque Eduardo VII. Chiça, que carniceiro! A modernização, introduzida à martelada, tinha de dar os resultados que ora se verificam...
Temos por aí uns quantos políticos que só não fazem o mesmo porque não os deixam...dasssss!
Silvares: cá por mim fica sossegado. Mas é curioso que ele seja, para muita gente um sinónimo de modernidade e de determinação: o homem fez obra, dizem!
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