Por um eterno segundo a nave fica suspensa no vazio astral. A trajectória é corrigida nos limites. A nave passa a escassos oitenta quilómetros do solo lunar.
Meteoritos incandescentes brilham no esplendor da atmosfera azul-nitrogénio. Mares profundos de liquidez insondável. Opacidade baça de continentes megalíticos. Cataclismos apocaliptícos na crosta enrugada.
A Terra mantinha-se fiel à sua órbita, perdida na eternidade do oceano cósmico, navegando o sono hipnótico da circunvalação solar.
O enjoo apodera-se da tripulação na queda desgovernada perfurando a gravidade terráquea.
Arnaldo, à beira do vómito, introduz o CD com as intruções derradeiras: “Na Charola dos tabuleiros, procura a cabeça santa que há em ti”, recita a voz cava do distante Grão-Mestre. “Não confies em ninguém. Leva apenas a androide. Ela sabe o que fazer”, continua a voz. “Este CD será destruído em cinco segundos”, termina a mensagem.
Aterram aos trambulhões no aeroporto de “Figo Maduro”, ali para os lados do Prior Velho.
Aglomerados de colmeias gigantes em hexágonos de vidro espelhado. Formigueiros imponentes com elevadores e estacionamento subterrâneo. Casulos suspensos em cores berrantes, com janelas de tabuinhas. Teias cintilantes em estruturas octogonais, sobrevoando a cidade...
Famílias de baratas encaminham ordeiramente os filhos para a escola matinal; grilos falantes desfilam vaidosos pelas avenidas verde alface; aranhas de cruz tecem mudos arpejos nos jardins de pedra; comboios de centopeias transportam vermes periféricos para os escritórios da cidade; gafanhotos tatuados reúnem-se em esquinas sombrias decidindo o próximo assalto; varejeiras do tamanho de avionetas enxameiam o ar em zunido permanente; homínideos de três cabeças varrem o chão, vigiados de perto por escaravelhos rinoceronte maiores que gorilas.
Arnaldo manda parar um táxi conduzido por um corpulento bacilo de Koch. “Para Tomar”, ordena. A androide Seven aconchega-se-lhe ao ombro ossudo e geme de prazer ao ligar os sensores vaginais.
O pó que enchera a atmosfera após o conflito nuclear devolvera para o espaço a luz do Sol. A Terra arrefecera. Os animais de sangue quente que ainda restavam morreram ou entraram em mutações recessivas. Pelo contrário, micróbios e insectos não só tinham resistido, como a radiação até lhes tinha feito bem, provocando evoluções inesperadas e totalmente imprevistas pelos cientistas da “Organização”.
O repovoamento não ia ser nada fácil, pensa Arnaldo. ”Ainda bem que não é nada comigo”... e pôs-se a brincar com os silicones da androide.
Meteoritos incandescentes brilham no esplendor da atmosfera azul-nitrogénio. Mares profundos de liquidez insondável. Opacidade baça de continentes megalíticos. Cataclismos apocaliptícos na crosta enrugada.
A Terra mantinha-se fiel à sua órbita, perdida na eternidade do oceano cósmico, navegando o sono hipnótico da circunvalação solar.
O enjoo apodera-se da tripulação na queda desgovernada perfurando a gravidade terráquea.
Arnaldo, à beira do vómito, introduz o CD com as intruções derradeiras: “Na Charola dos tabuleiros, procura a cabeça santa que há em ti”, recita a voz cava do distante Grão-Mestre. “Não confies em ninguém. Leva apenas a androide. Ela sabe o que fazer”, continua a voz. “Este CD será destruído em cinco segundos”, termina a mensagem.
Aterram aos trambulhões no aeroporto de “Figo Maduro”, ali para os lados do Prior Velho.
Aglomerados de colmeias gigantes em hexágonos de vidro espelhado. Formigueiros imponentes com elevadores e estacionamento subterrâneo. Casulos suspensos em cores berrantes, com janelas de tabuinhas. Teias cintilantes em estruturas octogonais, sobrevoando a cidade...
Famílias de baratas encaminham ordeiramente os filhos para a escola matinal; grilos falantes desfilam vaidosos pelas avenidas verde alface; aranhas de cruz tecem mudos arpejos nos jardins de pedra; comboios de centopeias transportam vermes periféricos para os escritórios da cidade; gafanhotos tatuados reúnem-se em esquinas sombrias decidindo o próximo assalto; varejeiras do tamanho de avionetas enxameiam o ar em zunido permanente; homínideos de três cabeças varrem o chão, vigiados de perto por escaravelhos rinoceronte maiores que gorilas.
Arnaldo manda parar um táxi conduzido por um corpulento bacilo de Koch. “Para Tomar”, ordena. A androide Seven aconchega-se-lhe ao ombro ossudo e geme de prazer ao ligar os sensores vaginais.
O pó que enchera a atmosfera após o conflito nuclear devolvera para o espaço a luz do Sol. A Terra arrefecera. Os animais de sangue quente que ainda restavam morreram ou entraram em mutações recessivas. Pelo contrário, micróbios e insectos não só tinham resistido, como a radiação até lhes tinha feito bem, provocando evoluções inesperadas e totalmente imprevistas pelos cientistas da “Organização”.
O repovoamento não ia ser nada fácil, pensa Arnaldo. ”Ainda bem que não é nada comigo”... e pôs-se a brincar com os silicones da androide.
(continua na 3ª feira)
jp
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